Manifestantes presos ontem, durante os protestos do Dia da Independência, podem ser indiciados por crime de formação de quadrilha, além de dano ao patrimônio e desacato à autoridadeAté o fim da noite, 61 pessoas haviam sido detidas, entre elas 16 menores apreendidos, numa ação policial que prometia varar a madrugadaAntes mesmo dos protestos, as polícias Militar e Civil anunciaram que iriam apertar o cerco aos mascarados e reprimir depredações.
Integrantes do Black Bloc, identificados como partidários da tática anarquista de protesto e que atuam na linha de frente do combate, já estavam sendo monitorados pela PMPelo menos 28 detidos têm ligação com o grupo, de acordo com a presidente da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG), Cíntia Ribeiro de Freitas, que acompanhava os trabalhos.
A comandante do Comando de Policiamento da Capital, coronel Cláudia Romualdo, informou por volta das 20h que a PM estava individualizando as participações"Pessoas identificadas como participantes do Black Bloc serão enquadradas em crimes mais graves, como formação de quadrilhaOs demais serão encaminhados para a Central de Flagrantes e, havendo provas, responderão por desacato a autoridade e outros crimes mais leves", afirmouSegundo ela, o grupo pretendia invadir o Palácio da Liberdade e ainda tumultuar manifestações pacíficas.
ANTECEDENTE
A polícia averiguou a ficha criminal dos manifestantes e pelo menos um deles já tinha antecedentes e estava sendo procuradoOs jovens foram levados para a 3ª Área Integrada de Segurança Pública (Aisp), localizada no Edifício JK, na Rua Rio Grande do Sul, esquina com Avenida Amazonas, no Barro Preto, Região Centro-SulJá os menores foram encaminhados ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA).
Houve forte tumulto em frente à AispO local virou ponto de concentração de manifestantes depois da detenção de cerca de 20 pessoas, no início da tarde, na Praça da LiberdadeMais de 150 jovens foram para a frente da delegacia pedir pela liberação dos "companheiros"
O estudante de jornalismo do Centro Universitário UNA João Vítor Alves, de 20 anos, que cobria os protestos para o jornal laboratório Contramão, foi atingido por um policial na cabeçaA estudante de direito Ingrid Antunes, de 20, foi atingida por estilhaço de bombas nas pernasMoradora de Vitória (ES), ela estava na capital mineira visitando uma tia"Minha tia mora aqui perto, viemos ver o que estava acontecendo e acabei sendo atingida", disse, assustadaDois manifestantes detidos também ficaram feridos e foram levados para o Hospital de Pronto-Socorro João 23.
Amigos dos jovens detidos criticaram a ação policial"Meu namorado foi preso do nada por desacato", disse Karine de Sá, de 19Um grupo de seis advogados, que atuaram nos confrontos de junho, estava acompanhando os jovens detidosHavia também representantes do Ministério Público e da OAB.
Os detidos pela PM seriam levados ontem mesmo ao Instituto Médico Legal para fazer exame de corpo de delitoA corregedoria da Polícia Militar informou que vai investigar eventuais abusos contra os manifestantes.
Desacato e confusão
Os primeiros tumultos na cidade começaram poucos antes das 15h, quando um manifestante tirou a calça e, despido, se virou de costas para os militares, na Praça da Liberdade"Houve desacato e depois agressão física", avaliou o tenente-coronel Alberto Luiz Carvalho
Após o primeiro confronto começou uma confusão generalizada e 12 pessoas foram presasOs detidos ficaram deitados e imobilizados no chão da Praça da Liberdade até a chegada de viaturas que os levaram para delegaciasAlguns chegaram a serem arrastados no chão pelos militares"Eu e os policiais queremos mudanças para o país, mas não aceitamos ser agredidos", justificou o militar
A manifestação começou na Praça 7 pouco antes das 10hGrupos apresentavam diferentes reivindicações e gritavam palavras de ordem que iam desde contra uma possível intervenção militar na Síria até indagações a respeito do destino do pedreiro Amarildo, desaparecido em uma ação policial na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, há mais de um mês.
Outro grupo, de manifestantes com os rostos cobertos e segurando placas de madeira como escudo, chegou à Praça Sete por volta das 13h30Nos escudos estavam escritos dizeres os identificando como partidários da tática anarquista de protesto, o Black Bloc
Os manifestantes mascarados se uniram a um grupo de 10 punks que passaram mais de três horas sentados do cruzamento da Avenida Afonso Pena com Amazonas bebendo cachaça em pequenas garrafas plásticas e tomando vodkaCom a chegada dos black blocs os punks se uniram a eles e partiram em direção à Prefeitura de Belo Horizonte, com gritos desafiando a autoridade policial
Nesse momento, por volta das 14h30, o contigente policial aumentou e os manifestantes subiram a Rua da Bahia em direção à Praça da LiberdadeQuando passavam próximo ao relógio da Copa começaram a chutar o monumento e o clima ficou tenso até o estopim, quando um manifestante fez "bundalelê" e foi presoApós o tumulto um trio elétrico chegou à praça e um policial anunciou um toque de recolher, conclamado os "cidadãos de bem" a irem para a casa.
(colaborou Bruno Freitas)