O relacionamento entre Vicente (nome fictício) e a mulher mudou depois que tiveram o primeiro filho, há cerca de dois anos“Deu uma esfriada, o casamento entrou em crise”, recorda o homem, de 26 anos, estudante de administraçãoPara sair do marasmo, ele resolveu arriscar“Quis dar uma variada”, explicaFoi a um sex shop, loja de produtos eróticos, e descobriu que havia tipos de gel que tornavam mais sensíveis as partes do corpo em que fossem aplicadosNo começo, a mulher, de 25, estranhou, mas acabou gostandoE o casal nunca mais deixou de usar os excitantes“A gente deu uma esquentada”, diz o marido, que pede anonimato“Sou evangélico, pode pegar mal”, explica.
As “esquentadas” atraem cada vez mais gente no paísSegundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), o setor cresceu 15,2% por ano entre 2005 e 2012Minas é o terceiro estado mais consumidor, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro
As “datas especiais” costumam aquecer o mercado, como o Dia dos Namorados, em junho, e o Dia do Sexo, criado em 2008 por uma fabricante de preservativos e celebrado hoje (6/9), data escolhida por fazer alusão a uma posição sexual bastante conhecidaSegundo a Abeme, 62% das mulheres que frequentam lojas de produtos eróticos vão acompanhadas de amigasFoi o que ocorreu ontem à tarde, quando Delma Carolina – “não publica o sobrenome, porque é do meu pai e ele vai me matar”, pediu, rindo – e Tatiana (nome fictício) foram a uma loja na Galeria do Ouvidor, prédio comercial com vários sex shops no Centro da capital.
ESTREIA Operadora de telemarketing, Delma, de 21 anos, já havia ido outras vezes, mas era a estreia da colega, de 19“Só tomei coragem porque estou com elaPassava na frente e dava uma olhada, mas sempre tive vergonha de entrar e as pessoas ficarem me olhando”, explicou TatianaDelma lembra que virou cliente antes mesmo de completar a idade mínima exigida de 18 anos“Quando tinha 17 anos, mandava outras pessoas comprarem para mim”, contou
Delma e Tatiana não demonstravam timidez, enquanto a vendedora lhes apresentava outros “brinquedos”“Hoje, os clientes encaram com muito mais naturalidade, vendemos muito maisAntes era tabu mesmo, sex shop era quase um lugar proibido”, constata Aline Anício, dona da loja há seis anos, junto com a mãe, Lindalva InáciaPorém, nem todos os clientes ficam à vontade“Alguns chegam e olham os produtos, calados, não perguntam nadaE vão embora quando a gente se aproxima”, contaOutros evitam olhar nos olhos das atendentes e, ao comprar o artigo desejado, pedem: “Embrulha bem discreto”É por isso que as embalagens são feitas de papel pardo ou plástico preto, sem inscrição na superfíciePara não quebrar o sigilo, as lojas não imprimem seus nomes nas faturas do cartão de créditoA de Aline, por exemplo, é rebatizada com um inofensivo “Star Game”.
SURPRESA Em um sex shop na Avenida Álvares Cabral, no Centro, o médico aposentado Geraldo (nome fictício), de 64, aproximou-se do balcão e cumprimentou o atendente: “Oi, tudo bem? Quanto está o vibrador convencional?”Emerson Afonso mostrou alguns produtos pequenos, que lembram balas de revólver“Tem em formato de pênis tambémO grande é mais interessanteA mulherada prefere esse, que tem controle de vibração, o material é mais confortável”, explicou o vendedorO cliente gostou e perguntou o preçoCustava R$ 149,90Geraldo hesitou, explicou que precisava pagar uma conta e não tinha dinheiro suficienteO vendedor baixou o preço para R$ 130“Vou levarPago a conta depois”, decidiu.
Geraldo explicou que já tinha entrado na loja outras vezes, mas nunca tinha levado nadaO vibrador era um presente para a mulher“Vai ser uma surpresaNem sei se ela vai gostar”, disseA inspiração para o inédito regalo veio de filmes pornográficos“Já vi muito em filmesSempre pensei que talvez fosse bomDar uma apimentada, né?”.
O aposentado quis surpreender a mulher, mas o ideal é que, antes de o produto ser comprado, o casal converse sobre o assunto, segundo a psicóloga Cintia Pereira Jorge, especialista em sexologia pelo Hospital Mater Dei“O interessante é ter primeiro um diálogo com o parceiro, para saber o que ele pensa”, explica“A novidade pode ajudar a relação a sair da monotonia, desde ambos aceitem o produtoO uso dele pode tornar o casal mais íntimo, ajudar os parceiros a se conhecerem melhor, a terem uma percepção maior do próprio corpo e do corpo do outro.”