Jornal Estado de Minas

Táxis de BH driblam o Mineirão cheio

Com estádio lotado, torcedores dizem ser difícil conseguir carro. Na final da Libertadores, houve quem esperasse mais de três horas. Alguns motoristas admitem que evitam região

Jorge Macedo - especial para o EM

Valquiria Lopes e Tiago de Holanda

- Foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press


Dentro da arena, a emoção do futebolFora dela, a agonia para achar um táxiEssa é a retrato em dias de jogos com Mineirão lotado segundo belo-horizontinos que frequentam o estádio desde sua reabertura, em fevereiroSe ontem torcedores que foram ao clássico entre Cruzeiro e Atlético encontraram táxis na saída – o público foi de 35 mil pessoas –, na final da Libertadores, quarta-feira, houve quem levasse mais de três horas para achar um carroA situação foi confirmada por taxistasProfissionais ouvidos pelo Estado de Minas admitem evitar o Mineirão em dia de eventos mais concorridos, inclusive em dias de show, por conta das dificuldades para chegar e sair do estádioEles cobram medidas para aumentar a mobilidade.

Na quarta-feira, quando quase 60 mil pessoas foram ao Mineirão, muitos torcedores, orientados pela BHTrans a evitar ir de carro ao estádio, tiveram problemas para achar táxiOs irmãos Patrícia Laender Freitas, de 16 anos, e Breno, de 15, e o namorado de Patrícia, Caique França, de 18, só conseguiram encontrar um veículo livre por volta das 4h, três horas e meia depois do fim do jogo“Foi desesperador”, resume a estudante“O movimento na Avenida Antônio Carlos foi acabando, estava escuro e não havia policiamento”, completaSegundo ela, os ônibus passavam lotados, com torcedores surfando no teto
“Os poucos táxis que passavam estavam ocupados”, lembra.

Situação difícil foi vivida também pela professora Lívia Figueiredo Américo, de 31, e por sua famíliaEles estavam em um grupo de nove pessoas e tiveram que apelar para o motorista de uma Kombi clandestina que ofereceu transporte"O homem perguntou se queríamos uma viagem quando nos viu andando pela Antônio CarlosJá passava das 3h30 e tínhamos andado até o Hospital Belo Horizonte”, conta LíviaA distância entre o estádio e a unidade hospitalar é de aproximadamente oito quilômetros“Já havíamos tentado de tudo: liguei para cooperativas de táxis e as atendentes informavam que não havia carros disponíveis”, conta“O que mais me chocou é que nem mesmo ônibus dava para pegar”, acrescenta ela, que garante: nunca mais tentará pegar táxi na saída do Mineirão quando tiver de ir ao estádio

Torcedores que foram ao estádio ontem para o clássico também disseram que é comum enfrentar dificuldades Morador do Caiçara, o empresário Marcel Telles, de 32, já planejava caminhar na saída do jogo e pegar táxi no Shopping Del Rey, a três quilômetros dali“Para voltar é difícil achar táxi
Já tentei pedir por telefone, mas falam que vão mandar e nunca chegaUma vez, fiquei mais de uma hora esperando e nada”, diz“Tinham que melhorar o acesso ao estádioO trânsito fica caótico e os taxistas ficam presos em engarrafamentos”, completa.

Frota

Se todos que lotassem o Mineirão resolvessem voltar de táxi, não haveria carros para todos: apenas 10% do total de 60 mil torcedores seria atendidoA frota de táxi da capital é de 6.517 veículos, incluindo as últimas permissões licitadas este anoMas a quantidade de carros não é o principal problema, na avaliação do taxista Douglas Gonçalves, de 24 anos“Muitos motoristas de táxi não vêm à Pampulha nos dias de jogos ou shows por causa do congestionamentoEles preferem rodar no Centro, onde há passageiros e o trânsito está livre, a vir para a Pampulha e ficar parado no engarrafamento com uma corrida”, diz ele, que costuma parar no ponto da Alameda Ipê Branco, a cerca de um quilômetro do MineirãoDouglas afirma que na final da Libertadores chegou a ficar preso por 40 minutos em um trecho da Avenida Antônio Carlos, ao tentar chegar ao estádioAgoniados, os passageiros desistiram e terminaram o percurso a pé“Ficar parado em engarramento é prejuízo”, reclama.

