“Pãe” de quatro filhos
“Fiquei abalado com a perda, depois de tantos anos, mas viver com criança te envolve muito”, conta seu Zenon. O primeiro passo para pôr a vida nos eixos foi ter uma atividade perto de casa, no Bairro Horto, Leste de BH. Primeiro, veio o armarinho, construído na frente do lote, substituído pela sorveteria, sucesso na região há mais de 20 anos. Os filhos cresceram trabalhando com o pai e até hoje, a nutricionista Luciana, de 32, e a estudante de direito Vânia, de 27, ajudam no negócio.
Avô de dois netos, com a turma toda criada e com curso superior, ele hoje ri e se emociona com as lembranças. Quando as filhas mais velhas, Luciana e a contadora Eliane, de 30, tiveram a primeira menstruação, seu Zenon, homem de fino trato apesar do pouco estudo, homenageou as meninas com flores. A caçula, Vânia, então com 5 anos, protestou: “Que negócio é esse que você ganha flor?”.
O primogênito, Eduardo, de 33, bacharel em direito ingressou no serviço militar. “Realizei esse sonho na figura do meu filho. Sentia o maior orgulho em lavar e passar a farda dele. Uma vez, Eduardo perdeu um calção do uniforme e eu costurei um igual para ele não correr o risco de ser preso”, conta. Mas nem tudo foram flores. “Tinha o carinho, mas também as palmadas”, diz.
O olhar e o sorriso das filhas mostram que tudo valeu a pena. “É um verdadeiro ‘pãe’: pai e mãe. Tudo o que sei na vida – até o serviço de casa – foi ele quem me ensinou. Poucas são as pessoas que tem a sensibilidade dele”, conta Luciana. Vânia também não poupa elogios: “Ele é o nosso companheiro, partilhou tudo com a gente na ausência da mãe”. O pai se derrete como o sorvete que vende: “Meus filhos são a razão da minha vida!”.
Nova vida aos 70 anos
Amadurecido pela vida, ele prefere tocar o barco a lamentar, já que as atribuições não dão tempo para choro. “O que não nos mata nos fortalece”, diz, citando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. A primeira preocupação do arquiteto foi demonstrar para a filha os papéis de cada um na relação. “Logo que fiquei viúvo, deixei claro que eu cuidava dela, e não ela cuidava de mim. E tenho administrado isso bem”, ressalta.
Kleber brinca, ajuda a fazer tarefas escolares, põe a filha para dormir, vai às reuniões do colégio, faz curativo quando ela se machuca... “Tenho a colaboração de uma ajudante do lar e as tias são presentes, mas faço tudo que um pai e uma mãe fariam”, explica. “Pode ser que, quando ela se tornar uma adolescente, sinta uma dificuldade maior, pois é um universo completamente diferente daquele que vivi, de muita repressão”, reconhece.
Enquanto essa fase não chega, Anna e o pai tratam de fortalecer o sentimento nascido no dia em que aquele bebê de 2 meses chegou, em 2004. “Logo tive a impressão de que a Anna Luiza era uma pessoa que estava reservada para a gente. Temos uma relação muito estreita, um vínculo forte que se percebe no olhar, no companheirismo. Nos beijamos, nos abraçamos, coisa que não se costumava fazer na minha infância”, conta.
Tanta afinidade faz o arquiteto ter certeza de que aquela insegurança em ser pai era “um medo infundado”. O desafio agora é conduzir a criação e a educação de Anna Luiza. “Tento mostrar a ela a importância de ser independente, o caráter e as virtudes da paciência, tolerância e dar a ela valores mais humanísticos do que qualquer outra coisa”, resume, ao descrever sua missão.