Espécie corresponde um quarto das mudas produzidas pelo Jardim Botânico - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press
O nome tem origem tupi e quer dizer árvore cascuda, mas poderia perfeitamente significar árvore floridaReis absolutos da temporada, Belo Horizonte só tem olhos para os ipêsCarregados de flores, eles quebram a monotonia urbana e conferem um toque de romantismo à capital mineiraO destaque vai para os ipês-roxos-de-bola, no auge de sua floração, que vai de julho a agostoNo fim de tarde, agraciados pela luz amarelada do inverno, a paisagem se transforma em um show à parteA boa notícia é que, em alguns anos, a cidade deverá estar tomada por ainda mais ipês.

Isso porque a espécie corresponde atualmente a um quarto das mudas produzidas pelo Jardim Botânico de Belo Horizonte, voltadas somente para a arborização da capitalDo total de 9 mil mudas ao ano, cerca de 2,2 mil são exclusivamente seis espécies de ipês"São dois roxos, um rosa, dois amarelos e um brancoÉ uma árvore excelente para a arborização urbanaNão causa problemas com o meio-fio, é boa do ponto de vista paisagístico, tem crescimento rápido", afirma o diretor do Jardim Botânico, Gladstone Araújo.

De forma geral, os ipês ocorrem principalmente em florestas tropicais, mas podem também aparecer de forma exuberante no cerrado e na caatingaPor causa dessa característica, explica Araújo, a árvore é muito bem adaptada à capital mineira, situada numa área de transição entre a mata atlântica e o cerrado

A desvantagem, segundo ele, é a queda rápida das flores"Quanto mais seco e mais frio, mais intensa a floraçãoNo entanto, quando chegam ao seu auge de floração, duram somente 15 dias", afirmaMas, como a floração de cada espécie predomina em uma época, é possível apreciar a beleza dos ipês ao longo do segundo semestrePor enquanto, quem domina a paisagem é o ipê-roxo-de-bolaRecheado de pequenos buquês arredondados e nenhuma folha verde, ele tem a capacidade de transformar ambientesA Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, se converte num grande jardim suspensoA Avenida Brasil, cheia de árvores do tipo, deixa de ser somente uma avenida de capital e se eleva a um corredor de floresO mesmo pode ser visto na Avenida Cremona, no Bairro Bandeirantes, na PampulhaPela crendice popular, eles são também um alerta meteorológicoHá quem diga que, quando as flores caem, é sinal de que a chuva vai começar.

PARA ADMIRAR É só olhar para um ipê florido que brota na pedagoga Ilva Figueiredo, de 36 anos, a vontade de ver o tempo pararNem sempre isso acontece, mas, mesmo de dentro do ônibus ou do carro, a árvore já dá um toque de poesia ao cotidiano"Na correria do dia a dia, a gente acaba nem olhando para cimaMas quando vejo um ipê cheio de flor, a minha vontade é parar tudo e ficar olhandoOs ipês são um convite à reflexão, deixam a cidade mais romântica e agradável", afirma.

Tão romântica que o canadense Nicholas Green, de 25, diante de um exemplar carregado de flores na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, até cogitou comprar uma muda da planta para dar à namorada"Só dei uma flor para elaQuem sabe não a presenteio com uma árvore?", diz o professor de inglêsBrincadeiras à parte, Nicholas, que mora no Brasil há três anos, conheceu a espécie típica do país em BH e se encantou por sua beleza, uma inspiração para as fotografias"Subindo a rua, via a árvore e o pôr-do-solEstava muito bonito, muito bonito mesmoVárias pessoas estavam tirando fotos", conta.

Épocas do ano em que cada tipo de ipê floresce

Ipê-amarelo da mata (Handroanthus serratifolius): agosto a novembro
Ipê-branco (Handroanthus roseo-albus): julho e setembro
Ipê-roxo-de-bola (Handroanthus impetiginosus): julho e agosto
Ipê-roxo (Handroanthus avellanedae): agosto e setembro
Ipê-roxo-sete-folhas (Handroanthus heptaphyllus): junho a setembro
Ipê-tabaco do cerrado (Handroantus chrysotrichus)*: julho e agosto

Símbolo nacional

Em 1961, o então presidente Jânio Quadros declarou o ipê-amarelo, da espécie Tabebuia vellosoi, a flor nacional, tornando-a símbolo do paísOs ipês pertencem à família das bignoniáceas, da qual faz parte o jacarandáSão um grupo de cerca de 10 espécies de árvores com características semelhantes de flores brancas, amarelas, rosas, roxas ou lilásSua madeira foi muito usada na construção de telhados de igrejas dos séculos 17 e 18Nas matas, as árvores chegam a 30 metros de altura; nas cidades, de 8 a 10 metros, ideais para o paisagismoO ipê-amarelo foi declarado árvore de preservação permanente e imune de corte em Minas Gerais pela Lei Estadual nº 9.743, de 1988.