“Me ameaçaram de morte se eu fizesse alguma coisa. E levaram o carregamento de tênis.” Quem relata os momentos de medo é o caminhoneiro Rodrigo Rodrigues Pinto, de 53 anos. Um bandido armado abordou Rodrigo quando ele se preparava para entrar no centro de distribuição de uma empresa no Bairro Nacional, em Contagem, com o equivalente em R$ 100 mil em pares de tênis e sapatos. “Outro bandido chegou de moto e os dois me puseram no baú do caminhão. Disseram para eu sair só depois de 15 minutos”, lembra o caminhoneiro. O tempo foi suficiente para os ladrões levarem a carga de tênis femininos, avaliada em R$ 35 mil.
“Nesse tipo de crime, as quadrilhas são altamente especializadas. E quanto mais elas se especializam, mais a Polícia Civil tem que intensificar ações”, reconhece o delegado Hugo Arruda. Segundo o policial, dois equipamentos têm sido usados com mais frequência. Um deles é o jammer, aparelho responsável por bloquear o sinal de GPS entre os veículos e as centrais de monitoramento contratadas pelas transportadoras. Em um segundo momento, os bandidos usam um dispositivo chamado popularmente de vassoura. Ele descobre onde está instalado o rastreador, que é retirado da carga. O uso dos dois equipamentos foi confirmado em um caso recente. Uma carga de medicamentos avaliada em R$ 1,6 milhão que tinha sido desviada em Caratinga, no Vale do Rio Doce, foi apreendida pela polícia em Juiz de Fora, na Zona da Mata.
Bloqueador
Motoristas profissionais também confirmam a utilização de tecnologia avançada por parte de bandidos em rodovias do país. Abordado pela reportagem do Estado de Minas em um restaurante da Fernão Dias, em Betim, Leonardo Walz, de 30, disse que foi vítima de roubo no ano passado com uso de bloqueador de sinal numa estrada do Rio de Janeiro. “Um carro parou um carro entre meu caminhão e a escolta e um aparelho desligou meu rastreador na hora”, conta. “Um homem apontou uma espingarda para mim e me mandou descer”, completa.
Diante da sofisticação das quadrilhas, o delegado Hugo Arruda admite que o trabalho de investigação demanda mais tempo. “São muitos indivíduos e cada um exerce uma função”, afirma. Por sua vez, o consultor técnico do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Minas Gerais (Setcemg), Luciano Medrado, informou que um grupo de trabalho foi criado no ano passado para discutir medidas para combater o roubo de cargas e lidar com quadrilhas que usam tecnologia. Segundo ele, o principal desafio é buscar informações para fomentar o trabalho de inteligência da polícia. “Os bandidos contam sempre com informações privilegiadas”, diz.
Saiba mais
Rastreamento interrompido
As quadrilhas especializadas em roubo de carga usam a tecnologia a seu favor. Com um aparelho conhecido como jammer (foto acima), o sinal de GPS emitido por caminhões para uma central de rastreamento que acompanha o trajeto é bloqueado. Em seguida, o equipamento usado é a vassoura, que funciona como um detector de metais à procura do rastreador no meio da carga, que é descartado depois de encontrado. Segundo transportadoras, mesmo
com o desenvolvimento de rastreadores mais potentes, há bloqueadores que podem ser comprados no mercado paralelo.