O taxista José Roberto Mascalli, de 56, também reconhece que evita circular na região do estádio depois dos jogos“Para vir é tranquilo na maioria das vezes, mas na volta é raro que eu venha pegar passageirosO trânsito é muito ruim e a gente perde muito tempo até conseguir chegar e ir embora”, afirmaEle diz também temer confusão na saída de jogos“Um torcedor provoca o outroUma vez quase atingiram meu carro com uma pedradaÀs vezes, se venho pegar alguém, não tem onde parar e ainda corro o risco de ser multado”, acrescenta

Carona

No caso do advogado Flávio Poli, de 32, que foi à final da Libertadores com o irmão e a cunhada, o jeito foi apelar para carona“Imaginei que, por ter tanta gente no jogo, os taxistas aumentariam o atendimentoFoi o contrário’, afirmaO grupo precisou andar do estádio até a altura do 3º Batalhão do Corpo de Bombeiros, na Antônio Carlos, já no Bairro São FranciscoAinda assim, não conseguiu pegar um táxi“Tivemos que pedir carona para um rapaz que estava sozinho no carroEle ia para o Bairro Padre Eustáquio, mas para nos ajudar nos deixou próximo à Avenida Paraná, no CentroCheguei em casa às 4hFoi muito desgastante”, contaO advogado espera que autoridades tomem providências para resolver o problema.

 

Pedido por mais faixas exclusivas

 

A implantação de uma operação específica de trânsito para dar prioridade a táxis no entorno do Mineirão é apontada por especialista e por alguns taxistas como uma saída para aumentar a oferta de transporte em dias de jogos lotados Para o professor Nilson Tadeu Nunes, do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da UFMG, é viável que uma faixa da Avenida Abrahão Caram – que dá acesso ao Mineirão – seja reservada para táxis “Dessa forma, eles conseguiriam chegar ao estádio e não apenas às vias do entorno”, considera“A BHTrans faz operações de trânsito o tempo todo e tem condições de fazer essa também”, acrescenta

O professor disse ter vivido o problema em um jogo da Copa das Confederações“Vi as pessoas disputando táxi a tapaEntendo que na Copa é preciso manter o perímetro de segurança e os táxis não podem chegar ao estádio, mas em dias de jogos normais é possível montar uma operação prioritária para o serviço”, afirma NunesEle considera o problema sério, que deve ser tratado com atenção por autoridades

Taxistas aprovam a ideia de criar faixas exclusivas“É lógico que assim os motoristas vão querer atender o Mineirão”, disse o condutor Douglas Gonçalves, de 24Por sua vez, o taxista Edson Dias, de 60, cobra também pontos com espaço para que filas de táxi sejam formadas“É muito difícil pegar passageiros na saída dos jogos, não tem nem onde pararSe bobear a gente leva multa”, avalia“Prefiro recusar chamados para pegar passageiros aqui depois dos jogosO tumulto é tanto que fica difícil encontrar o passageiro que chamou o táxi”, afirma Dias, que cedeu ao pedido de um casal de passageiros, de outra cidade, e combinou de pegá-lo depois do clássico de ontem entre Cruzeiro e Atlético “Espero que dê para esperá-los no local combinado”.

Negociação

A BHTrans informou, por meio de nota, que pedidos de faixa preferencial para acesso e saída do Mineirão em eventos de grande porte pode ser feita pelos taxistas e pelo sindicato da categoria, desde que seja agendada uma reunião com a empresa para debater o assuntoAinda segundo a nota, em dias de jogos e eventos no Mineirão são realizadas reservas de área para que os veículos do serviço de táxi possam aguardar os passageiros após o eventoNo último jogo, no final da Libertadores, foram três, informa a BHTrans
A empresa que gerencia o transporte e trânsito na capital afirmou ainda incentivar o uso do transporte coletivo para eventos de grande porte no estádio e que nas últimas ocasiões ofereceu o serviço de transporte com linhas executivas, com compra antecipada do cartão de embarqueNos dias de jogos, segundo a nota, a empresa garante aos usuários linhas especiais para atendimento exclusivo do torcedor, segundo a notaProcurados, representantes do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais, não retornaram as ligações da reportagem.