A cunhagem pirata de moedas da Coroa portuguesa na época do Brasil Colônia era até hoje a única relação direta entre a Serra da Moeda e o dinheiro, que inclusive deu nome à formação montanhosa em Minas, reconhecida como Monumento Natural Estadual. Agora, entretanto, a questão monetária volta a imperar na região, já que os proprietários da pista de decolagem do Clube de Voo Livre Belo Horizonte (CVBH), que funciona num dos acessos mais conhecidos da serra, ao lado do restaurante Topo do Mundo, passaram a cobrar pedágio de R$ 2 para permitir a travessia no terreno onde operam e que leva às trilhas que permeiam o cume dos montes que formam o Monumento Natural da Serra da Moeda.
A Prefeitura de Brumadinho informou que o clube não poderia cobrar pelas atividades no local, como aulas de voo livre, porque não tem alvará de funcionamento, nem exigir dinheiro pela entrada em trilha. Afirmou ainda que descobriu a falta de documentos num levantamento recente e ainda não decidiu que tipo de medida atitude será tomada.
O espaço demarcado além da escola é protegido por decreto estadual de 2010, mas, a rampa de voo, mesmo no topo de morro, não está na área protegida. De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), é área particular. Ambientalistas e turistas reclamam da situação irregular, mas representantes do clube, apesar de confirmar que não têm alvará de funcionamento, defendem a cobrança. O esporte radical é admirado por muitos frequentadores, mas acidentes tem sido frequentes. Só nos dois últimos anos foram duas mortes e dois feridos.
Compensação
A tesoureira do CVBH, Gabriela Assimos, alega que a cobrança é necessária para garantir a manutenção das instalações do clube, inclusive os banheiros, que podem ser usados por quem pratica voo livre e visitantes da serra. “O espaço foi doado por mineradoras em 2008, como forma de compensação ambiental pela atividade. Abrimos aqui o espaço para o voo e só cobramos para ter manutenção adequada”, disse. Mas que frequenta não ter intenção de colaborar com a conservação do espaço. Durante os voos, a reportagem do EM viu vários aviõezinhos de papel sendo atirados por crianças e embalagens de lanches sendo jogadas próximas à pista.
Quem visita a serra estranha a cobrança e a necessidade de uso da pulseira. “Achei que era uma taxa do Ibama ou de outro órgão ambiental para conservar a natureza, proteger os animais, não um dinheiro de entrada para um proprietário. Não sabia que uma pessoa podia ser dona de uma montanha”, criticou a engenheira química Adriana Brito, de 44 anos, que veio a BH com cinco outros turistas de Salvador. “Sempre passamos pela trilha de cima da montanha depois do restaurante. Tomei um susto quando vi o bilhete escrito que não poderia passar sem pagar ingresso. Prefiro não ir até lá. É um absurdo. Não podem bloquear a montanha dos turistas”, protestou a médica Maria Gonçalves Pires, do Rio de Janeiro, que desistiu de tentar admirar a paisagem com um grupo de amigos mineiros.