Jornal Estado de Minas

Corrida pelo desrespeito

Equipe do EM flagra desrespeitos em cruzamentos da Região Centro-Sul

Motoristas não só ignoram as faixas de pedestres como aceleram sobre elas acima do limite de velocidade permitido na via

Mateus Parreiras
Condutor ignora parada obrigatória na Savassi e corre cerca de 15% a mais do que o máximo tolerado - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press


A placa indicativa de parada obrigatória e a pintura no asfalto são claras: ao descer o tobogã da Avenida do Contorno e ingressar na Rua Antônio de Albuquerque, rumo à Rua Professor Moraes, na Savassi, Centro-Sul de Belo Horizonte, o condutor deve reduzir a velocidade, parar e permitir a passagem de pedestres e automóveis que cruzam a viaMas é como se as indicações não existissem para a maioria dos motoristasEm apenas cinco minutos no local, a equipe do Estado de Minas registrou carros acelerando a quase 70 km/h, superando em 15% o limite de velocidade no localSituações que levam os veículos que têm preferência e cruzam a Contorno a reduzir para não bater e os pedestres a ficarem acuados na calçadaApesar de autoridades e especialistas em trânsito afirmarem que só campanhas educativas e fiscalização poderiam mudar esse comportamento, as iniciativas deste ano nesse sentido não produziram efeito sensível.

A própria BHTrans admite que a campanha “Pedestre: eu respeito”, lançada em março, por enquanto obteve resultados “aquém do esperado” pelos diretores da empresa“Tínhamos de ter mais pessoalNossa equipe ainda é pequena e por isso estamos presentes, em dois turnos, em apenas quatro interseções, até março do ano que vemÉ muito poucoNem dá para perceber direito”, admite a diretora de Sistema Viário, Jussara BellavinhaA ação tem verba prevista de R$ 600 mil para todo o ano, do R$ 1 milhão de custos que envolvem parceiros como a Secretaria Municipal de Saúde de BH e empresas voluntárias da sociedade civil.

Para que o alcance aumente, a diretora estima ser necessário triplicar investimentos e pessoalAtualmente são 60 estagiários e 10 monitores, divididos em dois turnos de trabalho

Neste mês, a ação é desenvolvida no Barro Preto, Região Centro-Sul da capitalPerguntada se as crescentes receitas com a arrecadação de radares não poderiam ser usadas para ampliar os recursos da iniciativa, a diretora refuta a ideia“Essa campanha é só uma das nossas ações educativasTemos outras, com a dos motociclistas, que são nosso calcanhar de aquiles no que se refere a acidentes de trânsito, e uma cobertura muito grande no ensino das escolas, que chega a 100% em dois anos no ensino fundamental”, disseA diretora afirma, ainda, que não tem aumentado tanto a arrecadação com os radares, já que os aparelhos não têm sido mais instalados e houve muitos deles danificados durante as manifestações que ocorreram na Copa das Confederações.

O vandalismo durante o evento esportivo também é apontado pelo comando do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) – responsável pelo policiamento das vias da capital – como motivo pelo qual a corporação não conseguiu cumprir sua parte na campanha, que seria aumentar a fiscalização para inibir atropelamentos e acidentes“Devido às manifestações, tivemos de deslocar boa parte do nosso efetivo para acompanhar as marchas que envolviam milhares de pessoas, muitas vezes em pontos distintos e por longos trechosTivemos de dar prioridade a isso”, disse o comandante em exercício do BPTran, major Jeancarlos Pereira Barbosa

Enquanto isso, locais como o cruzamento das Ruas Piumhi e Francisco Deslandes, no Bairro Carmo, registram total desrespeito ao pedestreNesse cruzamento, como constatou o EM, se um veículo diminui um pouco mais a velocidade fazendo menção de respeitar a sinalização de parada obrigatória, já é pressionado por buzinas de quem vem atrásMotocicletas ultrapassam os veículos pelos dois lados, tornando-se armadilhas para os pedestres que tentem correr para passar
“O trânsito aqui é horrorosoOs motoristas ignoram nossa preferênciaMinha irmã voltou agora da Finlândia e conta como a simples aproximação de uma pessoa a pé é suficiente para todos os veículos pararem e esperarem até que o pedestre atravesse”, conta o advogado Guilherme de Barros Brandão, de 31, que mora na região e caminha frequentemente por lá.

Hospitais

Nem na região hospitalar, onde a campanha da BHTrans começou, as regras são mais respeitadasNo cruzamento das avenidas Alfredo Balena e Pasteur, mesmo que o condutor resolva parar para dar preferência aos pedestres, quem caminha corre risco de ser atropelado, já que outros carros tentam ultrapassar pelas marcações zebradas, criando uma pista que não existeNo local, ontem, um caminhão que entregava andaimes em uma construção ainda estacionou sobre a marcação de “pare” no pavimento e bloqueou a visão da placa que determina a parada obrigatória, confundindo ainda mais quem passava a pé e condutores

“As campanhas, como as vejo ocorrer, ainda são muito restritasDeveriam ser massificadas e diáriasSó assim se muda a consciência das pessoas e se traz mais segurança para o trânsito”, considera o presidente da Associação Mineira de Medicina de Tráfego e representante da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Fábio Nascimento.

 

Sinal vermelho

O resultado de cinco minutos próximo a faixas de pedestres em cruzamentos com placa de “pare”

» Rua Francisco Deslandes com Piumhi (Carmo)

Respeitaram a sinalização
3 (5,5%)

Desrepeitaram a placa
52 (94,5%)

Deram preferência ao pedestre
0

Não deram preferência ao pedestre 17 (100%)

» Rua Antônio de Albuquerque quase esquina de Avenida do Contorno e Rua Ceará (Savassi)

Respeitou a sinalização:
1 (1,7%)

Desrepeitaram a placa
59 (98,3%)

Deram preferência ao pedestre
4 (23,5%)

Não deram preferência ao pedestre 13 (76,5%)

» Avenida Alfredo Balena com Avenida Pasteur (região hospitalar)

Respeitaram a sinalização
6 (21,5%)

Desrepeitaram a placa
22 (78,5%)

Deram preferência ao pedestre
2 (22,2%)

Não deram preferência ao pedestre 7 (77,8%)