Cerca 800 famílias invadiram 200 hectares de área preservada na Granja Werneck, na região do Ribeirão Isidoro, no Vetor Norte de Belo Horizonte, divisa com os bairros Novo Tupi, Ribeiro de Abreu, Antônio Ribeiro de Abreu, Lajedo e Tupi B. Matas nativas preservadas há mais 90 anos estão sendo derrubadas e queimadas. A ocupação, que aumenta a cada dia, pode comprometer um projeto de construção de um bairro sustentável com 17,5 mil apartamentos para cerca de 60 mil pessoas. O clima é de tensão. Donos de terrenos vizinhos já contrataram segurança armada.
Um dos líderes da ocupação, o almoxarife Cleidson Goulart, de 30 anos, informou que a invasão começou no dia 4. Três dias depois, já eram 311 famílias, todas dos bairros Londrina e Baronesa, do município vizinho de Santa Luzia, do outro lado da cerca. "Tem um projeto do Minha casa minha vida para esse terreno. Só que os moradores de Santa Luzia não foram inseridos, apenas os de Belo Horizonte", disse Cleidson. Ele conta que a iniciativa foi das próprias famílias, que não são representadas por alguma entidade. No acampamento existem muitos idosos, crianças e portadores de necessidades especiais.
A dona de casa Izabel Patrícia Santiago, de 40, vive numa barraca de lona com os filhos de 7, 10 e 13 anos. "Pago R$ 200 de aluguel no Bairro Londrina. Passei aqui e vi meninos montando barracas. Tranquei minha casa e vim com meus filhos. Como ontem ameaçou chover, eles foram dormir em casa", disse Izabel, que já usa energia clandestina puxada de um poste. As áreas estão sendo demarcadas com arame farpado, inclusive os espaços que servem de "uas".
Dez vigilantes foram contratados pelos sócios de uma rede de hipermercados, dona da fazenda ao lado, para fazer a segurança armada 24 horas por dia. "Os invasores passam perto da cerca disparando tiros para o alto para intimidar a gente", acusa o vigilante Rodrigo Alves. "Chegamos há duas semanas e o clima está cada vez mais tenso. Já teve até corretor vendendo lotes no terreno invadido", acrescentou. O aposentado Elias Pereira Rocha, de 80, mora há 30 anos na fazenda ao lado e também está apreensivo: "Minha proteção tem sido Deus e os vigilantes", disse.
O terreno invadido pertence à empresa Granja Werneck S.A. O presidente do grupo, o engenheiro civil e acionista Fernando Werneck, entrou com pedido de reintegração de posse na 15ª Vara Criminal do Fórum Lafayette. A liminar foi concedida no dia 19 pela juíza Aída Oliveira Ribeiro. "Dependemos apenas da Polícia Militar para acompanhar o oficial de Justiça", disse. A 18ª Cia do 13ª BPM, responsável pela região, informou que não tem conhecimento da ordem judicial. Fernando Werneck, entretanto, garante que a PM foi comunicada.
A Granja Werneck tem 400 hectares e a metade já está ocupada por barracas de lonas, segundo Fernando. "Os invasores já estão construindo casas de alvenaria e desmatando uma área verde que minha família preservou por 90 anos. Essa ocupação compromete o projeto que vai ocupar 356 hectares de toda a granja", disse o engenheiro. "Estão acabando com a parte ambiental, que é a cereja do bolo do empreendimento", lamentou.
Preservação ambiental
O consultor ambiental Sérgio Myssior, dono da empresa MYR, contratada pelo Consórcio Santa Margarida (formado pelas empresas Rossi Residencial e Direcional Engenheiro, donas do empreendimento) para fazer o estudo ambiental da área, explica que a prefeitura fez estudos ambientais e urbanos para desenvolvimento sustentável da região. ”Esses estudos embasaram a alteração urbana do Isidoro, que foi apresentada com a revisão do Plano Diretor e a Lei de Uso e Ocupação do Solo (Lei 9.959, de julho de 2010)”, informou Myssior. Há determinação de que 10% das moradias sejam destinadas ao programa de habitação municipal.
Myssior diz que foi feito zoneamento no Isidoro, dividido em três graus de proteção ambiental (máximo, moderado e leve). “Dentro dessa área, os proprietários da Granja Werneck desenvolveram um projeto. Das 65 mil habitações previstas no projeto de alteração urbana do Isidoro, 17,5 mil seriam atendidas por meio do projeto Granja Werneck”, informou.
