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Estado de Minas

Protestos em 15 cidades de Minas ainda não surtiram resultado esperado

Maioria das reivindicações ainda não foi atendida pelos governantes


postado em 05/08/2013 00:12 / atualizado em 05/08/2013 07:47

Moradores de bairro em Congonhas fecharam a BR-040 por várias vezes, mas a passarela que lhes daria mais segurança continua sendo apenas uma promessa(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Moradores de bairro em Congonhas fecharam a BR-040 por várias vezes, mas a passarela que lhes daria mais segurança continua sendo apenas uma promessa (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


Na beira do acostamento, a menos de 20 metros do ponto de ônibus do outro lado da BR-040, um grupo de trabalhadores de camisas azuis ensaia várias vezes a travessia, mas recua na última hora com a passagem de carretas em alta velocidade. O ruído alto dos pneus e as cruzes de madeira fincadas no mato intimidam quem perde a paciência e pensa em cruzar a via no meio dos veículos. “Precisamos com urgência de uma passarela. Faz pouco mais de um ano (19 de junho de 2012) que minha vizinha, Maria de Firmino da Silva, de 25 anos, morreu atropelada. Um carro ultrapassou outro, que reduziu por causa do radar, e a pegou”, conta o apontador Jorge Cândido Batista, de 22, um dos operários de camisa azul que se arrisca todos os dias ao sair do distrito de Pires, em Congonhas do Campo, a 89 quilômetros de BH, para pegar um ônibus. A indignação dos moradores da comunidade culminou com o bloqueio da rodovia em 3 de julho, por mais de nove horas, durante as manifestações ocorridas em meio à Copa das Confederações. Um carro tentou furar o bloqueio e foi incendiado. Mas, como ocorreu com a maioria das manifestações em Minas Gerais, a solução para esse problema ainda figura no campo das promessas.

A reportagem do Estado de Minas relacionou as reivindicações de moradores de áreas sem infraestrutura e de usuários insatisfeitos com transporte, saúde e educação em 15 cidades onde foi necessária negociação com o poder público (Belo Horizonte, Betim, Congonhas do Campo, Contagem, Divinópolis, Esmeraldas, Juiz de Fora, Manhuaçu, Mateus Leme, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, São Joaquim de Bicas, Vespasiano e Viçosa), montando uma lista com as 34 exigências que os manifestantes apresentaram aos gestores públicos e prestadoras de serviços, como as empresas de ônibus. Dessas, a maior parte ainda é promessa, somando 11 (32%) solicitações. Compromissos futuros, alguns com previsão de cumprimento, outros dependendo de aprovações de leis no Congresso, na Assembleia Legislativa (ALMG) ou em programas de governo com linhas de financiamento público.

O restante das demandas se divide entre sete pedidos que foram atendidos, seis ainda em análise, cinco em cumprimento e o mesmo número de propostas rechaçadas por justificativas diversas, como falta de necessidade ou de viabilidade. No caso de Congonhas, negociadores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) se comprometeram a erguer uma passarela provisória até que uma obra definitiva fosse projetada, mas até agora os moradores afirmam que nem sequer as medições foram feitas.

Asfaltar vias, criar redes de drenagem, coletar esgoto, instalar pontos de ônibus e iluminar as ruas estão entre as promessas feitas ante a pressão dos manifestantes que queimaram pneus e interromperam o tráfego de rodovias da Grande BH, provocando quilômetros de engarrafamentos. E foi por isso que os moradores do Bairro Santana 2, em Ribeirão das Neves, engrossaram os protestos na BR-040. As ruas de terra batida não têm esgoto canalizado, a coleta é irregular e para sair de casa os moradores tiveram de construir pinguelas toscas de madeira que acabam levadas pelas enxurradas. “Não veio ninguém da prefeitura aqui fazer nada. A coleta de lixo continua falha, com animais mortos fedendo e trazendo mais bichos para dentro das nossas casas. O esgoto na porta da gente corre dentro do córrego e traz mau cheiro e doenças”, reclama a dona de casa Nice das Dores Silva, de 30 anos.

Condição decente

Mãe de seis filhos, um deles com sete meses de vida, Nice diz ter sido duro ver as crianças adoecendo com o tempo, sem poder fazer nada por elas. “É uma tristeza essa condição nossa aqui. Todos os meus filhos pegaram doenças de pele, micoses e feridas. É impossível tirar eles de perto dessa água podre. Quando chove a água entra em casa, acaba com os mantimentos e móveis da gente”, lamenta Nice. “Já pensei até em me mudar, mas com o que valem esses nossos barracos aqui não dá para comprar nada. A gente fica revoltada, esperando que se tomem providências para ter uma condição decente de vida”, disse a também moradora do Santana 2, Mariana Soares, de 24, mãe de dois filhos, de 4 anos e de 1 ano e meio.

A situação precária no Bairro Tupã, em Contagem, ficou evidente em 1º de julho, quando cerca de 400 pessoas foram à LMG-808, altura do km 5, no Bairro Darcy Ribeiro, para exigir melhorias. O esgoto da comunidade corre a céu aberto, cruzando praticamente todas as ruas da região e até cerca a única escola municipal existente. Asfalto, drenagem e iluminação eficientes ainda são promessas no Jardim Daliana, em Vespasiano, onde manifestantes fecharam a MG-010 e a MG-424, e no Novo Retiro, em Esmeraldas, que teve bloqueios por protestos na LMG-808. Por causa da falta de pavimentação, as ruas de terra se transformam em nuvens de poeira no tempo seco e em lamaçais pelos quais os veículos não conseguem atravessar durante o tempo chuvoso. Embarcar para pegar ônibus é ficar exposto ao pó e ao tempo, já que os abrigos são velhos e ineficientes.

Outra morte na BR-040

No início da noite de ontem, uma pessoa morreu atropelada no km 602 da BR-040, no Bairro Pires, em Congonhas. Indignados, moradores bloquearam a estrada nos dois sentidos e fizeram uma barricada com pneus, protestando contra a falta de segurança para os pedestres no trecho. O local foi palco de vários protestos em junho e julho, com os manifestantes exigindo a construção de uma passarela.

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