Você costuma ir para o trabalho ou se divertir usando terno e gravata ou salto alto e maquiagem? Agora abra mão do carro particular, do transporte público e siga de bicicleta com esse figurino. Acha difícil? A combinação tem ainda como desafio o relevo de Belo Horizonte, com subidas e descidas acentuadas, que fazem suar a camisa. Exige também habilidade para equilibrar-se no vai e vem intenso de carros, ônibus e motos. O trajeto pode ser, no mínimo, arriscado. Considerada estranha por muita gente, a prática de usar a bike para ir ao cinema, restaurante ou a uma festa de aniversário foi apresentada ontem à cidade por um grupo de ciclistas. Vestidos elegantemente e munidos de acessórios como pulseiras, chapéus e colares, eles pedalaram pelas ruas da capital em um trecho de 10 quilômetros.
O evento leva o nome de Tweed Ride, em referência a um passeio com roupas de lã, típicas da estação de inverno. “A ideia é mostrar que existe outra cultura de bicicleta diferente do mountain bike. As pessoas não precisam usar somente roupas de esporte para pedalar. Podem andar arrumadas, elegantes e, ainda assim, saírem de bicicleta”, conta a linguista Renata Aiala, uma das organizadoras do passeio. Amante da magrela, Renata pedala cerca de 10 quilômetros diariamente no trajeto de ida e volta entre sua casa, no Bairro Santa Tereza (Leste), e o Bairro de Lourdes (Centro-Sul), onde trabalha. Vai de camiseta em dias de calor e não se intimida com a falta de banheiro para se refrescar na hora da chegada. “Lavo as mãos e o rosto. Também tenho uma técnica para não chegar muito suada e esbaforida. Quando estou me aproximando do local onde vou parar, diminuo a velocidade”, revela.
O passeio de ontem começou com um piquenique na área externa do Museu Mineiro, na Avenida João Pinheiro, no Bairro Funcionários. De lá, os pedalantes seguiram por trechos com e sem ciclovias até a Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza. A cidade, que tem meta para chegar a 380 quilômetros de faixas exclusivas para bicicletas até 2020, conta hoje com 52,8 quilômetros de rotas cicláveis.
Em uma tarde agradável, com temperatura amena do inverno belo-horizontino e um belo jardim, o piquenique foi regado a uma boa conversa, além de um saboroso cardápio que incluía sucos, frutas, sanduíches e salgados. A primeira edição do evento foi um sucesso, segundo a coordenadora do Museu Mineiro, Andreia Debernardi. “É uma prática comum em todo o mundo aproveitar os espaços verdes e o compartilhamos agora com o movimento de pedalar com elegância.”
SEM FANTASIA O convite para o evento que reuniu ciclistas de toda a cidade foi inspirado na obra do artista Márcio Sampaio, que reproduz um piquenique. A elegância da roupagem, a beleza da bicicleta antiga levou a estudante de design Andrea Cópio a comparecer ao museu. “Ando muito de bicicleta e isso me levou a conhecer os coordenadores desse evento. Acho que essa é uma forma de quebrar o paradigma de que para pedalar é preciso se fantasiar de ‘ciclista’. É um meio de transporte também para todas as ocasiões.”
As amigas Cleuza Marinho, representante cultural da Procuradoria da Fazenda, e Cristina Coutinho Marinho, bibliotecária, garantiram que levaram pouco tempo na produção das roupas que remetiam ao estilo belle époque das décadas de 40 e 50, entretanto estavam impecáveis nas roupas vindas há 40 anos de Paris, assim como a sombrinha. Exibiam charme e elegância pelos jardins. Renata Aiala, uma das organizadoras, afirmou que o Tweed Ride se repetirá no inverno de cada ano.
Adeptos cobram mais respeito
A falta de faixas exclusivas para ciclistas é um incômodo para quem pedala, mas não um empecilho. Como afirma a linguista Renata Aiala, uma das organizadoras do Tweed Ride, é preciso estar atento e respeitar o lado direito da via para trafegar. À noite, é importante que o ciclista sinalize sua presença no trânsito por meio de luzes.
Por outro lado, os ciclistas cobram mais respeito de motoristas, motociclistas e pedestres. “Não estamos invadindo o espaço dos carros. Temos o direito de andar pela via e precisamos ter esse direito preservado. Quanto maior for o número de bicicletas na rua, melhor será o trânsito da cidade”, lembra.
Ainda assim é preciso ter cuidado, já que os ciclistas são parte frágil no trânsito. Quedas e acidentes envolvendo bicicletas estão entre os cinco atendimentos mais frequentes no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII. Balanço parcial do HPS mostra que, de janeiro a julho de 2012, último dado disponível, 736 pacientes foram socorridos em decorrência de acidentes ciclísticos. Em 2011, foram 1.229 pessoas atendidas por esse motivo, uma média de mais de três pacientes por dia. (VL)
O evento leva o nome de Tweed Ride, em referência a um passeio com roupas de lã, típicas da estação de inverno. “A ideia é mostrar que existe outra cultura de bicicleta diferente do mountain bike. As pessoas não precisam usar somente roupas de esporte para pedalar. Podem andar arrumadas, elegantes e, ainda assim, saírem de bicicleta”, conta a linguista Renata Aiala, uma das organizadoras do passeio. Amante da magrela, Renata pedala cerca de 10 quilômetros diariamente no trajeto de ida e volta entre sua casa, no Bairro Santa Tereza (Leste), e o Bairro de Lourdes (Centro-Sul), onde trabalha. Vai de camiseta em dias de calor e não se intimida com a falta de banheiro para se refrescar na hora da chegada. “Lavo as mãos e o rosto. Também tenho uma técnica para não chegar muito suada e esbaforida. Quando estou me aproximando do local onde vou parar, diminuo a velocidade”, revela.
