Jornal Estado de Minas

Evento na capital mostra que é possível andar de bike em todas as ocasiões

Ciclistas elegantemente vestidos dizem que é possível andar de bike para trabalhar, ir a uma festa, se divertir.

Valquiria Lopes Elian Guimarães*
Vestidos com roupas que remetiam o estilo belle époque, ciclistas pedalaram pelas ruas do Bairro Funcionários até a Praça Duque de Caxias, no Santa Tereza: ideia é mostrar que existe cultua além do mountain bike - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Você costuma ir para o trabalho ou se divertir usando terno e gravata ou salto alto e maquiagem? Agora abra mão do carro particular, do transporte público e siga de bicicleta com esse figurinoAcha difícil? A combinação tem ainda como desafio o relevo de Belo Horizonte, com subidas e descidas acentuadas, que fazem suar a camisaExige também habilidade para equilibrar-se no vai e vem intenso de carros, ônibus e motosO trajeto pode ser, no mínimo, arriscadoConsiderada estranha por muita gente, a prática de usar a bike para ir ao cinema, restaurante ou a uma festa de aniversário foi apresentada ontem à cidade por um grupo de ciclistasVestidos elegantemente e munidos de acessórios como pulseiras, chapéus e colares, eles pedalaram pelas ruas da capital em um trecho de 10 quilômetros.

O evento leva o nome de Tweed Ride, em referência a um passeio com roupas de lã, típicas da estação de inverno“A ideia é mostrar que existe outra cultura de bicicleta diferente do mountain bikeAs pessoas não precisam usar somente roupas de esporte para pedalarPodem andar arrumadas, elegantes e, ainda assim, saírem de bicicleta”, conta a linguista Renata Aiala, uma das organizadoras do passeioAmante da magrela, Renata pedala cerca de 10 quilômetros diariamente no trajeto de ida e volta entre sua casa, no Bairro Santa Tereza (Leste), e o Bairro de Lourdes (Centro-Sul), onde trabalhaVai de camiseta em dias de calor e não se intimida com a falta de banheiro para se refrescar na hora da chegada
“Lavo as mãos e o rostoTambém tenho uma técnica para não chegar muito suada e esbaforidaQuando estou me aproximando do local onde vou parar, diminuo a velocidade”, revela

Renata Aiala vai da casa para o trabalho: 10 Km pedalando - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PressO passeio de ontem começou com um piquenique na área externa do Museu Mineiro, na Avenida João Pinheiro, no Bairro FuncionáriosDe lá, os pedalantes seguiram por trechos com e sem ciclovias até a Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa TerezaA cidade, que tem meta para chegar a 380 quilômetros de faixas exclusivas para bicicletas até 2020, conta hoje com 52,8 quilômetros de rotas cicláveis

Em uma tarde agradável, com temperatura amena do inverno belo-horizontino e um belo jardim, o piquenique foi regado a uma boa conversa, além de um saboroso cardápio que incluía sucos, frutas, sanduíches e salgadosA primeira edição do evento foi um sucesso, segundo a coordenadora do Museu Mineiro, Andreia Debernardi“É uma prática comum em todo o mundo aproveitar os espaços verdes e o compartilhamos agora com o movimento de pedalar com elegância.”

SEM FANTASIA
O convite para o evento que reuniu ciclistas de toda a cidade foi inspirado na obra do artista Márcio Sampaio, que reproduz um piqueniqueA elegância da roupagem, a beleza da bicicleta antiga levou a estudante de design Andrea Cópio a comparecer ao museu
“Ando muito de bicicleta e isso me levou a conhecer os coordenadores desse eventoAcho que essa é uma forma de quebrar o paradigma de que para pedalar é preciso se fantasiar de ‘ciclista’É um meio de transporte também para todas as ocasiões.”

Um piquenique foi realizado nos jardins do Museu Mineiro - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PressAs amigas Cleuza Marinho, representante cultural da Procuradoria da Fazenda, e Cristina Coutinho Marinho, bibliotecária, garantiram que levaram pouco tempo na produção das roupas que remetiam ao estilo belle époque das décadas de 40 e 50, entretanto estavam impecáveis nas roupas vindas há 40 anos de Paris, assim como a sombrinhaExibiam charme e elegância pelos jardinsRenata Aiala, uma das organizadoras, afirmou que o Tweed Ride se repetirá no inverno de cada ano.

Adeptos cobram mais respeito

A falta de faixas exclusivas para ciclistas é um incômodo para quem pedala, mas não um empecilhoComo afirma a linguista Renata Aiala, uma das organizadoras do Tweed Ride, é preciso estar atento e respeitar o lado direito da via para trafegarÀ noite, é importante que o ciclista sinalize sua presença no trânsito por meio de luzes

Por outro lado, os ciclistas cobram mais respeito de motoristas, motociclistas e pedestres“Não estamos invadindo o espaço dos carrosTemos o direito de andar pela via e precisamos ter esse direito preservadoQuanto maior for o número de bicicletas na rua, melhor será o trânsito da cidade”, lembra

Ainda assim é preciso ter cuidado, já que os ciclistas são parte frágil no trânsitoQuedas e acidentes envolvendo bicicletas estão entre os cinco atendimentos mais frequentes no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIIIBalanço parcial do HPS mostra que, de janeiro a julho de 2012, último dado disponível, 736 pacientes foram socorridos em decorrência de acidentes ciclísticosEm 2011, foram 1.229 pessoas atendidas por esse motivo, uma média de mais de três pacientes por dia(VL)

Palavra de
especialista

Silvestre de Andrade Puty Filho, engenheiro civil e mestre na área de transportes

Pedalar em BH ainda é desafio

“É possível usar a bicicleta em Belo Horizonte para as atividades diárias como ir ao trabalho ou para passear, principalmente porque a cidade vem adotando um modelo de trânsito com espaço para elaMas há alguns cuidados que devem ser adotados para não se expor a riscosNa hora de programar o trajeto, escolha caminhos mais tranquilos, que seguem por fundos de vale e com menos subidas fortesA escolha da bicicleta também é importanteAs de marcha facilitam os deslocamentos em BH, onde as condições topográficas não são tão favoráveis à pedaladaTambém é importante estar bem equipado e se fazer visto por motoristas, motociclistas e pedestresAndar de bicicleta na cidade ainda é um desafio, pois existem poucas ciclovias e a bike é um elemento novo no cenário urbanoAté há pouco tempo, a conotação dada à bicicleta era de uso para o mountain bike ou para o lazerNo máximo, para deslocamentos próximos de casaMas a capital mineira caminha para uma revitalização dos transportes e o uso da bicicleta está cada vez mais disseminadoIniciativas que incentivem a bicicleta são muito bem-vindas e podem contribuir para uma mudança de cultura.”