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Estado de Minas

Mulheres de comunidade rural falam do artesanato como meio de fugir da depressão


postado em 14/09/2013 06:00

Em vez de tristeza e desencanto nos dias de uma das regiões mais quentes e carentes do estado, as donas de casa encontram alegria e perspectiva de futuro em trabalhos que exigem criatividade e dedicação(foto: Manoel Freitas/especial para o EM)
Em vez de tristeza e desencanto nos dias de uma das regiões mais quentes e carentes do estado, as donas de casa encontram alegria e perspectiva de futuro em trabalhos que exigem criatividade e dedicação (foto: Manoel Freitas/especial para o EM)

Matias Cardoso
– Mulheres da comunidade da Praia, na zona rural de Matias Cardoso, Norte de Minas, viviam ociosas na maior parte do tempo, sem perspectiva de melhoria diante das carências do lugar, reforçadas pelos efeitos da seca. O sentimento de tristeza e desânimo foi substituído pela alegria. Elas ganharam novo sentido na vida com o resgate da autoestima e opção de renda. A transformação na pequena localidade às margens do Rio São Francisco, a 680 quilômetros de BH, foi proporcionada pelo incentivo à produção de artesanato e outros trabalhos desenvolvidos no Projeto ArtVida, criado pela dona de casa Selma Evangelista Pereira de Souza, de 42 anos.

As atividades foram iniciadas há 10 anos. Selma, nas visitas às famílias do lugarejo como líder da Pastoral da Criança, percebeu a tristeza das mulheres, principalmente as mais idosas. “Algumas estavam em processo de depressão.” Ela pensou em criar algo que proporcionasse vida melhor às moradoras da comunidade. Como sabia fazer artesanato, decidiu ensinar o ofício às conterrâneas.

As aulas começaram com apoio da pastoral, que incentiva pequenos projetos de geração de renda. Aos poucos, o número de mulheres envolvidas nas atividades foi crescendo. Hoje, a Associação das Mulheres Artesãs da Praia, responsável pela gestão do projeto, tem 24 participantes. Das mãos delas saem bonecas de pano, peças de decoração, bordados e tapetes de retalhos feitos de material reciclável. Além da comercialização na comunidade, a quatro quilômetros da área urbana e à beira da MG-401 (Matias Cardoso- Manga), a produção é levada a feiras de artesanato e exposições em cidades da região.

A renda é dividida igualmente entre as artesãs.“ Era um sonho oferecer alternativa de geração de renda e melhorar as nossas condições. Sinto-me realizada pelo fato de as mulheres terem percebido que a mudança é possível”, afirma Selma, mãe de dois filhos. Ela tem o apoio do marido, o produtor rural Valdemir de Jesus Souza. Outro colaborador é o administrador Reginaldo Ribeiro. Ele doa grande parte do material reciclável usado no artesanato. “Esse projeto faz parte da minha vida”, diz Reginaldo.

Selma começou a ensinar artesanato na própria casa. Há cinco anos, oficializada a criação do Projeto ArtVida, conseguiu a construção da sede própria da associação, erguida em terreno doado pela mãe dela, Maria Evangelista da Conceição. A obra foi viabilizada com recursos de R$ 64 mil do Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR), do governo estadual. A sede serve ainda para outras atividades voltadas para o atendimento a moradores, como campanhas de vacinação.

Filhos e netos das participantes do projeto também são beneficiados em outra iniciativa de Selma. Ela criou o projeto Panelinha do Saber, que incentiva a leitura entre crianças. Foi montada uma pequena biblioteca com obras da literatura infantil. “Estamos abertos a doações de livros”, afirma a voluntária. Além de atender 21 crianças na faixa de 8 a 15 anos, ela leva a Panelinha às comunidades vizinhas. Hoje, a Associação das Mulheres Artesãs da Praia é presidida por Marluce Evangelista Pereira, de 38, irmã de Selma. “Procuramos fazer um trabalho sustentável, com a participação das mulheres e o envolvimento dos familiares. É gratificante contribuir com a melhoria de vida das pessoas”, diz Marluce.

HISTÓRIAS DE VIDA As mulheres atendidas pelo Projeto ArtVida carregam histórias de luta e dizem que encontraram um novo sentido. Adelice Pereira Sena, de 48 anos, relata que passou por problemas emocionais depois que uma pessoa da família foi vítima de um crime bárbaro. Ela entrou em depressão. A vida dela mudou quando começou a fazer artesanato. “O mais importante não é a renda, mas o fato de me sentir útil.” A aposentada Catarina Sena da Mata, de 69, mãe de Adelice, aprendeu a fazer bordado e se mostra envaidecida. “Nos sentimos em família.” Ela tem nove filhos, 34 netos e 11 bisnetos.

A também aposentada Helena Lima dos Santos, de 78, é outra que enaltece o projeto: “Vivia doente e com depressão. Foi Deus quem mandou esse projeto para a gente.” Ela conta que aprendeu a bordar e, além de frequentar a sede do projeto –, leva retalhos para confeccionar tapetes em casa. Marina Nunes dos Santos, de 50, faz bordados e bonecas de pano, um dos produtos mais conhecidos do ArtVida: “Eu não sabia fazer artesanato. Aí, a Selma me convidou para participar do projeto. Ela tem paciência e trata a gente com carinho e amor.”


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