O passeio de ontem começou com um piquenique na área externa do Museu Mineiro, na Avenida João Pinheiro, no Bairro Funcionários. De lá, os pedalantes seguiram por trechos com e sem ciclovias até a Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza. A cidade, que tem meta para chegar a 380 quilômetros de faixas exclusivas para bicicletas até 2020, conta hoje com 52,8 quilômetros de rotas cicláveis.
Em uma tarde agradável, com temperatura amena do inverno belo-horizontino e um belo jardim, o piquenique foi regado a uma boa conversa, além de um saboroso cardápio que incluía sucos, frutas, sanduíches e salgados. A primeira edição do evento foi um sucesso, segundo a coordenadora do Museu Mineiro, Andreia Debernardi. “É uma prática comum em todo o mundo aproveitar os espaços verdes e o compartilhamos agora com o movimento de pedalar com elegância.”
SEM FANTASIA O convite para o evento que reuniu ciclistas de toda a cidade foi inspirado na obra do artista Márcio Sampaio, que reproduz um piquenique. A elegância da roupagem, a beleza da bicicleta antiga levou a estudante de design Andrea Cópio a comparecer ao museu. “Ando muito de bicicleta e isso me levou a conhecer os coordenadores desse evento. Acho que essa é uma forma de quebrar o paradigma de que para pedalar é preciso se fantasiar de ‘ciclista’. É um meio de transporte também para todas as ocasiões.”
As amigas Cleuza Marinho, representante cultural da Procuradoria da Fazenda, e Cristina Coutinho Marinho, bibliotecária, garantiram que levaram pouco tempo na produção das roupas que remetiam ao estilo belle époque das décadas de 40 e 50, entretanto estavam impecáveis nas roupas vindas há 40 anos de Paris, assim como a sombrinha. Exibiam charme e elegância pelos jardins. Renata Aiala, uma das organizadoras, afirmou que o Tweed Ride se repetirá no inverno de cada ano.
Adeptos cobram mais respeito
A falta de faixas exclusivas para ciclistas é um incômodo para quem pedala, mas não um empecilho. Como afirma a linguista Renata Aiala, uma das organizadoras do Tweed Ride, é preciso estar atento e respeitar o lado direito da via para trafegar. À noite, é importante que o ciclista sinalize sua presença no trânsito por meio de luzes.
Por outro lado, os ciclistas cobram mais respeito de motoristas, motociclistas e pedestres. “Não estamos invadindo o espaço dos carros. Temos o direito de andar pela via e precisamos ter esse direito preservado. Quanto maior for o número de bicicletas na rua, melhor será o trânsito da cidade”, lembra.
Ainda assim é preciso ter cuidado, já que os ciclistas são parte frágil no trânsito. Quedas e acidentes envolvendo bicicletas estão entre os cinco atendimentos mais frequentes no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII. Balanço parcial do HPS mostra que, de janeiro a julho de 2012, último dado disponível, 736 pacientes foram socorridos em decorrência de acidentes ciclísticos. Em 2011, foram 1.229 pessoas atendidas por esse motivo, uma média de mais de três pacientes por dia. (VL)
Palavra de
especialista
Silvestre de Andrade Puty Filho, engenheiro civil e mestre na área de transportes
Pedalar em BH ainda é desafio
“É possível usar a bicicleta em Belo Horizonte para as atividades diárias como ir ao trabalho ou para passear, principalmente porque a cidade vem adotando um modelo de trânsito com espaço para ela. Mas há alguns cuidados que devem ser adotados para não se expor a riscos. Na hora de programar o trajeto, escolha caminhos mais tranquilos, que seguem por fundos de vale e com menos subidas fortes. A escolha da bicicleta também é importante. As de marcha facilitam os deslocamentos em BH, onde as condições topográficas não são tão favoráveis à pedalada. Também é importante estar bem equipado e se fazer visto por motoristas, motociclistas e pedestres. Andar de bicicleta na cidade ainda é um desafio, pois existem poucas ciclovias e a bike é um elemento novo no cenário urbano. Até há pouco tempo, a conotação dada à bicicleta era de uso para o mountain bike ou para o lazer. No máximo, para deslocamentos próximos de casa. Mas a capital mineira caminha para uma revitalização dos transportes e o uso da bicicleta está cada vez mais disseminado. Iniciativas que incentivem a bicicleta são muito bem-vindas e podem contribuir para uma mudança de cultura.”
especialista
Silvestre de Andrade Puty Filho, engenheiro civil e mestre na área de transportes
Pedalar em BH ainda é desafio
“É possível usar a bicicleta em Belo Horizonte para as atividades diárias como ir ao trabalho ou para passear, principalmente porque a cidade vem adotando um modelo de trânsito com espaço para ela. Mas há alguns cuidados que devem ser adotados para não se expor a riscos. Na hora de programar o trajeto, escolha caminhos mais tranquilos, que seguem por fundos de vale e com menos subidas fortes. A escolha da bicicleta também é importante. As de marcha facilitam os deslocamentos em BH, onde as condições topográficas não são tão favoráveis à pedalada. Também é importante estar bem equipado e se fazer visto por motoristas, motociclistas e pedestres. Andar de bicicleta na cidade ainda é um desafio, pois existem poucas ciclovias e a bike é um elemento novo no cenário urbano. Até há pouco tempo, a conotação dada à bicicleta era de uso para o mountain bike ou para o lazer. No máximo, para deslocamentos próximos de casa. Mas a capital mineira caminha para uma revitalização dos transportes e o uso da bicicleta está cada vez mais disseminado. Iniciativas que incentivem a bicicleta são muito bem-vindas e podem contribuir para uma mudança de cultura.”