Jornal Estado de Minas

Estado prevê nova epidemia da dengue durante o mundial de 2014

Maior epidemia de dengue da história de minas e temor de um quadro pior em plena Copa do Mundo levam governo a traçar plano emergencial para evitar negligência e ineficácia no combate ao aedes aegypti

Minas enfrenta este ano a maior epidemia de dengue de sua história e pode viver um quadro pior ainda em 2014, em plena Copa do Mundo, que terá seis jogos em Belo Horizonte
De janeiro a ontem, foram 255.272 casos confirmados, 30% acima dos registrados em 2010 inteiro, até então o pior anoO número de mortes também impressionaEm 2010 foram 106 (média de uma a cada 3,4 dias)Este ano já foram 102 (média de uma a cada 2,2 dias)Diante do quadro preocupante, principalmente devido à ineficácia e à negligência do poder público e da população nas ações contra o Aedes aegypti, o governo do estado anunciou um plano emergencial para enfrentar nova epidemia no ano que vemConvocou secretários de Saúde dos 50 municípios mineiros mais afetados pela dengue (75% dos casos e 70% das mortes)Foram anunciadas também as propostas de criação de um fundo de R$ 103 milhões para prevenção e combate e de distribuição de larvicida à população, já que 80% dos focos estão dentro das casasE um hospital de campanha será adquirido para o próximo ano


“Temos uma evolução de quase 20 anos da dengue no BrasilA despeito de todas as nossas ações deste ano, estamos com muita antecedência nos articulando para 2014

Não tenho dúvida de que teremos casos de dengue mais uma vez e fatores relevantes e importantes para manutenção da epidemia”, afirmou o secretário de Estado de Saúde, Antônio Jorge Souza Marques

Segundo ele, este ano houve uma circulação intensa do sorotipo 4 da dengue, que há mais de 30 anos não era registrada e pegou a população sem nenhuma memória imunológica, susceptível à doençaIsso explica em parte a agressividade e a velocidade da cadeia de transmissão sem precedentes no estado“Essa situação se manterá para o próximo anoO vírus que seguramente estará hegemônico é o sorotipo 4”, afirmou

Os 255.272 casos confirmados este ano foram registrados em 796 dos 853 municípiosAntônio Jorge se reuniu ontem com 50 secretários municipaisO encontro foi uma espécie de puxão de orelha em quem que não cumpriu o plano de contingência para conter a dengue“Foi uma conversa muito francaAssumimos com muita humildade que a despeito dos esforços precisamos fazer mais
Então, é uma cobrança civilizada, mas uma cobrança fora do governo do estado em relação à manutenção das equipes de agentes de endemia”, disse Antônio Jorge, que acredita que somente uma vacina poderá resolver o problemaA Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou esta semana um estudo para a vacina, que deve demorar até 10 anos para ficar prontaEnquanto isso, restam apenas dois caminhos, segundo o secretário: intensificar as ações de combate ao vetor e melhorar a assistência e incorporar regras ou engenharia de financiamento das ações que possam favorecer o aspecto gerencial

Uberaba, no Triângulo Mineiro, é a cidade campeã em casos de dengue este ano, com 20 mortosO secretário de Saúde do município, Fahin Sawan, alega que houve negligência da administração passada“Não fizeram prevençãoEncontramos um agente para cada 1,3 mil domicílios, quando deveriam ser um para 800 famílias, conforme o termo de ajustamento de conduta de 2006”, disse.

Descaso com prevenção

 Segundo o secretário Antônio Jorge, este ano 83% das gestões não foram renovadas em Minas, uma tragédia na continuação dos trabalhos, com desmonte de equipes de agentes de endemia e da saúde da família“Houve quebra de contratos de prestação de serviços em alguns municípios, como coleta de lixo orgânicoMuito lixo nas ruas, tempo quente, mosquito solto, assim não tem jeitoDos 50 municípios mais afetados, 86% não cumpriram o último ciclo de combate à dengueAlguns não cumpriram nada”, disseVerão mais quente e a antecipação das chuvas também contribuíram para a proliferação do mosquitoDurante a reunião, foi proposta a criação de um fundo de R$ 103 milhões, com recursos municipais, estadual e federal, para financiar os agentes de endemia e reestabelecer carreiras e treinamentos

“Os municípios estão trabalhando com a metade do ideal de número de agentes no combate ao vetorDesde a desarticulação da Funasa, os agentes perderam muito em qualidadeHá algumas décadas, era  pessoal de carreira, com comprometimento ideológico e com a saúde públicaHoje os vínculos são precários e eles são mal remunerados”, disseEm função do aumento de casos da dengue e das mortes, Antônio Jorge conta que foram gastos R$ 60 milhões este ano com criação de unidades de hidratação e contratação de mais 2 mil agentes.


Distribuição de larvicida

Outra medida em estudo pelo governo estadual é a instrumentalização da comunidade no combate à dengue, segundo o secretário Antônio JorgeEspecialistas em meio ambiente e nas áreas química e industrial serão convidados para discutir a possibilidade de o larvicida, que é usado pelos agentes, ser utilizado pelas próprias famíliasSerão avaliados impactos ambientais, possíveis riscos e uso inadequado do materialA comissão terá até dezembro para uma resposta

Antônio Jorge conta que este ano o estado distribuiu 1,5 milhão de litros de água sanitária como larvicida, mas o produto tem uma ação limitada e o efeito residual é menor“Muitas famílias acabaram utilizando a água sanitária que distribuímos para outros fins, como lavar o quintal”, disse o secretário.

Segundo ele, os agentes têm que voltar a cada domicílio a cada seis meses, o que é trabalhoso“Muitas vezes, o esquema de prevenção se fragiliza por impossibilidade físicaPor que não contar com a própria sociedade?”, questionaEste ano, segundo ele, o número de caminhonetes para o fumacê aumentou de 60 para 122, e o de bombas costais de 500 para mais de mil