O estudo ambiental considerou os cursos d’água, nascentes e remanescentes florestais e concluiu que 68% da granja devem ser destinados integralmente à preservação, formando um parque metropolitano do tamanho do Mangabeiras, com 2,3 milhões de metros quadrados. A Prefeitura de Belo Horizonte informou que o Projeto Isidoro já tem licença prévia desde 2010, mas ainda falta a licença de implantação para o início das obras.
Um dos líderes da ocupação, o almoxarife Cleidson Goulart, de 30 anos, informou que a invasão começou no dia 4. Três dias depois, já eram 311 famílias, todas dos bairros Londrina e Baronesa, do município vizinho de Santa Luzia, do outro lado da cerca. "Tem um projeto do Minha casa minha vida para esse terreno. Só que os moradores de Santa Luzia não foram inseridos, apenas os de Belo Horizonte", disse Cleidson. Ele conta que a iniciativa foi das próprias famílias, que não são representadas por alguma entidade. No acampamento existem muitos idosos, crianças e portadores de necessidades especiais.
A dona de casa Izabel Patrícia Santiago, de 40, vive numa barraca de lona com os filhos de 7, 10 e 13 anos. "Pago R$ 200 de aluguel no Bairro Londrina. Passei aqui e vi meninos montando barracas. Tranquei minha casa e vim com meus filhos. Como ontem ameaçou chover, eles foram dormir em casa", disse Izabel, que já usa energia clandestina puxada de um poste. As áreas estão sendo demarcadas com arame farpado, inclusive os espaços que servem de "uas".
Dez vigilantes foram contratados pelos sócios de uma rede de hipermercados, dona da fazenda ao lado, para fazer a segurança armada 24 horas por dia. "Os invasores passam perto da cerca disparando tiros para o alto para intimidar a gente", acusa o vigilante Rodrigo Alves. "Chegamos há duas semanas e o clima está cada vez mais tenso. Já teve até corretor vendendo lotes no terreno invadido", acrescentou. O aposentado Elias Pereira Rocha, de 80, mora há 30 anos na fazenda ao lado e também está apreensivo: "Minha proteção tem sido Deus e os vigilantes", disse.
O terreno invadido pertence à empresa Granja Werneck S.A. O presidente do grupo, o engenheiro civil e acionista Fernando Werneck, entrou com pedido de reintegração de posse na 15ª Vara Criminal do Fórum Lafayette. A liminar foi concedida no dia 19 pela juíza Aída Oliveira Ribeiro. "Dependemos apenas da Polícia Militar para acompanhar o oficial de Justiça", disse. A 18ª Cia do 13ª BPM, responsável pela região, informou que não tem conhecimento da ordem judicial. Fernando Werneck, entretanto, garante que a PM foi comunicada.
A Granja Werneck tem 400 hectares e a metade já está ocupada por barracas de lonas, segundo Fernando. "Os invasores já estão construindo casas de alvenaria e desmatando uma área verde que minha família preservou por 90 anos. Essa ocupação compromete o projeto que vai ocupar 356 hectares de toda a granja", disse o engenheiro. "Estão acabando com a parte ambiental, que é a cereja do bolo do empreendimento", lamentou.
Preservação ambiental
O consultor ambiental Sérgio Myssior, dono da empresa MYR, contratada pelo Consórcio Santa Margarida (formado pelas empresas Rossi Residencial e Direcional Engenheiro, donas do empreendimento) para fazer o estudo ambiental da área, explica que a prefeitura fez estudos ambientais e urbanos para desenvolvimento sustentável da região. ”Esses estudos embasaram a alteração urbana do Isidoro, que foi apresentada com a revisão do Plano Diretor e a Lei de Uso e Ocupação do Solo (Lei 9.959, de julho de 2010)”, informou Myssior. Há determinação de que 10% das moradias sejam destinadas ao programa de habitação municipal.
Myssior diz que foi feito zoneamento no Isidoro, dividido em três graus de proteção ambiental (máximo, moderado e leve). “Dentro dessa área, os proprietários da Granja Werneck desenvolveram um projeto. Das 65 mil habitações previstas no projeto de alteração urbana do Isidoro, 17,5 mil seriam atendidas por meio do projeto Granja Werneck”, informou.
O estudo ambiental considerou os cursos d’água, nascentes e remanescentes florestais e concluiu que 68% da granja devem ser destinados integralmente à preservação, formando um parque metropolitano do tamanho do Mangabeiras, com 2,3 milhões de metros quadrados. A Prefeitura de Belo Horizonte informou que o Projeto Isidoro já tem licença prévia desde 2010, mas ainda falta a licença de implantação para o início das obras.