Mateus Parreiras
Uma rápida observação entre as filas de passageiros e veículos estacionados com os motores ligados na Rio Grande do Sul é suficiente para perceber que é grande o risco de acidentes, como o que na quarta-feira envolveu um coletivo que perdeu o eixo traseiro na Avenida Amazonas. Em pouco tempo apareceram dois ônibus com pneus carecas, arrancando em ritmo acelerado para dar espaço a outros que chegavam. Mais adiante, outro tinha o para-choque solto, amarrado do lado direito com arame. Pelo menos três estavam muito sujos, com crostas de poeira ou terra vermelha dificultando inclusive a leitura das peças publicitárias que exibiam na traseira. Um deles estava com a porta enguiçada, sem as escovas da parte inferior e com o elevador para deficientes amassado. Latarias danificadas também não faltavam, mas um dos veículos estava tão avariado que o metal tinha dois rasgos transversais. Nada disso impediu que abrissem as portas, recebessem passageiros que disputaram cada palmo de espaço e depois partissem para cruzar a Região Metropolitana de Belo Horizonte.
São situações que revoltam os passageiros. “A gente tem de enfrentar isso todos os dias. E olha que os piores ônibus ainda não chegaram. Os sucatões só vêm depois de 17h30”, ironiza a balconista Andreia Vasconcelos, de 36 anos, que se disse farta de sentar em bancos rasgados e de ter de se segurar em veículos com peças bambas que servem à linha 6573, e a levam de sua casa, em Esmeraldas, na Grande BH, ao trabalho no Centro da capital.
O marceneiro Henrique Torres, de 40, lembra do susto que os passageiros levaram no início do ano quando o jogo de pneus traseiros de um ônibus da linha 6400 estourou no meio do caminho. “Foi uma explosão tão forte que abriu um buraco na lataria do piso. Só não arrebentou os pés da minha vizinha, que estava sentada na cadeira que fica sobre as rodas, porque ela tinha pisado no apoio”, lembra. O marceneiro conta, ainda, que mesmo depois do susto, o tratamento dispensado aos passageiros não melhorou.
Nesse ambiente, atritos entre usuários insatisfeitos e motoristas e cobradores trabalhando no limite rendem discussões constantes. “Tem muitos que são gente boa, mas às vezes os caras estressam com as pessoas xingando e fazem loucuras, principalmente os mais novos”, afirma o chefe de cozinha Sebastião Mauro Ferreira Dantas, de 44. “Teve uma vez que o motorista começou a jogar o ônibus de um lado para o outro, em ziguezague, para ver se as pessoas paravam de xingar. O pessoal que desceu no primeiro ponto chamou a polícia, que parou o ônibus. Foram parar todos na delegacia”, lembra, relatando um cotidiano.
O comportamento de certos motoristas é alvo de críticas de especialistas, como o ex-presidente da BHTrans Osias Baptista Neto consultor em engenharia de transportes e trânsito. Ele ressalta que esse tipo de profissional não pode cometer determinados tipos de infração, como usar celular ao volante. “Além das próprias vidas e dos outros nas ruas, os passageiros estão sob a responsabilidade deles.”