Ângela Chaves sabia da difícil relação do namorado com álcool e drogas quando decidiu viver com ele em Santa Luzia, na Grande BHWagner Patrocínio, o Waguinho, começou cedoProvou maconha aos 14 anos e usou todo tipo de substância até chegar ao último estágio: em 2000, experimentou crackO que Ângela não imaginava era que o marido pudesse descer tão perto do infernoUm ano atrás, ele praticamente se mudou para uma boca de fumo na Região da Pampulha“Não sabia mais se Waguinho estava ou não em casa”, lembraA vida dela virou do avessoO marido passou a torrar com pedras de crack boa parte da renda mensal de R$ 8 mil obtida com as vendas nas quatro bancas que mantém no Centro de Belo HorizonteE Ângela, que detesta drogas, começou a ir à cracolândia para poder ver o marido, para procurá-lo quando ficava dias demais longe de casa, para tentar compreender o que se passava com ele
“Gente, ontem fiz um programa diferenteFui a uma cracolândia”, dizia mensagem publicada em uma rede social, em fevereiro, na primeira vez em que ela criou coragem e virou a noite com o marido e outros usuários na boca de fumo da Pampulha
Antes de apelar para a internação compulsória, e alertada sobre a demora do processo até que a Justiça autorize o tratamento forçado, Ângela voltou a tentar convencer o marido a se tratarEm uma das conversas, ele topou se submeter a desintoxicaçãoPoucos dias depois, porém, descumpriu a promessa e voltou para as ruasÂngela foi buscá-lo, mas o reencontro daquela vez foi traumáticoA mensagem seguinte na internet foi um desabafo“Não quero mais saber de ir lá, nem de nada que diga respeito dependentes químicosMeu marido para mim morreu e este assunto também! Vou levar minha vida só, eu e meus filhosChega de fazer papel de trouxa”, dizia o texto, apagado pouco depoisA explicação veio numa foto publicada em seguida: a imagem mostrava Ângela depois de ter sido agredida a chutes e socos pelo companheiro na cracolândia
O episódio reforçou a ideia de internação à forçaMas, como ainda tinha resistência à medida, Ângela preferiu tentar uma solução alternativaO convênio garantia atendimento no Hospital do Ipsemg, no Centro de Belo Horizonte, e ela decidiu levar o marido para láA servidora pública conseguiu que ele fosse atendido, mas percebeu que as coisas não iam bem na primeira visita que fez a WaguinhoEm crise de abstinência – segundo Ângela, o marido consome 15 gramas de crack por dia – ele ficou agressivo e começou a quebrar coisas no hospital numa tentativa de fuga
Ângela se deu conta de que não seguraria Waguinho ali por muito tempoDecidiu tentar uma internação involuntária, que não depende da vontade do paciente, mas da recomendação médica e do consentimento da famíliaDiferentemente da internação compulsória, a involuntária não exige decisão judicialNo sufoco, ele consegue a assinatura de um dos médicos do hospital da Previdência autorizando a medida“Quando ele concordou em alterar o papel da internação do Waguinho de voluntária para involuntária, quase dei um beijo na boca dele”, ela postou em seguida na internetOs amigos “curtiram”
Com a autorização, a mulher pesquisou clínicas, métodos de acolhidaSe pudesse, levaria o marido para uma badalada clínica de São Paulo, tida como a melhor do paísO preço, R$ 6 mil por mês, está fora da realidade do casalCom a ajuda dos amigos da área da assistência social, Ângela seleciona uma clínica mais modesta em Ribeirão das Neves, na Grande BHPor mês, as despesas são de R$ 1,6 milComo programas governamentais de combate ao crack não cobrem internação em clínicas, a servidora fala em processar o Estado no futuro
O desfecho da história é uma incógnitaWaguinho tentou fugir três vezes da clínica de Ribeirão das Neves, para onde foi levado no fim de maioEm uma delas, foi flagrado tentando arrancar as grades da janela, chumbadas na paredeEm outra, pulou o muro e andou por seis horas dentro do mato, em busca de uma única pedra de crackÂngela transferiu o marido para uma clínica, em Patos de Minas, no Alto ParanaíbaO tratamento voltou à estaca zero“São 30 anos de dependência das drogas, maconha, cocaína, álcool e crackÉ uma doença difícil mesmo de curar”, resigna-seOs amigos esperam boas notícias na rede social