Um nome ligado à história de Belo Horizonte, à fé do povo mineiro e a muitas ações de solidariedadeO beato padre Eustáquio (1890-1943) deixou marcas no coração de milhares de católicos que, todos os dias, fazem suas orações na Igreja dos Sagrados Corações, na Região NoroesteNessa sexta-feira, não foi diferente e cerca de 20 mil passaram pelo templo, onde foram celebradas oito missas, a do meio-dia presidida pelo arcebispo dom Walmor Oliveira de AzevedoA liturgia lembrou os 70 anos da morte do religioso holandês sepultado em BH em 31 de agosto de 1943“Ele era o missionário da saúde e da paz, exemplo de solidariedade e esperança”, disse dom Walmor, ao reverenciar a memória do padre.
Desde as 6h, o movimento era intenso dentro e fora da igreja do Bairro Padre EustáquioE muita gente queria saber do processo de canonização e relatar graças alcançadasO provincial da Congregação dos Sagrados Corações e vice-postulador da causa de canonização, padre Marcus Vinícius, explicou o processo está no VaticanoAssim, não há previsão de quando o sacerdote se tornará santo“Há sinais de graça na Holanda e no BrasilCom a beatificação, em 15 de junho de 2006, ele ficou conhecido em todo o país”, afirmou.
Diante do memorial com os restos mortais de padre Eustáquio, o aposentado Walter Vicente Aloísio, de 68, rezou e disse que seu pai era amigo do religioso“Para mim, ele já é santo.” Do outro lado, a funcionária de uma escola Terezinha Muniz depositou dois buquês e um vaso de flores brancas, simbolizando a paz, e colocou mais dois aos pés da imagem
VIDA EXEMPLAR O Dia do Beato Padre Eustáquio, nascido Humberto van Lieshout mostrou a forte identidade dele com o povo da capitalAté chegar a BH, foi uma longa jornada e a história começa em 3 de novembro de 1890Oitavo dos 11 filhos do casal Elisabeth van de Meulenhof e Guilherme van Lieshout, ele nasceu no povoado holandês de Aarle-RixtelAos 5 anos, entrou para a escola infantil do Instituto São JoséDepois foi para a escola latina de Gemert.
Em Gemert, Humberto, com quase 15 anos, foi convidado por um padre para estudar no seminárioEm 1905, o pai o entregou aos cuidados do padre superior do seminário Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, em Grave, na HolandaO jovem se interessou pela vida do padre belga Damião de Veuster, religioso da congregação, morto na ilha de Molokai, no Havaí, em 1889, conhecido como apóstolo dos hansenianos e beatificado pelo
PIONEIRO Em 1913, Humberto iniciou o noviciado em Tremelo, Bélgica, terra natal do beato DamiãoComo era costume, recebeu o nome o nome de EustáquioEm 1914, soldados alemães invadiram a casa do noviciadoEstourava a Primeira Guerra Mundial e, para evitar violência, os padres enviaram os noviços à casa paternaEustáquio foi para o convento de sua irmã freira, em Beek, na HolandaTempos depois, atendeu o chamado da congregação e voltou a Tremelo, onde, em 1915, fez votos religiosos temporáriosDepois de cursar filosofia, em Grave e Tilburg, em 1916, foi morar no seminário maior de Bavel para cursar teologiaEm 18 de março de 1918, fez votos perpétuos.
Conforme as pesquisas de José Vicente de Andrade, biógrafo de padre Eustáquio, em 1924 ele foi nomeado pioneiro da província holandesa da congregação na América do Sul, com os padres Gil van den Boogaart e Matias van RooyEmbarcaram para o Brasil a convite do bispo de Uberaba (MG), dom Antônio de Almeida Lustosa, que procurava institutos religiosos europeus que pudessem oferecer padres para suprir a carência de clero no sertão brasileiroEm 1925, zarparam do porto de Amsterdam rumo ao Rio de Janeiro.
Depois do desembarque no Rio, padre Eustáquio seguiu para a Paróquia de Nossa Senhora da Abadia, em Romaria, então chamada Água Suja, no TriânguloApreciador de santuários e incentivador de peregrinações, ele se sentia feliz por estar no lugarejo e começou a pesquisar os fundamentos da devoção a Nossa Senhora da AbadiaCerto de que estava no Brasil para trabalhar, se entrosou com a comunidade e ajudou necessitadosSempre de batina branca, tornou-se amigo das crianças e as reunia para catecismo e jogos.