Essa discriminação não é a única a preocupar as entidades de classe brasileiras e a apartar os cubanos dos outros participantes do Mais Médicos vindos do exteriorA questão salarial também tem causado polêmicaOs médicos espanhóis, argentinos, portugueses e uruguaios selecionados pelo programa, bem como os brasileiros que se inscreveram, receberão R$ 10 mil da bolsa oferecida, o que não ocorrerá com os caribenhosOs nascidos na ilha ficarão apenas com uma parte do salário, já que a maior fatia será retida pelo governo dos irmãos Castro.
O dinheiro das bolsas será entregue pelo Brasil à Opas, que o encaminhará ao governo cubano, ao qual cabe decidir o quinhão dos médicos“Não podemos pagar diretamente ao médico cubanoO governo cubano só aceita enviar médicos sob a forma de um acordo bilateral”, explicou em agosto o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas BarbosaO ministério disse não saber quanto se destina aos profissionais, mas o secretário adjunto de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde da pasta, Fernando Menezes, afirmou que devem ganhar entre R$ 2,5 mil e R$ 4 milEntidades de classe receiam que o valor seja bem menor“Em Cuba, o salário do médico é muito baixo, de US$ 30 a US$ 60
MUITAS PROIBIÇÕES
Normas rígidas regulam a vida dos médicos cubanos no exteriorO regimento prevê que qualquer relação amorosa com nativos “seja informada imediatamente aos superiores, seja coerente com nosso pensamento revolucionário e não seja desmedida”O regulamento também estipula que, para sair após as 18h, o médico “solicite permissão a seu chefe imediato, informado-lhe aonde vai, se com companheiros cubanos ou nativos, e os objetivos da saída”O profissional, segundo o documento, “somente está autorizado a ingerir bebidas alcoólicas quando houver festividade nacional cubana, festas de aniversário ou despedida de colaboradores”Ele não pode participar de atos públicos não convocados por Cuba nem emitir opinião à imprensa“Muitos fugiram da Bolívia”, conta Aníbal Cruz, vice-presidente da Região Andina da Confederação Médica Latina-Americana e do Caribe (Confemel)Na Venezuela, que também contratou médicos cubanos, há relatos de rígidas restrições e mais de 500 “deserções”“Elas ocorrem em todos os países para onde Cuba exporta profissionais”, diz o vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Geraldo Ferreira.
No Brasil, o trabalho dos cubanos também será acompanhado por funcionários da OpasE talvez por gente ligada diretamente ao governo cubano, a julgar pelo relato do cubano Alexander Eladio de la Torre Lopes, de 35 anos, que participou de uma missão na África do Sul entre 2004 e 2005, quando se mudou para o Brasil“Representantes do Partido (Comunista) de Cuba, médicos ou não, atuavam como coordenadores, espécie de tutores
O Tribunal de Contas da União (TCU) está fazendo uma análise preliminar do termo firmado entre o Ministério da Saúde e a Opas e pode fazer uma auditoria nos termos do acordoO objetivo é verificar a legalidade do termo e as condições de infraestrutura com as quais lidarão os médicosO Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) instaurou inquérito para apurar possíveis violações de direitos humanos envolvendo a contratação dos caribenhosEm agosto, o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu denúncia formal da Fenam e iniciou investigação sobre as relações trabalhistas dos participantes do programa federal, especialmente o caso dos cubanos.