Além de ter de vencer a desconfiança de colegas e passar por exigentes exames de revalidação do diploma, médicos brasileiros formados no exterior podem gastar bastante dinheiro para ter o direito de trabalhar no país. A taxa de inscrição do Revalida neste ano é de R$ 100 para a primeira etapa (duas provas escritas) e R$ 300 para a segunda etapa (avaliação de habilidades clínicas). Porém, os valores crescem bastante no caso de processos independentes ofertados por universidades públicas. A UFMG, por exemplo, cobra R$ 1.172,20. Na UFMT, todas as fases custam R$ 1.250. A Universidade de Campinas (Unicamp) pede R$ 1.183 e a Universidade de São Paulo (USP), R$ 1.530, mais R$ 90 pelo registro profissional.
Luciano Dias, de 26, tornou-se médico na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, no Peru, e teve o diploma ratificado pela UFMG em 2011. Também se inscreveu no Revalida e na UFMT. “Gastei mais de R$ 10 mil. Só com a UFMG devo ter desembolsado uns R$ 4,5 mil, contando com passagens de avião e tudo o mais”, estima. “São valores excessivos. Aparentemente, isso se tornou uma forma de comércio, de arrecadação de recursos”, critica. Ele também defende que médicos formados no Brasil passem pelo processo. “Deveria haver a mesma regra para todos. No país, também há faculdades que dão uma péssima formação”, argumenta.
DESCONFIANÇA Em Lima, o curso “foi excelente”, na avaliação de Luciano. Na volta à terra natal, porém, notou que graduados no exterior eram alvos de desconfiança. “Alguns dos colegas têm preconceito com formados em outros países da América Latina. Mas o profissional alerta: “Não dá para generalizar. Há alunos e faculdades muito boas nesses países”.
O presidente da Comissão Permanente de Revalidação de Diploma de Médico Obtido no Estrangeiro da UFMG, professor André Cabral, lembra que parte dos candidatos preencheu critérios socioeconômicos especificados no edital e obteve isenção parcial ou total da taxa de inscrição. Ele contesta a afirmação de que o preço cobrado seja excessivo. “Esse valor foi determinado pelo Conselho Universitário, com base no cálculo estimado dos custos”, aponta. O processo dura o ano inteiro, ressalta Cabral.