O zootecnista Ricardo Athayde Vasconcellos foi condenado a 14 anos de prisão pela morte do bailarino Igor Leonardo Xavier, em Montes Claros, no Norte de Minas GeraisO filho dele, Diego Rodrigues Athayde, que também era julgado pelo crime, foi absolvido pelo júriO julgamento, considerado histórico por ser um dos primeiros de um caso com motivação homofóbica, aconteceu onze anos após o crimeA sentença foi anunciada por volta das 20h15 pelo juiz Glauco Eduardo Soares Fernandes.
Ricardo Athayde foi condenado a 15 anos de prisãoPorém, ganhou a atenuante por ser réu confesso do crimePor ter ficado o processo todo em liberdade, a Justiça garantiu o direito do zootecnista responder a sentença fora da cadeia.
O advogado Maurício Campos Júnior, ex-secretário da Secretaria de Defesa Social, que defende os acusados, já adiantou que vai recorrer da decisão por achar que a pena foi altaJá o advogado Ernesto Queiroz de Freitas, assistente de acusação, diz que vai estudar a possibilidade de recurso
O promotor Gustavo Fantini, responsável pela acusação de pai e filho, pediu aos jurados para absolverem DiegoO representante do Ministério Público alegou que não havia no processo provas concretas da participação do rapaz no assassinato do bailarinoNo entanto, chegou a afirmar que Diego e Igor mantinham um relacionamento amoroso, o que provocou protesto por parte da defesa.
Ao depor, Ricardo admitiu que os tiros que mataram o bailarino foram disparados por elePorém, disse que os primeiros disparos foram acidentais
Pela manhã, no começo do júri, todas as testemunhas foram dispensadas e o interrogatório de pai e filho começou imediatamenteDiego manteve a versão apresentada pelo pai e se recusou a responder as perguntas do assistente de acusaçãoRespondeu, com frases curtas e objetivas, os questionamentos feitos pelo juiz, promotor e jurados.
Acusação x defesa
A defesa, por sua vez, disse que o promotor tentou desmoralizar o acusadoEle afirmou que Igor foi morto porque assediou Diego e enfatizou que isso não pode ser considerado um motivo fútil para o assassinato, uma vez a atitude de Ricardo ao ver o filho ser molestado reflete o valor moral de toda a sociedade.
O crime na versão dos réus
Ricardo contou que em 28 de fevereiro de 2002, dia do crime, sentou com dois conhecidos em um bar de Montes ClarosAlém deles, outras pessoas se revezavam à mesas em um clima descontraído entre 21h e 0hNesse período, a discussão principal entre todos era sobre filosofia e em determinado momento, Igor pediu permissão para sentar com o grupo e participar da conversaRicardo afirma que não conhecia Igor e nunca o tinha visto
Segundo Ricardo, Igor pediu livros de filosofia emprestadosEle foi levado, então, para a casa da família para pegar os livrosO acusado disse que chamou o filho para fazer companhia ao bailarino na sala do imóvel enquanto ele foi ao banheiro e à cozinhaAo retornar ao cômodo, flagrou o dançarino assediando DiegoFoi neste momento em que ele pegou duas armas que guardava no armário e foi em direção ao artista na sala
O acusado contou que tropeçou, momento em que ocorreu o primeiro disparoIgor avançou sobre ele e os dois se atracaram brigando, foi quando Ricardo disparou mais uma vez, matando o bailarinoDesesperados, pai e filho foram até a casa de parentes e um irmão do zootecnista o orientou a seguir para Belo Horizonte e emprestou uma caminhonete para a viagem.
Os réus voltaram para a casa, pegaram o corpo de Igor para ocultar o cadáverRicardo arrastou o corpo até a carroceria da caminhonete, enquanto Diego limpava os rastros de sangue deixados no chãoO corpo do artista foi abandonado durante a viagem à capital em uma estrada vicinal, às margens da BR-365, mesmo local onde foram deixadas as duas armas
No caminho, o veículo apresentou problemas e Ricardo resolveu voltar a Montes Claros, onde se encontrou novamente com o irmãoComo o zootecnista estava muito atormentado, o irmão assumiu a direção da caminhonete e transportou os dois acusados para BH
Diego relatou exatamente a mesma versão do pai, durante o depoimento no júriEle disse que ao “fazer sala” para Igor foi atacado pelo bailarinoSegundo ele, Igor sentou no sofá e começou a pegar em seu pescoço, mas Diego teria se desvencilhado educadamente até o pai perceber a situação e o caso terminar em tragédia