Jornal Estado de Minas

Arame vira peça de ônibus na Grande BH

Em uma volta pelos pontos do transporte coletivo na capital é possível ver todo tipo de gambiarra remendando veículos e prejudicando o conforto e a segurança dos passageiros

Jorge Macedo - especial para o EM
Mateus Parreiras


- Foto: Joao Miranda/Esp. EM/D.A Press
Um fio preto amarrado entre a cabine do motorista, o motor dianteiro do ônibus e a porta de acesso do coletivo foi a forma que o condutor encontrou para improvisar uma barreira contra o acúmulo de passageiros na área que lhe permite enxergar o retrovisor enquanto dirige“É tanta gente apertada dentro do ônibus que não dá para ver o espelhoÉ uma questão de segurança da gente e dos passageiros mesmo, já que o ônibus tem de pegar a rodovia (BR-040) e não dá para ficar sem ver os outros carros”, justifica o cobradorSituações como essa parecem extremas, mas são comuns pelos pontos de ônibus que servem às linhas metropolitanas no Centro de Belo HorizonteNa última sexta-feira a equipe do Estado de Minas percorreu esses locais, onde centenas de pessoas aguardavam para embarcar entre as Ruas Rio Grande do Sul, dos Carijós e dos Tupinambás

Uma rápida observação entre as filas de passageiros e veículos estacionados com os motores ligados na Rio Grande do Sul é suficiente para perceber que é grande o risco de acidentes, como o que na quarta-feira envolveu um coletivo que perdeu o eixo traseiro na Avenida AmazonasEm pouco tempo apareceram dois ônibus com pneus carecas, arrancando em ritmo acelerado para dar espaço a outros que chegavamMais adiante, outro tinha o para-choque solto, amarrado do lado direito com aramePelo menos três estavam muito sujos, com crostas de poeira ou terra vermelha dificultando inclusive a leitura das peças publicitárias que exibiam na traseiraUm deles estava com a porta enguiçada, sem as escovas da parte inferior e com o elevador para deficientes amassadoLatarias danificadas também não faltavam, mas um dos veículos estava tão avariado que o metal tinha dois rasgos transversais
Nada disso impediu que abrissem as portas, recebessem passageiros que disputaram cada palmo de espaço e depois partissem para cruzar a Região Metropolitana de Belo Horizonte.

São situações que revoltam os passageiros“A gente tem de enfrentar isso todos os diasE olha que os piores ônibus ainda não chegaramOs sucatões só vêm depois de 17h30”, ironiza a balconista Andreia Vasconcelos, de 36 anos, que se disse farta de sentar em bancos rasgados e de ter de se segurar em veículos com peças bambas que servem à linha 6573, e a levam de sua casa, em Esmeraldas, na Grande BH, ao trabalho no Centro da capital.

O marceneiro Henrique Torres, de 40, lembra do susto que os passageiros levaram no início do ano quando o jogo de pneus traseiros de um ônibus da linha 6400 estourou no meio do caminho“Foi uma explosão tão forte que abriu um buraco na lataria do pisoSó não arrebentou os pés da minha vizinha, que estava sentada na cadeira que fica sobre as rodas, porque ela tinha pisado no apoio”, lembraO marceneiro conta, ainda, que mesmo depois do susto, o tratamento dispensado aos passageiros não melhorou.

Nesse ambiente, atritos entre usuários insatisfeitos e motoristas e cobradores trabalhando no limite rendem discussões constantes“Tem muitos que são gente boa, mas às vezes os caras estressam com as pessoas xingando e fazem loucuras, principalmente os mais novos”, afirma o chefe de cozinha Sebastião Mauro Ferreira Dantas, de 44“Teve uma vez que o motorista começou a jogar o ônibus de um lado para o outro, em ziguezague, para ver se as pessoas paravam de xingarO pessoal que desceu no primeiro ponto chamou a polícia, que parou o ônibus
Foram parar todos na delegacia”, lembra, relatando um cotidiano.

O comportamento de certos motoristas é alvo de críticas de especialistas, como o ex-presidente da BHTrans Osias Baptista Neto consultor em engenharia de transportes e trânsitoEle ressalta que esse tipo de profissional não pode cometer determinados tipos de infração, como usar celular ao volante“Além das próprias vidas e dos outros nas ruas, os passageiros estão sob a responsabilidade deles.”