Em 1913, o então prefeito Olyntho Deodato dos Reis Meirelles sancionou a Lei 67, que proibia a poluição do Arrudas e dos afluentes e multava os infratoresA boa intenção não saiu do papel e o descaso crescente levou à degradação e morte inevitável do ribeirãoEm 1993, a lei, considerada caduca, foi revogada pela Câmara Municipal, diante de legislação mais específicaO crescimento acelerado na primeira metade do século passado e a chegada de indústrias nos anos 1950 começaram a sufocar o ArrudasJá nos anos 1970 os peixes começaram a desaparecer e nos 1990 a contaminação chegou ao auge.
Hoje, os níveis de poluição assustamEstão acima dos ideais para cursos d’água de classe 3, na qual o ribeirão se encaixaNessa categoria, estão as águas onde é permitida a navegação, mas proibido o mergulhoA água também deveria estar propícia para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado, e à pesca amadora, mas os atuais índices de monitoramento reprovam a atividade
Dados do Relatório das Águas Superficiais em Minas Gerais, referentes ao primeiro trimestre, mostram que os níveis de coliformes (bactérias do intestino humano), fósforo, manganês e detergentes estão acima do limite permitido
“O Arrudas está fora da classe 3 e já se aproxima da classe 4, que inclui águas destinadas apenas à navegação e para compor a harmonia paisagística, como em lagos e lagoas”, alerta o gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Weber CoutinhoO ribeirão recebe esgoto doméstico de Belo Horizonte, Contagem e Sabará e efluentes industriais de metalúrgicas, siderúrgicas e de empresas do setor químico e têxtil
Coutinho afirma que a degradação é resultado da ocupação desordenada da cidade – tanto em áreas de invasão como na cidade formal – que não foi acompanhada por obras de infraestrutura“Ainda existem muitas ligações clandestinas de esgoto nas redes fluviais”, diz
Segundo a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), existem mais de 25 mil imóveis (cerca de 80 mil pessoas) que não estão conectados às redes coletoras disponíveis, dificultando a coleta e tratamento de todo o esgoto da bacia do Arrudas“Esses imóveis têm rede na porta, mas lançam esgotos na sarjeta, galerias pluviais ou áreas onde o esgoto acaba dentro dos córregos”, informou a empresa, por meio de nota
Idealizador do projeto Manuelzão, que busca a preservação do Rio das Velhas e afluentes, o médico Apolo Henriger, critica a apropriação do leito do ribeirãoSegundo ele, a construção de avenidas ao longo do córrego não só poluiu o Arrudas, como mudou toda a morfologia do curso d’água“Além de acabado com as fossas no período de construção da cidade e criar o conceito de que jogar esgoto no rio era símbolo de modernidade, ainda canalizaram a maior parte”, dizSegundo ele, a construção do Bulevar Arrudas é a maior mostra da falta de preservação do ribeirão
POLUIÇÃO SEM FIM
Outro problema que ameaça o Arrudas é a poluição difusa, formada por depósito de dejetos diretamente na rede fluvialSegundo a Copasa, 1,6 milhão de pessoas vive na bacia do Arrudas e toda a água de limpeza de carros e calçadas, lixo, óleos e graxas de automóveis que caem no solo são levados ao ribeirão pela chuvaPor todos esses fatores, o ribeirão apresenta uma série histórica de níveis ruins ou muito ruins no monitoramento de qualidade da água feitos pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam)“No caso do Arrudas, ainda é possível ter um nível de qualidade próximo da classe 3, mas jamais próximo de um curso d’água em seu leito natural”, explica Coutinho, referindo-se à impermeabilização do canal
A Copasa informou que desenvolve ações para evitar lançamento no rio, como o programa Caça-Esgoto, com investimento de R$ 157,9 milhões para implantação de redes coletoras, interceptores e novas ligaçõesA Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Arrudas, está em expansão e teve capacidade aumentada em 10 vezes desde 2012, de acordo com a empresaDe 280 litros de esgoto por segundo, trata atualmente três mil litros por segundoA empresa diz que faz trabalhos de conscientização ambiental com crianças e adultos para destinação correta de esgotos e para recuperação dos rios.