(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Homens revelam o desafio de ser pai e mãe

Trajetórias de homens que perderam as esposas e se viram diante da missão de educar filhos pequenos mostram a força e a superação de quem não teve tempo de se abalar com a dor


postado em 11/08/2013 06:00 / atualizado em 11/08/2013 07:41

Viúvo aos 38 anos, Zenon não se intimidou com a criação de três meninas e um menino(foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)
Viúvo aos 38 anos, Zenon não se intimidou com a criação de três meninas e um menino (foto: MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS)

 

“Pãe” de quatro filhos
 

A tranquilidade com que Zenon Barbosa dos Santos, de 61 anos, fala da criação dos filhos dá até a impressão de que cuidar sozinho de quatro crianças seja algo comum. Mas, para o sorveteiro, ele não cumpriu mais do que sua obrigação de pai: dar banho, passar, lavar, costurar, cozinhar, ajudar nas tarefas da escola, ensinar a fé cristã e até preparar o bolo nos aniversários. Aos 38 anos e desempregado, Zenon perdeu a mulher, Rosaura, depois de 22 anos de convivência. Viúvo e sem trabalho, restou a ele a única alternativa de seguir em frente e educar os filhos, então com 10, 9, 7 e 4 anos.

“Fiquei abalado com a perda, depois de tantos anos, mas viver com criança te envolve muito”, conta seu Zenon. O primeiro passo para pôr a vida nos eixos foi ter uma atividade perto de casa, no Bairro Horto, Leste de BH. Primeiro, veio o armarinho, construído na frente do lote, substituído pela sorveteria, sucesso na região há mais de 20 anos. Os filhos cresceram trabalhando com o pai e até hoje, a nutricionista Luciana, de 32, e a estudante de direito Vânia, de 27, ajudam no negócio.

Avô de dois netos, com a turma toda criada e com curso superior, ele hoje ri e se emociona com as lembranças. Quando as filhas mais velhas, Luciana e a contadora Eliane, de 30, tiveram a primeira menstruação, seu Zenon, homem de fino trato apesar do pouco estudo, homenageou as meninas com flores. A caçula, Vânia, então com 5 anos, protestou: “Que negócio é esse que você ganha flor?”.

O primogênito, Eduardo, de 33, bacharel em direito ingressou no serviço militar. “Realizei esse sonho na figura do meu filho. Sentia o maior orgulho em lavar e passar a farda dele. Uma vez, Eduardo perdeu um calção do uniforme e eu costurei um igual para ele não correr o risco de ser preso”, conta. Mas nem tudo foram flores. “Tinha o carinho, mas também as palmadas”, diz.

O olhar e o sorriso das filhas mostram que tudo valeu a pena. “É um verdadeiro ‘pãe’: pai e mãe. Tudo o que sei na vida – até o serviço de casa – foi ele quem me ensinou. Poucas são as pessoas que tem a sensibilidade dele”, conta Luciana. Vânia também não poupa elogios: “Ele é o nosso companheiro, partilhou tudo com a gente na ausência da mãe”. O pai se derrete como o sorvete que vende: “Meus filhos são a razão da minha vida!”.

 

Nova vida aos 70 anos

O arquiteto Kleber Gonçalvez e a filha Anna Luiza:
O arquiteto Kleber Gonçalvez e a filha Anna Luiza: "Temos um vínculo muito forte" (foto: beto magalhães/EM/D.A PRESS)
Poucos são capazes de vencer as próprias inseguranças para se reinventar aos 60 anos, quando a vida clama por estabilidade. Kleber Pereira Gonçalves está nesse grupo de corajosos. Estéril desde os 26 anos, o arquiteto relutou por três décadas em adotar uma criança. “Tinha medo de ser pai”, conta. Transformado pelos ensinamentos da logosofia, mudou de ideia e, depois de quatro anos, chegou Anna Luiza. Ele tinha 61 anos e a mulher, Nazaré, 55. Há nove meses, nova reviravolta. Nazaré morreu vítima de um câncer. O papai Kleber se viu então diante da responsabilidade, aos 70 anos, de assumir também o papel de mãe.

Amadurecido pela vida, ele prefere tocar o barco a lamentar, já que as atribuições não dão tempo para choro. “O que não nos mata nos fortalece”, diz, citando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. A primeira preocupação do arquiteto foi demonstrar para a filha os papéis de cada um na relação. “Logo que fiquei viúvo, deixei claro que eu cuidava dela, e não ela cuidava de mim. E tenho administrado isso bem”, ressalta.

Kleber brinca, ajuda a fazer tarefas escolares, põe a filha para dormir, vai às reuniões do colégio, faz curativo quando ela se machuca... “Tenho a colaboração de uma ajudante do lar e as tias são presentes, mas faço tudo que um pai e uma mãe fariam”, explica. “Pode ser que, quando ela se tornar uma adolescente, sinta uma dificuldade maior, pois é um universo completamente diferente daquele que vivi, de muita repressão”, reconhece.

Enquanto essa fase não chega, Anna e o pai tratam de fortalecer o sentimento nascido no dia em que aquele bebê de 2 meses chegou, em 2004. “Logo tive a impressão de que a Anna Luiza era uma pessoa que estava reservada para a gente. Temos uma relação muito estreita, um vínculo forte que se percebe no olhar, no companheirismo. Nos beijamos, nos abraçamos, coisa que não se costumava fazer na minha infância”, conta.

Tanta afinidade faz o arquiteto ter certeza de que aquela insegurança em ser pai era “um medo infundado”. O desafio agora é conduzir a criação e a educação de Anna Luiza. “Tento mostrar a ela a importância de ser independente, o caráter e as virtudes da paciência, tolerância e dar a ela valores mais humanísticos do que qualquer outra coisa”, resume, ao descrever sua missão.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)