O relacionamento entre Vicente (nome fictício) e a mulher mudou depois que tiveram o primeiro filho, há cerca de dois anos. “Deu uma esfriada, o casamento entrou em crise”, recorda o homem, de 26 anos, estudante de administração. Para sair do marasmo, ele resolveu arriscar. “Quis dar uma variada”, explica. Foi a um sex shop, loja de produtos eróticos, e descobriu que havia tipos de gel que tornavam mais sensíveis as partes do corpo em que fossem aplicados. No começo, a mulher, de 25, estranhou, mas acabou gostando. E o casal nunca mais deixou de usar os excitantes. “A gente deu uma esquentada”, diz o marido, que pede anonimato. “Sou evangélico, pode pegar mal”, explica.
As “esquentadas” atraem cada vez mais gente no país. Segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), o setor cresceu 15,2% por ano entre 2005 e 2012. Minas é o terceiro estado mais consumidor, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. As mulheres representam 65% dos clientes dos tradicionais sex shops e 60% dos que compram pela internet. Os líderes são os géis para sexo oral (21% das vendas), com mais de 40 sabores. “O mais procurado é um que esquenta e tem sabor de morango”, informa a presidente da Abeme, Paula Aguiar. Em segundo lugar estão os géis funcionais (18%), como retardantes e vibradores líquidos, que provocam leve sensação de formigamento.
As “datas especiais” costumam aquecer o mercado, como o Dia dos Namorados, em junho, e o Dia do Sexo, criado em 2008 por uma fabricante de preservativos e celebrado hoje (6/9), data escolhida por fazer alusão a uma posição sexual bastante conhecida. Segundo a Abeme, 62% das mulheres que frequentam lojas de produtos eróticos vão acompanhadas de amigas. Foi o que ocorreu ontem à tarde, quando Delma Carolina – “não publica o sobrenome, porque é do meu pai e ele vai me matar”, pediu, rindo – e Tatiana (nome fictício) foram a uma loja na Galeria do Ouvidor, prédio comercial com vários sex shops no Centro da capital.
ESTREIA Operadora de telemarketing, Delma, de 21 anos, já havia ido outras vezes, mas era a estreia da colega, de 19. “Só tomei coragem porque estou com ela. Passava na frente e dava uma olhada, mas sempre tive vergonha de entrar e as pessoas ficarem me olhando”, explicou Tatiana. Delma lembra que virou cliente antes mesmo de completar a idade mínima exigida de 18 anos. “Quando tinha 17 anos, mandava outras pessoas comprarem para mim”, contou. As primas mais velhas falavam tanto nos produtos que Delma se interessou e já tem fantasias de odalisca, policial, enfermeira, colegial... “Nossa, o sexo fica muito melhor. Tem que incrementar, senão cai na mesmice”, disse. Ontem, as duas compraram frasquinhos com vibradores líquidos e géis excitantes, que são comestíveis e esquentam ao serem aplicados.
Delma e Tatiana não demonstravam timidez, enquanto a vendedora lhes apresentava outros “brinquedos”. “Hoje, os clientes encaram com muito mais naturalidade, vendemos muito mais. Antes era tabu mesmo, sex shop era quase um lugar proibido”, constata Aline Anício, dona da loja há seis anos, junto com a mãe, Lindalva Inácia. Porém, nem todos os clientes ficam à vontade. “Alguns chegam e olham os produtos, calados, não perguntam nada. E vão embora quando a gente se aproxima”, conta. Outros evitam olhar nos olhos das atendentes e, ao comprar o artigo desejado, pedem: “Embrulha bem discreto”. É por isso que as embalagens são feitas de papel pardo ou plástico preto, sem inscrição na superfície. Para não quebrar o sigilo, as lojas não imprimem seus nomes nas faturas do cartão de crédito. A de Aline, por exemplo, é rebatizada com um inofensivo “Star Game”.
SURPRESA Em um sex shop na Avenida Álvares Cabral, no Centro, o médico aposentado Geraldo (nome fictício), de 64, aproximou-se do balcão e cumprimentou o atendente: “Oi, tudo bem? Quanto está o vibrador convencional?”. Emerson Afonso mostrou alguns produtos pequenos, que lembram balas de revólver. “Tem em formato de pênis também. O grande é mais interessante. A mulherada prefere esse, que tem controle de vibração, o material é mais confortável”, explicou o vendedor. O cliente gostou e perguntou o preço. Custava R$ 149,90. Geraldo hesitou, explicou que precisava pagar uma conta e não tinha dinheiro suficiente. O vendedor baixou o preço para R$ 130. “Vou levar. Pago a conta depois”, decidiu.
Geraldo explicou que já tinha entrado na loja outras vezes, mas nunca tinha levado nada. O vibrador era um presente para a mulher. “Vai ser uma surpresa. Nem sei se ela vai gostar”, disse. A inspiração para o inédito regalo veio de filmes pornográficos. “Já vi muito em filmes. Sempre pensei que talvez fosse bom. Dar uma apimentada, né?”.
O aposentado quis surpreender a mulher, mas o ideal é que, antes de o produto ser comprado, o casal converse sobre o assunto, segundo a psicóloga Cintia Pereira Jorge, especialista em sexologia pelo Hospital Mater Dei. “O interessante é ter primeiro um diálogo com o parceiro, para saber o que ele pensa”, explica. “A novidade pode ajudar a relação a sair da monotonia, desde ambos aceitem o produto. O uso dele pode tornar o casal mais íntimo, ajudar os parceiros a se conhecerem melhor, a terem uma percepção maior do próprio corpo e do corpo do outro.”