Começa na próxima semana a dragagem de sedimentos e lixo do fundo da Lagoa da Pampulha, um dos processos previstos pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para tentar despoluir até a Copa do Mundo de 2014 o reservatório, que é um dos símbolos da capital mineira. Cerca de 800 mil metros cúbicos de material depositado no leito contaminado serão removidos por dragas flutuantes em oito meses de trabalho, de acordo com técnicos do Grupo Ambitec, contratado para o trabalho. Dessa forma, o término da ação fica estimado para fins de março ou início de abril.
Para que se tenha uma ideia, o material que será removido ao custo de R$ 108 milhões representa 8% do volume total da represa (10 milhões de metros cúbicos). Especialistas alertam, no entanto, que apenas essa medida não será suficiente para melhorar o aspecto da lagoa, sendo ainda necessários o tratamento da água previsto pela PBH e a interceptação pela Copasa de esgotos clandestinos lançados na bacia hidrográfica.
Com objetivo de fazer o desassoreamento, por trás das árvores e do mato que cresceu em um dos trechos do leito sedimentado da Lagoa da Pampulha operários se desdobram para montar os equipamentos e encanamentos trazidos da Alemanha. O maquinário que mais chama a atenção é o desidratador. O equipamento é do tamanho de um prédio de três andares e serve para separar a água do material sólido sugado do fundo do lago. Composta por 10 módulos metálicos – entre tubos e registros que precisaram ser transportados cada um em uma carreta –, a aparelhagem é capaz de separar até 1.700 metros cúbicos de detritos da água, por hora, ou cerca de 70 carretas em 60 minutos, se operar sem interrupções.
Enquanto um guindaste iça as peças para o desidratador, tratores e uma escavadeira preparam os espaços para os dutos que chegarão à lagoa, devolvendo a água sem sólidos. Nivelam também outra parte que servirá para encher caminhões com o material removido do lago. O destino dos veículos de carga é o aterro municipal da BR-040, no Bairro Califórnia, Região Noroeste de BH.
A retirada do material sedimentado no fundo da lagoa será feita por dragas flutuantes, semelhantes a balsas, mas com tubulações que percorrerão o fundo sugando pedras, lodo, pneus e lixo depositado ao longo dos anos. Os barcos são ligados ao desidratador por uma série de tubulações que permitem que se desloquem pelo espelho d’água, como se fossem aspiradores de piscinas em escala gigantesca. Duas dessas estruturas já estão posicionadas na parte do Parque Ecológico voltada para a lagoa. “Temos contrato para remover 800 mil metros cúbicos. Para isso serão necessárias mais de duas dragas, mas não sabemos ainda quantas ao todo. Vamos usar o que for necessário para cumprir o serviço”, afirma o engenheiro responsável pela operação do sistema, Fábio Suzuki. Ao todo, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) estima ser necessário implantar seis quilômetros de tubulações.
De acordo com o mestre em ecologia aquática e consultor de recursos hídricos Rafael Resck, a remoção dos sedimentos que acumulam material orgânico em decomposição poderá melhorar um pouco o aspecto turvo e o mau cheiro que exala da lagoa. “Um problema que ocorre quando tratamos da água, mas não dos sedimentos, é que ocorre uma recirculação do material em decomposição, que contamina a água novamente. Sugando a primeira camada de sedimentos do fundo, isso poderá ser minimizado”, avalia. Porém, tudo pode ser perdido se outros trabalhos de prevenção não forem feitos, como o monitoramento e a conservação das margens dos córregos tributários da Pampulha. “Esse volume a ser retirado equivale a cerca de dois anos de lançamentos de sólidos dissolvidos na água, que causam assoreamento. Enquanto houver ocupações irregulares e atividades que causem erosão de margens, o processo persistirá e essas medidas não passarão de paliativos”, alerta o especialista.
Vídeo mostra uma das dragas instaladas na lagoa
Veja a poluição em um dos pontos da Lagoa da Pampulha
Veja a poluição em um dos pontos da Lagoa da Pampulha