Árvores, canteiros de flores, bancos de jardim e demais equipamentos de três espaços públicos de Belo Horizonte têm agora a companhia surpreendente de notas musicais, teclados e, claro, muita gente apta a mostrar seu talento ou curiosa em aprender. Três pianos fazem parte do cenário da Avenida Bernardo Monteiro, no Bairro Funcionários, Praça do Papa, no Mangabeiras, e da Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza. Os instrumentos ganharam a simpatia dos moradores e, não raro, há alguém “catando” o teclado, admirando quem é “cobra criada” ou dedilhando composições clássicas e até sucessos da banda inglesa Coldplay. Na tarde de ontem, depois de uma reunião com músicos e técnicos, a direção da Fundação Municipal de Cultura (FMC) da Prefeitura de Belo Horizonte anunciou que apoia o projeto e dará a ele um formato, com extensão, inclusive, para outros espaços da cidade.
Na quinta-feira, às 16h, na praça de Santa Tereza, o piano ganhará um auxílio luxuoso. Haverá um ensaio aberto sob o comando do guitarrista Toninho Horta e presença do grupo As Cores do Clube, integrado por músicos que construíram a história do movimento Clube da Esquina, como Telo Borges e as famílias continuam mostrando seus talentos, como os Guedes (Gabriel e Ian Guedes), os Borges (Rodrigo Borges) e os Tiso (com Tutuca). Na quinta-feira passada, quem passou pelo local assistiu a um show intimista, quando não faltaram Trem azul, Aqui, oh e Paisagem da janela.
O despertar
Na tarde de ontem, o bacharel em direito Rodrigo Baptista Soares de Souza, de 32, morador do Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste, escutava atentamente o filho Eduardo Soares Tonon, de 6. “Ele tem vindo aqui todas as tardes e está gostando da novidade. Nunca teve contato com o instrumento e estou pensando em matriculá-lo numa escola especializada”, disse Rodrigo, sentado num banco a dois metros do filho. O piano, com estrutura de madeira, fica debaixo de uma árvore, está acorrentado ao tronco, assim como os demais, e tem uma lona preta para protegê-lo. A exposição ao tempo preocupa os frequentadores da praça. Formado em teatro, Rafael Mourão, de 25, tocou uma valsa ao lado da filha Ana Flor, de 3, vestida de Branca de Neve. “O problema é a chuva, mas só de estar aqui incentiva a cultura, pois nem todo mundo tem um piano em casa”, observou.
Na Avenida Bernardo Monteiro, na esquina com Rua Padre Rolim, os jardineiros Flávio Pereira, de 30, e Michel Ângelo, de 25, deram um tom maior à tarde de BH. “Eu nunca havia chegado perto de um piano. É um instrumento muito caro, mas estou me acostumando”, disse Flávio, que vem recebendo algumas lições do colega de trabalho. “Eu toco cavaquinho, gosto de cordas. Mas meu pai toca teclado, então eu sei um pouco”, contou Michel Ângelo, ouvindo o amigo dar uns acordes de uma canção do canadense Bryan Adams. “Essa iniciativa valoriza as artes”, disse a ceramista Ana Queiroz, que passava pela avenida e se sentiu seduzida pela nova atração do espaço público.
Ao pé da Serra do Curral, a Praça do Papa também juntou fãs em volta do piano, que, sobre o gramado, estava sem a banqueta. E qual o problema? O estudante de direito Brenno dos Reis Pereira Neto, de 23, morador do Bairro Sion, na Centro-Sul, se agachou e tocou a música Clocks, do Coldplay. “Na casa dos meus avós tinha um piano e eu brincava nele quando criança. Aprendi um pouco. Esta tarde está sendo um retorno à infância”, contou o estudante. Ao lado, o também futuro advogado Pietro Viguetti, de 20, morador de Nova Lima, gostou do que ouviu e aplaudiu o projeto cultural.