Bons ventos da preservação cultural sopram em direção ao distrito de Brumal, em Santa Bárbara, na Região Central de Minas, onde uma antiga reivindicação da comunidade será atendida. Por meio de termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público de Minas Gerais e mineradora, com interveniência do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), serão investidos R$ 1 milhão em obras de restauração de uma capela, requalificação do largo da matriz e fachadas de residências e elaboração de cartilha de educação patrimonial. Além de elevar a autoestima dos moradores, a iniciativa vai incrementar o turismo e criar alternativas de emprego e renda, diz a tesoureira e responsável pelos projetos sociais da associação comunitária local, Dilce Amara Margarida Mendes. “Vai unir o útil e o agradável, pois Brumal é uma joia incrustada entre vales na entrada do Santuário do Caraça”, afirma.
Hoje tombado pelo Iepha e pelo município, Brumal nasceu no século 18 e tem na Matriz de Santo Amaro, de 1728, atualmente em restauração, seu principal monumento. “Queremos que Brumal se torne parada obrigatória para quem segue rumo ao Caraça. Temos vários projetos, entre eles a realização de uma feira periódica (Brumal Sabor, Lazer & Arte), que criará oportunidade de renda para famílias de baixo poder aquisitivo, em atividades como artesanato, gastronomia e outros serviços”, diz a tesoureira.
De acordo com a Coordenadoria das Promotorias de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC), estão sendo destinados R$ 650 mil para o restauro da Capela de Nosso Senhor dos Passos, R$ 250 mil para a requalificação do largo com o chafariz e recuperação da fachada de 50 casas e R$ 50 mil para a confecção da cartilha específica sobre o patrimônio de Santa Bárbara. Outros R$ 100 mil serão aplicados no Fundo Municipal do Patrimônio Cultural, para serem usados em projetos de preservação. Os recursos serão depositados em conta do Iepha.
“É fundamental a conservação desse conjunto histórico tão valioso e que, por ficar distante da zona urbana, ainda é pouco conhecido”, afirma o promotor de Justiça da comarca, Rodrigo Otávio Mazieiro Wanis. Ele assinou o TAC com o coordenador das Promotorias de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcos Paulo de Souza Miranda.
Os recursos, a serem depositados no prazo de 30 dias, são fruto de medida compensatória por obras feitas no entorno do Núcleo Histórico de Brumal sem autorização do estado e do município. Segundo o Ministério Público, o Iepha terá que remeter ao Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Santa Bárbara, no prazo de cinco dias, a aprovação do projeto de recuperação, enquanto o conselho poderá indicar ao instituto a necessidade de outras medidas técnicas complementares no prazo de 10 dias. Finalmente, as partes assumem a obrigação de prestar contas da execução dos projetos ao MP.
História
Mais antigo do que a sede municipal, o povoado com mais de 2 mil habitantes foi fundado em 1704 pela bandeira de Antônio Bueno. Os bandeirantes se fixaram no vale onde hoje fica o Centro Histórico do distrito e deram ao local o nome de Brumado. Embora os fundadores, a princípio, tenham achado insuficiente a produção das minas, a atividade mineradora foi responsável pelo crescimento da localidade. Impulsionada por ele, por volta de 1730 a Igreja de Santo Amaro já estava sendo construída com toda a pompa.
A licença para a obra foi solicitada em 1727 por Amaro da Silveira Borges, morador do arraial. Segundo estudiosos, o arraial contava, em 1837, com 1.073 moradores e tinha 173 casas. Entre os destaques, além da matriz e do largo, estão a Casa do Cartório e o prédio da escola velha, hoje Centro Comunitário José Januário Câmara.
Inspiração na bruma
Brumal, em Santa Bárbara, é uma das belezas da Estrada Real, integra o Quadrilátero Ferrífero e está na rota do caminho religioso que liga a Serra da Piedade ao Santuário do Caraça. O nome Brumal vem da intensa serração (bruma), comum na região durante o inverno, uma vez que fica ao sopé da Serra do Caraça e próximo ao rio com o mesmo nome. A denominação foi oficializada em 1943, mas o local também já foi conhecido por Brumado do Mato Dentro, Santana do Brumado e Barra Feliz.