Jornal Estado de Minas

Júri 11 anos depois de crime com suposta motivação homofóbica acontece em BH

Zootecnista e o filho devem ser julgados hoje na capital pela morte do bailarino Igor Xavier, em Montes Claros. Entidades consideram que crime foi motivado por homofobia

Luiz Ribeiro
Ricardo Athayde confessou o homicídio: dançarino Igor Xavier foi morto a tiros no apartamento do acusado, em Montes Claros, quando tinha 29 anos - Foto: Christiano Lorenzato/Sucursal Norte/EM - 6/2/02
O julgamento do zootecnista Ricardo Athayde Vasconcellos e do filho dele, Diego Rodrigues Athayde, acusados do assassinato do bailarino Igor Leonardo Xavier, há 11 anos, está marcado para hoje após ser adiado por três vezesIgor foi morto a tiros aos 29 anos, em Montes Claros, no Norte de Minas, no dia 1º de março de 2002A sessão de hoje é aguardada com expectativa por parte de entidades de defesa das minorias, que consideram que o crime tenha sido motivado por homofobia“Pela primeira vez, acusados de homofobia vão a júri popularEsse caso será emblemático e vai servir de exemplo para o Brasil e para o mundo para que venha acabar com a impunidade dos homofóbicos”, disse o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno Fonseca.

O bailarino foi assassinado no apartamento do zootecnista, depois que os dois se encontraram em um bar, no Centro de Montes ClarosRicardo Athayde confessou que cometeu o homicídio porque a vítima teria assediado seu filhoO advogado que defende Ricardo e Diego, Maurício Campos Júnior, sustenta que não houve homofobia“O fato nem de longe constitui crime homofóbicoAliás, o próprio juiz responsável pelo processo em Montes Claros afirmou que nem mesmo a acusação versava sobre homofobiaLamentavelmente, a família da vítima vem mobilizando entidades de defesa da diversidade sexual, transformando esse julgamento em uma bandeira”, disse o advogado.

Maurício negou ainda que Ricardo Vasconcellos tenha dito que assassinou Igor por ter rejeição a homossexuais, argumento que teria despertado a atenção das entidades de defesa das minorias em relação ao crime“Isso foi uma mentira que inventaram
O réu agiu porque a vítima bolinou os órgãos do filho dele”, disse Campos Júnior, que preferiu não adiantar a os argumentos de defesa que vai usar durante o júriPor outro lado, ele disse que o zootecnista espera que os jurados “compreendam” que “ficou atordoado por causa do assédio ao filho”.

Manifestações

O início do julgamento está marcado para 8h30O poeta Aroldo Pereira, presidente da Associação Igor Vive, criada em Montes Claros após o assassinato do bailarino, afirmou que cerca de 30 pessoas, entre parentes da vítima e integrantes da entidade, acompanharão o julgamentoEle disse ainda que estão previstas manifestações e intervenções artísticas em frente ao fórum pedindo a condenação dos réus e o fim da impunidade dos autores de crimes contra os homossexuais“A nossa expectativa enquanto amigos e familiares de Igor e integrantes da associação é que o julgamento ocorra de forma plena, sem nenhuma manobra da defesa dos assassinos e que o júri venha dar seu veredicto, promovendo a justiçaAfinal, é o primeiro júri popular de um crime assumidamente homofóbico da história do Brasil”, afirma Pereira.

“Estamos com muita esperança de que se faça justiça e que os assassinos sejam culpados e paguem pelo crimeSão 11 anos e seis meses de luta da família e do movimento LGTB”, disse o presidente da ABGLTOntem, ele esteve reunido com a aposentada Marlene Xavier, mãe de Igor, que viajou para Belo Horizonte para acompanhar o júri no Fórum Lafayette.

Marlene disse que espera que a justiça seja feita e o julgamento dos responsáveis pela morte do seu filho tenha “um desfecho satisfatório”Mas reclamou da demora para que os réus fossem julgados, atribuindo os adiamentos do júri a manobras da defesa“Por causa dos adiamentos anteriores, a gente só terá tranquilidade mesmo depois do resultado do julgamento
Surpresas podem ocorrerMas estou confiante em Deus”, disse a aposentada“Nunca promovemos qualquer manobraFizemos simplesmente a própria defesa dos réus”, argumenta o advogado Maurício Campos Júnior.