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Estado de Minas

Caminho das obras do BRT é risco para moradores de BH

Combinação de obras por toda a parte, tráfego pesado de veículos e pessoas, sinalização ruim e imprudência faz dos canteiros do BRT armadilhas para pedestres, motoristas e operários


postado em 06/08/2013 06:00 / atualizado em 06/08/2013 06:41

 

Funcionários de empreiteiras acabam atuando como guardas de trânsito para orientar veículos e pedestres no entorno das construções(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Funcionários de empreiteiras acabam atuando como guardas de trânsito para orientar veículos e pedestres no entorno das construções (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 

Com um apito na boca e gesticulando com seu macacão vermelho, o operário Lúcio Pedro Martins tenta desesperadamente chamar a atenção de um homem de idade distraído. A passos lentos, o idoso entrou por engano no canteiro de obras do corredor de transporte rápido por ônibus (BRT na sigla em inglês) entre a Rua dos Caetés e a Avenida Paraná, no Centro de BH, no início da tarde de ontem. Como não escutou a sinalização e continuou andando pelo terreno esburacado, em que operam escavadeiras e caminhões, o trabalhador precisou sair correndo, desviou dos pedestres e obrigou ônibus e motocicletas a frear de repente para lhe dar passagem, até conseguir, enfim, segurar o homem pelo pulso e explicar que o local é proibido para pedestres. “É este sufoco todo dia. Um perigo danado. Se deixar a entrada sem vigia, as pessoas entram mesmo e podem se machucar feio, por causa das máquinas pesadas”, desabafa o operário responsável pelos acessos ao canteiro de obras. A declaração explica por que as intervenções de mobilidade que tornaram o tráfego em Belo Horizonte ainda mais lento trazem também riscos de morte e ferimentos para pedestres, motoristas e para os próprios operários. Ameaças agravadas pela má sinalização, desrespeito a regras de circulação e soluções precárias para corredores temporários de pedestres e carros.

Imagens de motos invadindo espaços restritos, trabalhadores sem equipamentos individuais de proteção em plena área de intervenções e pedestres empurrados para o asfalto se tornaram rotina no Centro de BH(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Imagens de motos invadindo espaços restritos, trabalhadores sem equipamentos individuais de proteção em plena área de intervenções e pedestres empurrados para o asfalto se tornaram rotina no Centro de BH (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Desde maio foram pelo menos dois mortos e dois feridos com gravidade nas proximidades desse tipo de atividade. Em 2 de maio, a auxiliar de serviços gerais Fernanda Francisca Alves Pereira dos Santos, de 22 anos, foi atropelada e morta quando passava por uma área de obras na Avenida Antônio Carlos. O motorista estava embriagado. Na mesma avenida, na última sexta-feira, um operário morreu e outro ficou ferido no canteiro de obras do BRT, depois que um carro perdeu o controle e os atingiu. Horas antes, na madrugada, o motorista Leonardo Alves de Souza, de 31, morreu quando o Fiat Palio que conduzia pela BR-356, no Belvedere, invadiu uma área de recapeamento. Ele atropelou um trabalhador, que ficou ferido, e só parou quando atingiu a traseira de um caminhão.

Mas é no Hipercentro que a mistura de trânsito intenso – estimado pela BHTrans em 700 mil veículos por dia –, o tráfego de 1,5 milhão de pessoas, de acordo com a PM, e as obras pesadas de pavimentação e construção de estações traz mais situações de perigo. Entre as avenidas Santos Dumont, Paraná, Rua dos Caetés e o entorno da rodoviária, pedestres e trabalhadores se misturam, chegando a trombar uns com os outros, principalmente nos corredores de passagem criados com o fechamento de passeios nas ruas Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Operários que trabalham nas construções dos corredores de transporte público disputam esses mesmos espaços empurrando carrinhos de mão com brita, geradores, ferramentas e pedaços de madeira.

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Ontem, em um dos corredores mais movimentados, na Rua Curitiba, um trabalhador carregava perigosamente seus instrumentos de trabalho entre as pessoas. As lâminas de uma pá e de um enxada passavam rentes às canelas dos pedestres. Na Rua dos Caetés eram as pontas de britadeiras e de ripas de madeira transportadas pelos operários que cruzavam os espaços muito próximos de quem caminhava.

Tropeços

Por causa de situações como essas, muita gente que passa no local e até pedreiros com utensílios usados nas obras preferem enfrentar o tráfego pesado na pista de rolamento e se arriscam entre carros, motos e ônibus. “Não dá para passar dentro dessas cercas, porque é muita gente ao mesmo tempo. Preciso atravessar a rua (dos Caetés) e por isso fui para o meio do asfalto. A gente sabe que é perigoso, porque os ônibus passam muito perto, mas tem que ter a obra e a gente tem de trabalhar”, disse o vendedor Ricardo Martins, de 50 anos, pouco depois de ter se espremido numa fila indiana formada por pedestres que invadiram a rua em vez de utilizar o corredor delimitado por telas.

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O piso desnivelado de algumas passagens e buracos no caminho trazem riscos de tropeços e impedem o deslocamento de pessoas com dificuldade de locomoção. Nos corredores construídos com placas de zinco, a falta de reposição de peças que estão muito amassadas ou soltas representa risco de cortes e perfurações por pontas enferrujadas e ressaltos. Na entrada da Avenida Santos Dumont, além de os pedestres invadirem a área exclusiva de trabalhadores, motocicletas sobem nos passeios para chegar a estacionamentos mesmo com as placas que indicam ser proibido passar por lá.

A equipe do Estado de Minas esteve nos maiores canteiros de obras de mobilidade para a Copa do Mundo de 2014 e em todos era fácil perceber que dificilmente os operários usavam os equipamentos de proteção individual obrigatórios: bota, óculos, capacete, luvas e protetores de ouvido. Nas obras do BRT da Região Central havia quem estivesse trabalhando entre máquinas pesadas e áreas de soldas em telhados de estações sem qualquer tipo de itens de segurança.

 

 

 

 


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