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Estado de Minas

Familiares de engenheiros mortos no Peru ainda estão sem respostas

Parentes não sabem o que ocorreu com os profissionais. Investigação está em aberto


postado em 23/09/2013 06:00 / atualizado em 23/09/2013 07:25

Sandra Kiefer

Fátima Bittencourt, 45 anos, viúva de Mário, morto no Peru (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press.)
Fátima Bittencourt, 45 anos, viúva de Mário, morto no Peru (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press.)

A dor da perda, a burocracia e os gastos não são os únicos problemas enfrentados por parte das famílias de mineiros que morreram no exterior. A dificuldade de cobrar investigação e punição também pode ser um tormento. A morte de dois especialistas em construção de hidrelétricas, enviados a trabalho ao Peru por uma empresa de engenharia de Minas Gerais, permanece em aberto desde 2011. Até hoje, os familiares do engenheiro Mário Augusto Soares Bittencourt, então com 61 anos, e do geólogo Mário Gramani Guedes, de 57 anos, de origem paulistana mas radicado em Uberlândia, não sabem ao certo nem a causa da morte dos dois, encontrados mortos na selva peruana em 25 de julho de 2011.

“Sinto que não enterrei meu marido. Até hoje, não sei dizer sequer como foi que o Mário morreu. Só sei que ele estava vivo, viajou a trabalho para o Peru e sumiu. Como vou tocar minha vida com esta incógnita? É revoltante”, diz, em prantos, a viúva Fátima Bittencourt, de 45 anos. Ela divide o sofrimento com a sogra, Zélia Bittencourt, e tenta ficar de pé para apoiar os filhos. A mais velha se casará ano que vem e o garoto, que leva o mesmo nome do pai, viajou em intercâmbio de um ano para a Austrália.

Nem mesmo agindo juntas, as duas famílias não conseguiram forçar as autoridades a se empenhar na investigação do duplo assassinato. A apuração ainda está em aberto, com tendência da polícia peruana de apontar causa natural. “Parece que existe interesse em abafar o caso, pois as comunidades indígenas peruanas eram contrárias ao alagamento da floresta para a construção de uma série de barragens no Peru para o fornecimento de energia elétrica, já acertadas entre os governos brasileiro e peruano”, afirma Fátima.

Batalha Fátima e Liliana Guedes, viúva de Mário Guedes, listaram todas as providências tomadas na tentativa de desvendar o suposto assassinato, o que incluiu pagamento de advogados no Brasil e em território peruano, idas ao local do crime, frequentes interurbanos, negociações junto às embaixadas no Brasil e no Peru, pedidos de intervenção junto a organismos internacionais e a políticos influentes. No Dia das Mães do ano passado, Zélia Bittencourt fez um apelo por escrito à presidente Dilma Rousseff, que acabara de ganhar uma neta da filha, Paula. Em troca, recebeu apenas respostas protocolares e nenhuma ação efetiva.

Até agora, não foi concluído nem o relatório da Fiscalía, misto de promotoria e delegacia de polícia, encarregada de investigar o caso no Peru. A grande dificuldade apontada pelos legistas no Peru e no Brasil, oficiais e independentes contratados pela família, é o estado de decomposição em que foram encontrados os corpos dos engenheiros, dias depois da morte em local de difícil acesso na selva peruana. Entre as causas aventadas para as mortes estariam asfixia ou envenenamento, mas autoridades peruanas consideram a hipótese de causa natural.

“Estou na fase de fazer as pazes com Deus. Conto com a ajuda da minha sogra, que é muito católica, mas não entendo por que Ele fez isso com o Mário, que rezava todos os dias antes de sair de casa e antes de dormir”, desabafa Fátima. Ela revela que, desde o desaparecimento do marido, não conseguiu retornar à fazenda onde recebeu a notícia, olhar os porta-retratos nem ouvir a coleção dos discos dos Beatles, especialmente a canção de que ele mais gostava de cantarolar: Let it be.



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