O terreno onde seria construída a rodoviária, no Bairro Calafate, na Região Oeste de Belo Horizonte, dará lugar a um piscinão com capacidade para 600 milhões de litros, seis vezes o volume da Barragem Santa Lúcia, no Centro-SulA bacia de detenção de água da chuva, que só perderá em tamanho na capital para a Lagoa da Pampulha, vai evitar transbordamento do Ribeirão ArrudasA prefeitura pretende começar as obras no início do ano que vemMas, considerando o histórico de polêmicas envolvendo a rodoviária, que não vingou, o projeto não deverá navegar em águas mansasAo lado da Via Expressa e da Silva Lobo, importantes avenidas da cidade, a obra de grande impacto urbano já é vista como paliativa por especialista e levanta dúvidas e resistência de moradores da área que será desapropriada.
A bacia de detenção do Calafate faz parte de um pacotão de R$ 1 bilhão em obras de prevenção de enchentes com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, com contrapartida da prefeitura
Além do Calafate, o Arrudas terá bacia de detenção no Bairro das Indústrias, divisa com ContagemAs duas estão orçadas em R$ 328 milhões, sendo R$ 23 milhões da prefeituraA obra no ribeirão já havia sido proposta pela administração municipal em 2011 e foi incluída no Plano Diretor da Bacia Hidrográfica do Ribeirão ArrudasA expectativa é de que as duas obras comecem no ano que vem e terminem no fim de 2016“Vão minimizar bastante o risco de enchentes na região e um dos motivos para priorizá-la foi a cobertura do Arrudas, com o bulevar”, avalia o gerente de Programas Especiais da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smob), Ricardo AroeiraAtualmente, BH conta com 12 bacias.
A obra na região dos bairros Calafate e Coração Eucarístico vai engolir a Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, que faz a ligação das avenidas Tereza Cristina e Silva Lobo
Uma galeria subterrânea será construída na Tereza Cristina, ao lado do Arrudas, para receber a água que extravasaria do leito do ribeirãoEsse excedente irá direto para a bacia de detenção“Ela será devolvida aos poucos para o Arrudas, por gravidade e um sistema de comportas”, informa AroeiraOs detalhes em relação às mudanças de trânsito ainda estão sendo definidos“Não há qualquer conflito com a expansão do metrô e o desvio de tráfego será detalhado no projeto executivo”, ressalta.
Já a bacia de detenção do Bairro das Indústrias terá funcionamento parecido, mas capacidade de 120 milhões de litros, equivalente à da Barragem Santa Lúcia.
CANALIZAÇÃO E OCUPAÇÃO DO SOLO
Um dos coordenadores do Projeto Manuelzão, da UFMG, Marcus Vinícius Polignano considera a bacia uma medida paliativa“Qualquer ação que tenha um impacto na captação e reserva da água de chuva tem resultado positivo, mas a dúvida é se isso resolverá o problema, dada a impermealização da regiãoA prefeitura tem que atacar questões sistêmicas, como restrição das canalizações, controle do uso e ocupação do solo e plano estratégico para áreas verdes”, reforçaO Manuelzão busca a recuperação da Bacia do Rio das Velhas, à qual o Arrudas pertence.
Na sexta-feira, representantes da prefeitura se reuniram com os moradores para apresentar detalhes do projeto
O bar de Sílvio Ribeiro, de 59, funciona no primeiro piso e a casa fica no segundo andar do imóvel na Presidente Juscelino Kubitschek, bem no meio da futura barragem“Não sei como vou fazer com meu ganha-pão”, ressalta Sílvio, que rejeita o projeto“Isso vai virar lixão a céu aberto”, dizDo alto do prédio, no Calafate, a dona de casa Fátima de Oliveira, de 52, acha que a bacia pode ser boa ideia: “É melhor do que a rodoviária e aqui precisamos muito de áreas de lazer, mas não dá para saber ainda quais serão os impactos para o trânsito”.