O cenário de degradação e sujeira que toma conta do Viaduto Santa Tereza, entre o Centro e Região Leste de Belo Horizonte, está com os dias contados. A prefeitura lançou ontem licitação para escolha da empresa responsável pela revitalização e implantação de um circuito de esportes radicais. Orçada em R$ 5 milhões, a obra será feita em parceria com o estado.
Está prevista a reforma estrutural do viaduto e do revestimento original. O Circuito de Esportes Radicais Santa Tereza será feito entre a Rua da Bahia e a Avenida dos Andradas, onde haverá pista de skate, quadra poliesportiva, anfiteatro e pistas de bicicleta. A vencedora da licitação só será conhecida em outubro e, segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), não há previsão de início das obras.
Quando a reforma foi anunciada em março, a expectativa era de que começasse em agosto e terminasse em julho de 2014. Quem passa pelo viaduto reclama de problemas como estrutura danificada, mau cheiro e poluição visual. "As escadas são intransitáveis. Pessoas ficam sentadas ali consumindo drogas", diz o tecnólogo em recursos humanos Edmar Duque. A professora Dilma Alves da Silva já testemunhou assaltos no local: "É um desleixo. Esse lugar está cheio de usuários de drogas e é perigoso, precisa de preservação".
O comandante da 6ª companhia do 1º Batalhão da Polícia Militar, major Gedir Rocha, responsável pelo policiamento na área, disse que houve uma redução de crimes neste ano no local. Segundo ele, há policiamento 24 horas no posto de observação em frente à Serraria Souza Pinto. PMs da cavalaria auxiliam na vigilância.
A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) informou que faz a lavagem do viaduto todos os dias. A Regional Centro-Sul disse que faz abordagens diárias a moradores de rua, para levá-los a abrigos. A chefe da Divisão de Pesquisa, Inventário e Documentação do Patrimônio Cultural da capital, Françoise Jean de Souza, garante que as intervenções artísticas no viaduto não serão prejudicadas.
Outros tempos
Caminho de notívagos
Otacílio Lage
Em 1969, aos 21 anos, quando passei a morar no Edifício Arcângelo Maletta, na Avenida Augusto de Lima com Rua da Bahia, as noites em Belo Horizonte eram convidativas a passeios pelo Centro e arredores, e o Viaduto Santa Tereza, com 40 anos, era uma atração à parte para mim, já que chegara recentemente do interior. Sua altura impressionava e até perturbou o escritor Fernando Sabino, que na primeira edição de Encontro marcado, afirmara que a obra tinha 50m do solo ao topo dos arcos, mas na segunda recuou para 30m. Era caminho obrigatório dos boêmios nas idas e vindas entre os bairros Santa Tereza e Floresta para os bares e restaurantes, no Centro, e acesso ao famoso bordel da Zezé, na Avenida Francisco Sales. Posso garantir que naquela época, no auge da ditadura militar, o Viaduto de Santa Tereza – projetado pelo engenheiro teuto-brasileiro Emílio Henrique Baumgart e originalmente batizado de Artur Bernardes na inauguração em setembro de 1929 – era limpo e respeitado tanto pelos caminhantes diurno quanto pelos notívagos, principalmente nas madrugadas de inverno, quando seus arcos desapareciam na cerração, cena que nunca mais saiu de minha memória.