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Estado de Minas

Espera por transporte chega a ultrapassar duas horas na Grande BH

Passageiros aguardam mais de duas horas por ônibus em localidades mais distantes da Grande BH. Falta de radares e quebra-molas também está na lista de queixas


postado em 08/07/2013 06:00 / atualizado em 08/07/2013 10:27

Mateus Parreiras

Wellington Dourado esperou ônibus por uma hora e meia em ponto no Bairro Monte Sinai, em Esmeraldas: 'Aqui fazem os horários que querem'(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Wellington Dourado esperou ônibus por uma hora e meia em ponto no Bairro Monte Sinai, em Esmeraldas: 'Aqui fazem os horários que querem' (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Perder o ônibus na LMG-808, entre Contagem e Esmeraldas, na Grande BH, pode significar mais do que uma espera razoável pela viagem seguinte. Ali, ônibus não respeitam horários e o intervalo entre as viagens chegam a duas horas. Nos pontos de embarque e desembarque, a passagem de veículos de grande porte levanta nuvens de poeira, o que faz moradores levarem panos para limpar o banco do ônibus antes de se sentar. O abrigo não é suficiente para proteger do sol ou da chuva. A situação ilustra problemas de transporte enfrentados por moradores de localidades mais pobres da Região Metropolitana de BH e que levaram uma parcela da população a organizar protestos por melhorias.

No Bairro Monte Sinai, em Esmeraldas, moradores relatam dificuldades. Eram 13h da última quarta-feira quando o operador de processos Wellington de Souza Dourado, de 35 anos, chegou ao ponto de ônibus do bairro. Queria aproveitar a folga do trabalho para pagar contas em Contagem. Chegou mais cedo que o previsto pelo quadro de horários dos ônibus para não ser surpreendido, mas teve de esperar por mais de uma hora para embarcar. “Aqui os ônibus fazem o horário que querem. Se você perde uma viagem fica mofando no ponto depois para conseguir outra”, disse.

Antes de descobrir que esperaria por mais de uma hora, o dia parecia de sorte para Wellington. Pouco depois de ele chegar ao ponto, um ônibus da linha 6670 (Novo Retiro/Estação Eldorado) apontou na curva ainda distante. O trabalhador fez uma expressão de alívio, sacudiu o braço para o motorista, mas o ônibus não reduziu para ele embarcar. Pelo contrário: o condutor acelerou para embalar na subida e ignorou o passageiro. “Me janelou!”, reclamou Wellingtou. A gíria é usada por passageiros quando o ônibus passa direto quando deveria ter parado. “Acontece sempre. A gente pergunta para os motoristas por que fazem isso, mas nenhum deles responde. Não têm qualquer consideração”, diz o passageiro.

Perigo

O tempo passa e quem fica sentado no abrigo tem pouco a fazer. “A gente fica aqui (no ponto) aflito, pensando se vai dar tempo de chegar no banco e pegar a agência aberta. Se vai voltar antes do jantar para fazer uns trabalhos em casa”, conta Wellington. Apesar de ser uma estrada secundária, que leva de Esmeraldas a Nova Contagem, o movimento é intenso. Em uma hora, a reportagem do EM contou 346 veículos nos dois sentidos. É como se um carro passasse por lá a cada 10 segundos. A falta de radares e quebra-molas é um dos motivos que levaram moradores de comunidades próximas a interromper a via nos últimos dias. “Passa mulher de mão dada com criança, avô carregando netinho no colo e até boiada. É muito perigoso”, conta o comerciante Alberto Danta Santana, de 66. “Outro dia atropelaram uma criança. Ela ficou internada muito tempo e depois morreu”, lembra.

Enquanto tampava o nariz e a boca com a mão e fechava os olhos por causa da poeira, Wellington viu se aproximar mais um ônibus, só que da linha 6810. Correu para embarcar no veículo, mas desistiu e desceu. “Este ônibus é R$ 5,30. Não tenho condições de pagar mais do que R$ 2,80. Vou esperar mais”, disse. Só às 14h36 chegou o ônibus da linha 6670 pelo qual Wellington aguardava havia uma hora e meia. Há casos em que a espera pode ser maior: a reportagem cronometrou intervalos de ônibus, que chegaram a uma hora e 58 minutos no caso da linha 6810. A professora Edna Rodrigues dos Santos, de 33, deixou o ônibus com a filha Luiza, de 4 anos, revoltada com a demora. “É um absurdo ficar esse tempo todo com uma criança esperando pelo ônibus, correndo risco de ser assaltada”, protestou. Ao ser perguntado se esse tipo de atraso era normal ou se algum imprevisto havia ocorrido, o motorista apenas disse que cumpriu “o horário que tinha de cumprir.”



Secretaria prepara projetos

O problema mais grave da Região Metropolitana de Belo Horizonte é a ocupação desordenada dos territórios, na opinião do secretário de Gestão Metropolitana, Alexandre Silveira. “Isso de certa forma é o componente que torna todas as demais demandas mais difíceis de ser sanadas. Como levar transportes a áreas distantes e asfaltar ruas que não têm saneamento básico? Por isso é a questão primordial”, afirma. Uma das formas de resolver isso, de acordo com ele, é fortalecer outras cidades, dando opções para resolução de problemas e serviços fora da capital mineira. “No vetor Norte isso vem ocorrendo graças à Cidade Administrativa, à Linha Verde e ao aeroporto internacional de Confins. Estamos com planejamentos para fazer o mesmo no Vetor Oeste, (Ribeirão das Neves, Esmeraldas, Contagem e Betim), Leste (Ravena, Caeté) e Sul (Nova Lima).”

