Uma liminar judicial obtida na sexta-feira pela empresa que explora o estacionamento na Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, garantiu a volta dos carros ao pátio da igreja a partir de hoje, em mais um capítulo da disputa judicial entre a empresa, a paróquia e o Conselho de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura, que se arrasta desde 2000. Ontem à tarde, os responsáveis pelo serviço já estavam na catedral para organizar a reabertura do estacionamento. A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Procuradoria Geral do Município, informou que não vai se pronunciar até ser comunicada oficialmente pela Justiça.
O serviço de estacionamento na Boa Viagem, bem como o da Igreja São José, na Região Central, e o da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na área hospitalar, tiveram suas atividades encerradas por determinação da Fundação Municipal de Cultura, por entender que a circulação de veículos nesses locais era muito grande, interferia na fachada das igrejas e punha em risco os bens culturais tombados pelo patrimônio. No caso da Catedral da Boa Viagem, o estacionamento teve as atividades encerradas em fevereiro, depois que todas as ações então existentes na Justiça foram julgadas, dando ganho de causa à administração municipal.
Entretanto, em outro recurso judicial, a administradora do serviço conseguiu uma liminar para voltar a operar. A autorização é provisória, e pode ser cassada a qualquer momento, caso a prefeitura decida recorrer. Alheios à briga na Justiça, os fiéis que frequentam a igreja se mostraram satisfeitos com a autorização para o estacionamento dos carros, que não só permite acesso mais fácil à igreja, como também reverte renda para obras assistenciais. Localizada em área nobre, as vagas também são procuradas por profissionais que trabalham no entorno.
Durante as celebrações do fim de semana, os fiéis foram informados do retorno do estacionamento. Segundo o padre Marcelo Carlos da Silva, pároco da catedral e reitor do Santuário Arquidiocesano da Adoração Perpétua, o contrato de exploração terceirizada do estacionamento já existe há alguns anos, mas acabou suspenso por determinação da Justiça, que acatou o pedido de cancelamento apresentado pela administração municipal, baseado no tombamento da praça, ocorrido em 1970.
“Eles dizem que, por ser tombada pelo patrimônio, a praça não deveria ser usada para estacionamento, mesmo que não se cobrasse por isso. Quando o poder público efetivou a cassação do alvará de funcionamento, nossa posição foi acatar a decisão. Da mesma forma, agora iremos acatar o que determina a liminar”, defendeu o pároco.
OBRAS ASSISTENCIAIS
O arquiteto Eduardo Prates, de 53 anos, que vai à missa na catedral todo domingo, não tem o costume de usar o estacionamento, salvo em dias de chuva, mas mesmo assim defendeu a liminar. “Não acho que os carros afetem a fachada da igreja. Se fossem guindastes, eu concordaria. Acho legal que esse espaço possa gerar uma renda para as obras sociais”, defendeu. Já Margarida Maria D’Alaquoque Abreu, de 73, estava sentindo falta do estacionamento e da segurança de parar ao lado da igreja. “Meu marido sempre usava as vagas. Pagávamos pelo tempo usado. É bom que volte. Quando acabaram também com o estacionamento da Igreja de São José cheguei até a participar de um abaixo-assinado.”
As perdas, segundo padre Marcelo, realmente extrapolam o aspecto material. “Temos a perda financeira, mas também a perda de segurança e bem-estar dos paroquianos que usavam as vagas. Mas a saída do estacionamento também trouxe ganhos, como uma melhor utilização do espaço pela comunidade. As pessoas percebem a praça mais bonita”, disse o religioso, sem citar valores das perdas resultantes do fim do estacionamento. Ele acrescentou que a paróquia procurou cobrir os prejuízos de outras formas. “Este ano, por exemplo, foi possível realizar uma festa junina da paróquia na praça. Os paroquianos também se envolveram mais nas doações para suprir o que deixou de ser repassado para as obras assistenciais”, concluiu.
Memória
Briga sem fim
Travada desde o início do ano 2000, a luta para fechar os estacionamentos na Boa Viagem e nas igrejas de São José e do Sagrado Coração de Jesus teve seu momento mais acirrado em 2012, quando o Conselho de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura agilizou os procedimentos na Justiça para conseguir sentença favorável a seu pedido. Na edição de 18 de maio do ano passado, o Estado de Minas informou que o serviço estava com seus dias contados, conforme manchete do jornal.