Jornal Estado de Minas

Fícus dão primeiros sinais de reação ao tratamento na Avenida Bernado Monteiro

Paula Sarapu
Novas folhas indicam resposta dos espécimes às medidas adotadas - Foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press
Quase duas semanas depois da última aplicação do inseticida orgânico óleo de nim nos fícus da Avenida Bernardo Monteiro, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de BH, já é possível perceber que muitas folhas rebrotam nas árvores doentes, trazendo esperanças em relação ao tratamentoOs novos galhos crescem principalmente no entorno das armadilhas instaladas contra as moscas-brancas, a praga que ameaça quase 250 árvores na cidadeAs placas adesivas de cor amarela, do tamanho de meia folha de papel A4, há um mês e meio funcionam como um pega-inseto e continuarão a ser usadas a longo prazoO próximo passo é a adubação, para fortalecer o soloNa semana que vem, os técnicos começam a coletar amostras das folhas e da terra para fazer as análises necessárias e identificar quais nutrientes estão faltando nos espécimesA aplicação de suplementos deve começar no período de chuvas, em meados de setembro, para facilitar o processo de absorção.


Segundo o agrônomo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente Dani Sílvio, que coordena o grupo de trabalho de tratamento dos fícus, a infestação da praga já é bem baixa e a queda das folhas ocorre muito mais pelo clima seco do que pela ação das moscas-brancasEle considera que o tratamento foi eficaz até agora, embora não consiga garantir que as árvores estejam salvas para sempre“Não sabemos o que vai acontecer daqui para frente, mas esses brotos representam o controle do inseto e o sucesso do tratamento”, afirmou o especialista“Por mais transtorno que a população tenha enfrentado, o principal ganho foi a não intervenção contra a árvorePodamos aquelas cujos galhos ofereciam risco de queda”

Antes de iniciar a aplicação do óleo de nim, que precisou ser autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porque normalmente a substância só é usada em áreas rurais, as árvores da Avenida Bernardo Monteiro e da Avenida Barbacena receberam adubo para fortalecer as paredes das células e provocar dificuldade para que a praga conseguisse sugar o alimento

“Por isso não adiantava entrar naquele momento com a adubação de nutrientesComo a quantidade de moscas era muito grande, o excesso de nutrientes na seiva beneficiaria muito mais o inseto e não tanto a árvore”, explicou Dani, lembrando que seis árvores da Bernardo Monteiro e oito da Barbacena não receberam tratamento porque já estavam mortas

Sentado à sombra dos fícus da área hospitalar, o professor de biologia aposentado José da Piedade e Silva fazia palavras cruzadas enquanto aguardava o conserto do carro em uma oficinaEle acompanhou pelo noticiário as etapas do tratamento das árvores, desde que o município decretou situação de emergência, e torcia para que não fossem derrubadasQuando chegou à praça ontem à tarde, chamaram sua atenção as que estavam cortadas, mas ele percebeu também as armadilhas e os galhos com folhas verdes“BH tem uma história triste de devastação na Afonso Pena, por causa de infestação de praga, na década de 60Normalmente, os gestores minimizam os fatos achando que ninguém se importaFico satisfeito de que a solução tenha sido inteligente, correta e ecológica, longe do machado e da motosserra.”


Aplicações devem ser estendidas


A estimativa é de que haja em Belo Horizonte cerca de 12 mil fícus, espécie marcada pelo grande porteA Secretaria Municipal de Meio Ambiente identificou 246 árvores doentes na cidade, 14 delas com indicação de corteA maior parte das afetadas, 125, se concentra no Parque Municipal Lagoa do Nado, na Região Norte, que já recebeu a primeira dose do óleo de nim
Nas avenidas Bernardo Monteiro e Barbacena, eram previstas três aplicações do inseticida orgânico e duas de fungo entomopatogênico, que funciona como um agente de controle biológico, mas a boa resposta e a redução da quantidade de moscas- brancas permitiu diminuir o número de aplicaçõesForam duas de óleo de nim e uma de fungoNo Parque Municipal, onde a infestação é muito baixa, o tratamento será feito para evitar o aumento da praga

Segundo o agrônomo Dani Sílvio, a secretaria já identificou a doença também em árvores na Região Oeste da cidade, com infestação menor, mas que deverão receber o mesmo cuidado“Temos um calendário de açõesPrimeiro fizemos a poda daquelas que ofereciam risco, depois aplicamos o óleo e agora vamos fortalecer o soloO monitoramento, depois disso, deverá ser constanteNão sei se as árvores serão salvas, mas o tratamento está sendo eficiente.”


SAIBA MAIS: o inimigo

Os primeiros exemplares da mosca-branca-do-fícus foram detectados nas árvores de Belo Horizonte há um anoA praga milimétrica atingiu árvores nas regionais Leste e Centro-Sul, o que fez com que a prefeitura criasse uma comissão especial, formada por profissionais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Defesa Civil e outros órgãos, para encontrar uma solução para o problemaPodas preventivas foram realizadas nos primeiros meses do ano, mas a demora para a liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária do uso do óleo de nim acabou atrasando o tratamentoEm abril, o Ministério Público estadual chegou a entrar na discussão e cobrou esclarecimento sobre os critérios adotados para a realização das podas e possíveis supressões.