A secretaria propõe ainda outros dois projetos. Um deles é o Trem, que pretende aproveitar ramais ferroviários entre Divinópolis e Sete Lagoas, BH e Brumadinho, além de Betim e Contagem. Este último pode sair no ano que vem, dependendo de acordo com o governo federal em reunião marcada para amanhã. A transferência ao estado dos serviços de recebimento de lixo também está acertada entre as 13 maiores cidades da Grande BH e deve ter as primeiras licitações até o fim deste ano.

Procuradas, as prefeituras de Ribeirão das Neves, Esmeraldas e Contagem culpam administrações anteriores por boa parte dos problemas. No caso do Bairro Tupã, a Prefeitura de Contagem informa que acelerou o projeto de construção de posto de saúde previsto no orçamento participativo de 2009. Sem saneamento pela Copasa, não há como o município asfaltar as ruas. A Copasa, por sua vez, informa estudar intervenções para o local. No caso do Bairro Santana 2, em Ribeirão das Neves, a companhia afirma que os reparos necessários foram feitos no esgoto da Rua 1 e que haverá vistorias. A prefeitura informa que a coleta é regular, mas que os moradores não colaboram e espalham o lixo de forma desordenada. O município informa estar pleiteando verbas federais para asfaltamento na comunidade.

A Prefeitura de Esmeraldas afirmou que aguarda os planos de saneamento da Copasa para asfaltar o Bairro Palmital. De acordo com a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, os intervalos a que os passageiros têm sido submetidos na LMG-808, que chegam a quase duas horas, são justificáveis pela demanda, considerada pequena. As condições dos abrigos e pontos de embarque e desembarque serão analisadas. A secretaria espera que com a implantação do sistema BRT e das estações metropolitanas haja maior comodidade e eficiência no transporte metropolitano.

Alzerina Gomes, de 70 anos, tem asma e reclama de dificuldade de atendimento no Bairro Tupã, em Contagem(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Alzerina Gomes, de 70 anos, tem asma e reclama de dificuldade de atendimento no Bairro Tupã, em Contagem (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Moradores cobram melhorias na saúde


Há dois anos, a doméstica Alzerina Maria Gomes, de 70 anos, perdeu o marido, Orlando. Moradora do Bairro Tupã, em Contagem, ela conta que a saúde dele piorava ao longo dos anos até que, sem acompanhamento médico, sentiu uma pontada no peito e começou a passar mal. “Foi uma correria danada e ninguém para acudir meu marido. Não tem posto de saúde aqui e na unidade (de saúde da família) não tinha médicos nem enfermeiras”, lembra. “Meu marido morreu dentro de casa. Mas o nosso choro não serviu para mudar nada. Para conseguir atendimento, só com ônibus ou carona até o Centro de Contagem ou bairros por perto”, reclama Alzerina, que é hipertensa e asmática.

Desde 2009, os habitantes do Bairro Tupã esperam pela construção de um posto de saúde, que foi proposta vencedora do orçamento participativo de 2009. O terreno está pronto, dentro da área da escola municipal. Como o projeto ainda não saiu do papel, a população recorre ao atendimento de uma unidade de saúde da família, onde ficou combinado que o médico iria duas vezes por semana. Na última quarta-feira, quando a reportagem esteve no bairro, ninguém prestava atendimento. Segundo os pacientes, nenhum profissional apareceu durante a semana.

Debilitada por conta de insuficiência renal crônica, a dona de casa Maria das Graças Gonçalves, de 61, não consegue mais subir a ladeira entre sua casa e o ponto de ônibus que a levaria para fazer hemodiálise no Bairro Eldorado, também em Contagem. Como as condições dela são delicadas e não há médicos no posto de saúde, a solução foi a Secretaria Municipal de Saúde de Contagem treinar o marido dela para fazer a hemodiálise em casa. José Fernandes Gonçalves, de 68, trata da mulher com cuidado, mas Maria das Graças, que faz o tratamento deitada na cama do casal, acredita que seria importante ter atendimento especializado. “Aqui tinha de ter médicos para acompanhar a gente de perto”, cobra.


Palavra de especialista
Conurbações são problema

Paulo Eduardo Borges
Professor do Cefet e doutorando em análise ambiental pela UFMG
“Temos uma evolução sanitária considerável na Região Metropolitana de Belo Horizonte, mas há locais onde a situação é de calamidade, principalmente em Ribeirão das Neves e em Esmeraldas. Como não houve planejamento para a ocupação dos terrenos, não há também estruturas como saneamento básico e serviços como transporte e saúde. Apesar da evolução no saneamento básico, estamos distantes de uma posição razoável no que diz respeito ao tratamento do esgoto lançado. As conurbações são outro grave problema na RMBH: uma cidade emenda na outra e ninguém sabe a qual prefeitura deve recorrer para fazer reivindicações.”


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