O terreno onde seria construída a rodoviária, no Bairro Calafate, na Região Oeste de Belo Horizonte, dará lugar a um piscinão com capacidade para 600 milhões de litros, seis vezes o volume da Barragem Santa Lúcia, no Centro-Sul. A bacia de detenção de água da chuva, que só perderá em tamanho na capital para a Lagoa da Pampulha, vai evitar transbordamento do Ribeirão Arrudas. A prefeitura pretende começar as obras no início do ano que vem. Mas, considerando o histórico de polêmicas envolvendo a rodoviária, que não vingou, o projeto não deverá navegar em águas mansas. Ao lado da Via Expressa e da Silva Lobo, importantes avenidas da cidade, a obra de grande impacto urbano já é vista como paliativa por especialista e levanta dúvidas e resistência de moradores da área que será desapropriada.
A bacia de detenção do Calafate faz parte de um pacotão de R$ 1 bilhão em obras de prevenção de enchentes com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, com contrapartida da prefeitura.
A obra na região dos bairros Calafate e Coração Eucarístico vai engolir a Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, que faz a ligação das avenidas Tereza Cristina e Silva Lobo. Com cinco metros de profundidade, o piscinão terá capacidade para 600 milhões de litros de água, alimentados pela água da chuva. Em fase de projeto executivo, ainda não houve a definição se a bacia ficará seca fora dos período chuvoso ou com espelho d’água permanente de poucos centímetros, para fins paisagísticos. De toda forma, a área receber equipamentos e espaços de lazer.
Uma galeria subterrânea será construída na Tereza Cristina, ao lado do Arrudas, para receber a água que extravasaria do leito do ribeirão. Esse excedente irá direto para a bacia de detenção. “Ela será devolvida aos poucos para o Arrudas, por gravidade e um sistema de comportas”, informa Aroeira. Os detalhes em relação às mudanças de trânsito ainda estão sendo definidos. “Não há qualquer conflito com a expansão do metrô e o desvio de tráfego será detalhado no projeto executivo”, ressalta.
Já a bacia de detenção do Bairro das Indústrias terá funcionamento parecido, mas capacidade de 120 milhões de litros, equivalente à da Barragem Santa Lúcia.
CANALIZAÇÃO E OCUPAÇÃO DO SOLO
Um dos coordenadores do Projeto Manuelzão, da UFMG, Marcus Vinícius Polignano considera a bacia uma medida paliativa. “Qualquer ação que tenha um impacto na captação e reserva da água de chuva tem resultado positivo, mas a dúvida é se isso resolverá o problema, dada a impermealização da região. A prefeitura tem que atacar questões sistêmicas, como restrição das canalizações, controle do uso e ocupação do solo e plano estratégico para áreas verdes”, reforça. O Manuelzão busca a recuperação da Bacia do Rio das Velhas, à qual o Arrudas pertence.
Na sexta-feira, representantes da prefeitura se reuniram com os moradores para apresentar detalhes do projeto. A principal preocupação da comunidade é a desapropriação. “Tem gente que prefere dinheiro, outros apartamento. Estamos nos mobilizando para ver como vai ficar e para que esse processo ocorra de forma justa”, afirma o motorista Alexandro de Souza, de 21, líder comunitário da Vila Bambirra, uma das áreas mais atingidas.
O bar de Sílvio Ribeiro, de 59, funciona no primeiro piso e a casa fica no segundo andar do imóvel na Presidente Juscelino Kubitschek, bem no meio da futura barragem. “Não sei como vou fazer com meu ganha-pão”, ressalta Sílvio, que rejeita o projeto. “Isso vai virar lixão a céu aberto”, diz. Do alto do prédio, no Calafate, a dona de casa Fátima de Oliveira, de 52, acha que a bacia pode ser boa ideia: “É melhor do que a rodoviária e aqui precisamos muito de áreas de lazer, mas não dá para saber ainda quais serão os impactos para o trânsito”.