Às 18h10 de uma quinta-feira, uma pessoa estaciona o carro na Praça Cairo, no Bairro Santo Antônio, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. De repente, dois homens se aproximam, dizem estar armados e pedem para a vítima entregar celular, relógio e a aliança. O assalto, no mês passado, foi a primeira ocorrência na cidade registrada no site “Onde fui roubado”. Nele, qualquer um pode informar quando, onde e como foi alvo de algum ladrão, em qualquer cidade do país. O site vem ganhando cada vez mais registros e, até as 19h de ontem, BH era a capital com mais denúncias: 339. Mais de 40% delas foram anotados nos últimos 45 dias, com uma média de três por dia.
Preservando o anonimato, o internauta informa quais bens foram levados pelo assaltante, o endereço, o dia e a hora do incidente, além de descrever como ocorreu. Também há relatos de tentativas de assalto frustradas. Os dados são usados para compor um painel de estatísticas. Das 339 denúncias feitas em BH até ontem, 58% das pessoas haviam registrado um boletim de ocorrência, segundo o site. Do total, mais da metade (59%) era do sexo masculino e os 41% restantes, do feminino. O objeto mais roubado havia sido o celular (presente em 72% das ocorrências), seguido por carteira (39%) e bolsa ou mochila (36%). Os tipos de assalto mais frequentes eram furto (36%), assalto à mão armada (36%) e arrombamento de carro (10%).
Em breve, os internautas poderão “filtrar” os assaltos para ver apenas os que ocorreram em determinado mês ou semana, segundo os criadores do site, Márcio Vicente Filho e Filipe Norton, ambos de 22 anos e estudantes de ciência da computação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. “Também vamos fazer um ranking de bairros mais violentos”, anuncia Márcio. A ferramenta foi criada em junho, mas permite que sejam cadastrados roubos ocorridos desde o início de 2012. O “Onde fui roubado” tem uma página homônima no Facebook com mais de 3 mil seguidores.
O site usa a mesma tecnologia do Google Maps e as ocorrências são marcadas no mapa da cidade indicada pelo usuário. Cadastrar uma ocorrência é rápido e simples, mas o site alerta: “Ao registrar uma nova denúncia toda a população poderá passar a confiar nela. Não faça denúncias falsas”. Com base nas informações sobre roubos e furtos, é possível saber o que vem ocorrendo em qualquer região e se prevenir, sustenta Márcio. “Os usuários podem se organizar antecipadamente sobre ir a alguma área da cidade, ficar atentos aos tipos de ocorrências registradas ali”, explica.
COMEÇO EM SALVADOR “A primeira cidade a receber denúncias foi Salvador, depois Florianópolis (SC). Na verdade, quando vimos Floripa com tantos adeptos, ficamos sem entender como o site chegou até lá”, diz Márcio. Até a tarde de ontem, BH era a capital com mais ocorrências, seguida por Salvador (241), Curitiba (213) e Florianópolis (132). Na cidade mineira, a maioria dos incidentes ocorreu na Região Centro-Sul. Às 9h01 de 19 de fevereiro, por exemplo, um usuário informou ter sido abordado por um bandido quando estava “indo pra fisioterapia”, na Rua Bernardo Guimarães, entre as ruas Paraíba e Pernambuco, no Bairro Funcionários.
Estudante de sistemas de informação na UFMG, Gustavo Campos chegou ao site por indicações de amigos e se cadastrou no sistema logo após ser assaltado no Bairro de Lourdes. “Acho a iniciativa de extremo valor. Estamos entrando numa era em que a informação se torna cada vez mais descentralizada”, disse. “A ferramenta pode ajudar alguém até na hora de escolher uma região para morar ou comprar um imóvel”, considera. Apesar de ter registrado o assalto que sofreu na rua, o jovem evitou cadastrar um arrombamento à sua residência. “Acho inseguro publicar o local exato onde moro, isso pode atrair bandidos que julgarem minha residência vulnerável”, diz.