A moradia em endereço estratégico, no Centro de Belo Horizonte, sempre foi uma facilidade para a estudante de design Mariane de Oliveira, de 22 anos. Mas tornava-se um problema quando o assunto era conseguir um táxi. A jovem, que há uma semana se mudou de um apartamento na Rua São Paulo com Avenida Afonso Pena, lembra bem a dificuldade para usar o serviço, mesmo tendo um ponto diante de casa. Na maioria das vezes ela precisava do serviço para ir à rodoviária, já que é do interior de Minas e viaja muito. A complicação era o trajeto: um trecho de aproximadamente 500 metros. “Nenhum taxista que estava na fila me levava, mesmo sendo à noite e estando cheia de malas. Eles negavam na cara dura e alguns ainda diziam: ‘A rodoviária é logo ali. Vai a pé.’ De vez em quando eu achava um bonzinho e dava sorte de ser atendida.” A situação vivida por Mariane ilustra bem a autonomia dos taxistas para escolher por onde e com quem querem rodar e quanto querem receber pela corrida.
No Bairro Buritis, Região Oeste da capital, alunos do Colégio Magnum também sofrem com as negativas dos taxistas quando precisam do serviço para um trecho de aproximadamente um quilômetro. A distância é entre a escola, no número 850 da Rua José Hemérito Andrade, e o restaurante onde muitos costumavam almoçar, na Avenida Mário Werneck, altura do número 1.500. “Dividíamos o táxi na volta do almoço, porque a rua é muito íngreme. Mas a gente só conseguia ir se entrássemos no táxi sem dizer o destino. Se falássemos, o motorista desconversava e dizia que tinha outro cliente para atender”, relata o estudante Gabriel Ribeiro, de 19 anos. A corrida, segundo ele, não ultrapassava R$ 6. “Íamos em grupo de quatro pessoas e saía cerca de R$ 1,50 para cada um. O problema era conseguir um taxista que quisesse levar.”
O problema ocorre até mesmo no terminal Conexão Aeroporto, onde a fiscalização da BHTrans está presente. Ao solicitar o serviço do local até a Praça da Estação, a equipe de reportagem do Estado de Minas não enfrentou dificuldade, mas soube da prática por um deles. O taxista conta que há colegas que recusam o atendimento ao cliente quando ele vai para locais próximos ao terminal ou para bairros da Região Centro-Sul. “Tem motorista que não aceita a corrida e passa para frente. Outros até xingam o cliente”, conta. De acordo com o taxista, a categoria sabe que a prática é proibida, mas muitos assumem o risco porque ficaram muito tempo parados na fila e não querem ter prejuízo.
Teste
O EM foi às ruas testar o atendimento do serviço de táxi e ouviu muitas desculpas para recusas de atendimento. Um dos taxistas, parado no primeiro lugar da fila na Avenida Afonso Pena com Avenida Amazonas, na Praça Sete, se recusou a seguir três quarteirões adiante e orientou a equipe a tomar um táxi fora da fila, já que a corrida não compensava para ele. “O taxímetro não vai nem virar direito. Para a gente que fica esperando aqui é prejuízo. Dá para ir andando”, recomendou.
Em outro caso, o taxista ainda sugeriu outro meio de transporte, dessa vez entre a Praça da Bandeira e a Avenida do Contorno, um trecho de aproximadamente um quilômetro. “Vou ser bem sincero com você: pega o táxi-lotação, que vai ficar mais barato. Para a gente não é vantagem fazer essa corrida”, disse.
Há no entanto quem leve à risca o regulamento da BHTrans para atender sempre bem o cliente. Um deles conduziu a equipe por um trecho de pouco mais de um quilômetro. No meio do caminho, afirmou que prefere fazer muitas corridas curtas a ficar parado por muito tempo no ponto à espera de uma corrida longa. “A gente não sabe onde estão os passageiros das corridas mais caras. Estamos na praça para rodar e atender todos”, relatou.
É PROIBIDO RECUSAR
Portaria da BHTrans proíbe a rejeição de corridas. Veja como se proteger
» A regra
O taxista que recusar atendimento ao usuário com a justificativa de corrida curta pode ser punido de acordo com o Regulamento do Serviço Público de Táxi (Portaria BHTrans 190/2008). A irregularidade é uma infração do grupo 3 e gera multa de R$ 108,04.
» Como denunciar
O passageiro que tiver uma corrida rejeitada deve ligar no Disque 156, informar data, local, placa do veículo e, se possível, o nome do condutor, cuja permissão fica afixada no painel do veículo.
» A punição
Permissionário e o motorista auxiliar são convocados a comparecer à BHTrans para esclarecer a ocorrência. Comprovada a recusa, podem ser aplicadas as seguintes penalidades:
Multa a partir da primeira incidência
Suspensão a partir da terceira incidência
Abertura de processo administrativo
Pontuação no prontuário do taxista
OBS: Ao deixar de atender pela segunda vez a convocação da BHTrans o taxista está sujeito a cassação do registro de condutor ou cassação da permissão, conforme apuração em processo administrativo