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Estado de Minas

Moradores de Taquaraçu de Minas esperam com ansiedade e ressalva a chegada de médicos

Enquanto isso, médicos formados no país hostilizam colegas cubanos


postado em 28/08/2013 06:59 / atualizado em 28/08/2013 07:31

Manifestantes ligados ao Sindicato dos Médicos do Ceará vaiaram e xingaram cubanos que saíram de aula em Fortaleza(foto: Jarbas Oliveira/FolhaPress)
Manifestantes ligados ao Sindicato dos Médicos do Ceará vaiaram e xingaram cubanos que saíram de aula em Fortaleza (foto: Jarbas Oliveira/FolhaPress)

A chegada de médicos cubanos deixa os profissionais formados no país em pé de guerra, provoca troca de acusações e pode gerar briga judicial entre o governo federal e entidades da categoria. Enquanto isso, alheios ao embate nacional, 23 municípios mineiros se preparam para receber profissionais da ilha caribenha. As cidades fazem parte da lista de 701 que não foram escolhidas por nenhum dos inscritos na primeira rodada do programa federal Mais Médicos. Elas terão prioridade para receber os 4 mil contratados, 400 dos quais já estão no Brasil e começam a trabalhar em 16 de setembro. O Ministério da Saúde ainda não definiu quantos serão designados para Minas, nem quando virão ao estado.

Em Taquaraçu de Minas, com 4 mil habitantes, na Grande BH, a possibilidade de receber cubanos surpreendeu moradores. O município é carente de serviços de saúde de qualidade. De janeiro a abril, consultórios ficaram vazios e agora têm apenas dois clínicos gerais. A demanda é extensa. São serviços de urgência, consultas normais e agendadas, além do atendimento do Programa de Saúde da Família (PSF) na cidade e também em duas comunidades rurais.

Acostumada à demora de atendimento, boa parte da população aprova a chegada de estrangeiros. Mas há quem faça ressalvas. "Acho excelente a cidade receber médicos, independentemente de onde eles venham ", diz a paciente Vera Lúcia Ferreira dos Santos, de 44 anos, que ontem aguardava para ser atendida na única unidade básica em funcionamento na cidade, a UBS Zilda Maria Pinto, no Bairro Nossa Senhora de Fátima. O aposentado Hélio Cruz, de 65, também apoia a chegada de médicos. Mas a aposentada Maria Zélia Marques, de 75, considera “falta de responsabilidade” a contratação de pessoas que “nem falam português”.

A aposentada Vera dos Santos diz ser boa a quantidade de enfermeiros no local, mas reclama da falta de médicos, que muitas vezes limita a atuação desses profissionais. "As pessoas chegam cedo, mas os médicos só aparecem por volta das 10h. Saem para o almoço e no meio da tarde param de atender. Quando estão nos distritos rurais, a gente sai sem ser atendido", conta. Ela relata que muitas vezes a situação é tão precária que pacientes chegam a ficar nervosos e xingam os funcionários.

Na UBS, os dois médicos se revezam na prestação do serviço. Um deles trabalha na urgência e atende consultas às segundas, quintas e domingos, durante o dia, e também é plantonista todas as noites. Já o outro clínico cobre o atendimento diurno das terças, quartas, sextas e sábados na unidade e na zona rural. "As comunidades são distantes e os médicos demoram a chegar. Com isso, quando tem atendimento nos distritos rurais, não tem médico na cidade e vice-versa", explica a secretária de saúde Denise Maria de Carvalho. Ela diz ter sido “um sufoco” conseguir fixar os profissionais na cidade.

Somente depois de aumentar a remuneração do contrato dos médicos é que foi possível atrair esses trabalhadores para Taquaraçu. Enquanto os salários oferecidos de janeiro a abril eram em torno de R$ 9 mil, hoje ficam entre R$ 15 mil e R$ 23 mil, segundo Denise. "A secretária, que ocupava o cargo nesse período, ligou para mais de 50 profissionais e nenhum queria vir. Diziam já estar trabalhando em outro lugar mais próximo ou que o salário era baixo", afirma.

Com cólica renal, Ilma Sena foi medicada em Taquaraçu, mas acabou transferida para Santa Luzia para consultar um médico(foto: Marcos Michellin/EM/D.A.Press)
Com cólica renal, Ilma Sena foi medicada em Taquaraçu, mas acabou transferida para Santa Luzia para consultar um médico (foto: Marcos Michellin/EM/D.A.Press)


DESAFIO Os médicos cubanos enfrentarão muitos problemas em Taquaraçu. Além de morar numa cidade com ruas esburacadas, terão de lidar com a falta de infraestrutura. A única UBS funciona como unidade mista, acumula o serviço do PSF e urgência do posto de saúde, que está em reforma, e presta serviços básicos. Mas não tem raio X nem laboratório para exame de sangue. De acordo com a secretária, 40% dos habitantes são idosos, hipertensos e diabéticos.

O gasto mensal com transporte por ambulâncias é de R$ 21 mil, semelhante ao salário dos médicos na cidade. São cinco veículos e 10 motoristas levando e trazendo pacientes de municípios vizinhos. A aposentada Ilma Magalhães Sena, de 59 , chegou à UBS com queixa de cólica renal e foi medicada em Taquaraçu, mas quatro horas depois foi transferida para Santa Luzia, acompanhada da irmã Íris. Elas elogiam o atendimento dos funcionários, mas reclamam da precariedade do serviço médico. "Precisamos de profissionais especialistas também. Aqui só temos poucos clínicos gerais ", diz Ilma. (Colaborou Tiago de Holanda)

DESTINO DE CUBANOS
Cidades mineiras que devem receber médicos da ilha caribenha

Açucena: Vale do Aço
Antônio Dias: Vale do Aço
Barão de Cocais: Região Central
Dionísio: Região Central
Funilândia: Região Central
Gameleiras: Norte
Iapu: Vale do Aço
Icaraí de Minas: Norte
Jaboticatubas: Grande BH
Jaguaraçu: Vale do Aço
Josenópolis: Norte
Mamonas: Norte
Mário Campos: Grande BH
Marliéria: Vale do Aço
Miravânia: Norte
Ninheira: Norte
Pai Pedro: Norte
Pingo D'Água: Vale do Rio Doce
Prudente de Morais: Central
São João das Missões: Norte
São João do Oriente: Vale do Aço
São José da Varginha: Centro-Oeste
Taquaraçu de Minas: Grande BH


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