Jornal Estado de Minas

Réus detalham em júri o assassinato de bailarino em Montes Claros

O artista Igor Leonardo Xavier foi morto a tiros dentro do apartamento dos acusados Ricardo Athayde Vasconcellos e do filho dele, Diego Rodrigues Athayde. Julgamento está no intervalo e será retomada com debates entre defesa e acusação

Luana Cruz, Paulo Filgueiras, Cristiane Silva, Daniel Camargos, Mateus Parreiras, Pedro Rocha Franco, Luciane Evans, Leandro Couri Guilherme Paranaiba

- Foto: Jair Amaral/EM DA Press

Terminou às 11h20 desta terça-feira a primeira etapa do julgamento do zootecnista Ricardo Athayde Vasconcellos e do filho dele, Diego Rodrigues Athayde acusados de matar a tiros o bailarino Igor Leonardo Xavier, em Montes Claros, no Norte de Minas GeraisOs réus foram ouvidos em menos de duas horas com perguntas do juiz Glauco Eduardo Soares Fernandes, do promotor Gustavo Fantini, do assistente de acusação e dos juradosÀs 12h45 a sessão recomeça com os debates entre defesa e acusação Para movimentos LGBT, o crime tem motivação no preconceito, por isso o júri pode servir de exemplo para outros crimes homofóbicos e o veredicto deve marcar a história da violência contra homossexuais no país

Veja a expectativa de movimentos LGBT e familiares sobre o júri e a motivação homofóbica

Nesta manhã, todas as testemunhas foram dispensadas e a audiência foi direto para o interrogatório de pai e filhoRicardo contou que no dia 28 de fevereiro de 2002, dia do crime, sentou com dois conhecidos em um bar da cidadeAlém deles, outras pessoas se revezavam à mesas em um clima descontraído entre 21h e 0hNesse período, a discussão principal entre todos era sobre filosofia e em determinado momento, Igor pediu permissão para sentar com o grupo e participar da conversaRicardo afirma que não conhecia Igor e nunca o tinha visto

Ainda na versão do réu, Igor perguntou se Ricardo tinha livros de filosofia para emprestarCom a resposta positiva, o bailarino pediu que o empréstimo fosse feito ainda naquele dia
Ricardo e o dançarino pegaram um táxi até a casa do acusado, onde estavam guardados tais livrosAo chegar no imóvel, o zootecnista mandou Igor esperar na sala e chamou o filho Diego para fazer companhia ao visitanteEm cerca de 10 minutos, Ricardo foi ao banheiro e até a cozinha, mas escutou Igor assediando o filho que na época tinha 18 anosSegundo o réu, o bailarino tentou agarrar Diego o que gerou a revolta do paiRicardo pegou duas armas que guardava no armário e foi em direção ao artista na sala

O acusado conta que tropeçou, momento em que ocorreu o primeiro disparoIgor avançou sobre ele e os dois se atracaram brigando, foi quando Ricardo disparou mais uma vez, matando o bailarinoDesesperados, pai e filho foram até a casa de parentes e um irmão do zootecnista o orientou a seguir para Belo Horizonte e emprestou uma caminhonete para a viagem.

Corpo

Os réus voltaram para a casa, pegaram o corpo de Igor para ocultar o cadáverRicardo arrastou o corpo até a carroceria da caminhonete, enquanto Diego limpava os rastros de sangue deixados no chãoO corpo do artista foi abandonado durante a viagem à capital em uma estrada vicinal, às margens da BR-365, mesmo local onde foram deixadas as duas armas


No caminho, o veículo apresentou problemas e Ricardo resolveu voltar a Montes Claros, onde se encontrou novamente com o irmãoComo o zootecnista estava muito atormentado, o irmão assumiu a direção da caminhonete e transportou os dois acusados para BH

Diego relatou exatamente a mesma versão do pai, durante o depoimento no júriEle disse que ao “fazer sala” para Igor foi atacado pelo bailarinoSegundo ele, Igor sentou no sofá e começou a pegar em seu pescoço, mas Diego teria se desvencilhado educadamente até o pai perceber a situação e o caso terminar em tragédia

Ricardo respondeu perguntas do promotor, jurados, e assistente de acusaçãoDiego se recusou a responder ao assistente e falou apenas quando questionado pelo promotor e pelos juradosO interrogatório foi muito rápido, com respostas curtas e objetivasA expectativa à tarde é pelo enfrentamento entre defesa e acusação, logo depois a decisão do Conselho de Sentença