Jornal Estado de Minas

Profissionais da medicina se queixam de gastos extras para trabalhar no Brasil

Além da desconfiança de colegas, médicos afirmam que valores para revalidar diploma e taxas cobradas por universidades dificultam o exercício da profissão no país

Tiago de Holanda


Além de ter de vencer a desconfiança de colegas e passar por exigentes exames de revalidação do diploma, médicos brasileiros formados no exterior podem gastar bastante dinheiro para ter o direito de trabalhar no país

A taxa de inscrição do Revalida neste ano é de R$ 100 para a primeira etapa (duas provas escritas) e R$ 300 para a segunda etapa (avaliação de habilidades clínicas)Porém, os valores crescem bastante no caso de processos independentes ofertados por universidades públicasA UFMG, por exemplo, cobra R$ 1.172,20Na UFMT, todas as fases custam R$ 1.250A Universidade de Campinas (Unicamp) pede R$ 1.183 e a Universidade de São Paulo (USP), R$ 1.530, mais R$ 90 pelo registro profissional.


“Não é justo que paguemos valores tão altos”, conta Daniele do Amaral Silva, de 31 anosMoradora de Belo Horizonte, ela cursou medicina em CubaDe volta ao Brasil, em 2011 inscreveu-se no Revalida e nas universidades federais de Mato Grosso, Ceará e Minas, na qual concluiu o processo“A dificuldade financeira foi o maior obstáculo para eu conseguir revalidarContei com a ajuda de familiaresNo total, gastei uns R$ 15 mil, incluindo custos com hospedagem e passagens de avião”, estima

Também teve de pagar para autenticar documentos emitidos pela instituição cubana e pela tradução dos papéis do espanhol para o português.


Luciano Dias, de 26, tornou-se médico na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, no Peru, e teve o diploma ratificado pela UFMG em 2011Também se inscreveu no Revalida e na UFMT“Gastei mais de R$ 10 milSó com a UFMG devo ter desembolsado uns R$ 4,5 mil, contando com passagens de avião e tudo o mais”, estima“São valores excessivosAparentemente, isso se tornou uma forma de comércio, de arrecadação de recursos”, criticaEle também defende que médicos formados no Brasil passem pelo processo“Deveria haver a mesma regra para todosNo país, também há faculdades que dão uma péssima formação”, argumenta.

DESCONFIANÇA Em Lima, o curso “foi excelente”, na avaliação de LucianoNa volta à terra natal, porém, notou que graduados no exterior eram alvos de desconfiança

“Alguns dos colegas têm preconceito com formados em outros países da América LatinaMas o profissional alerta: “Não dá para generalizarHá alunos e faculdades muito boas nesses países”.
O presidente da Comissão Permanente de Revalidação de Diploma de Médico Obtido no Estrangeiro da UFMG, professor André Cabral, lembra que parte dos candidatos preencheu critérios socioeconômicos especificados no edital e obteve isenção parcial ou total da taxa de inscriçãoEle contesta a afirmação de que o preço cobrado seja excessivo“Esse valor foi determinado pelo Conselho Universitário, com base no cálculo estimado dos custos”, apontaO processo dura o ano inteiro, ressalta Cabral