A coordenadora do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para a População em Situação de Risco, Soraya Romina, diz que os moradores de rua reclamam porque têm de cumprir regras e horários nos abrigos: “Quando as pessoas vão para as ruas, já romperam vínculos sociais e afetivos, se organizam em grupos com regras próprias. No abrigos e albergues, elas têm de seguir outras regras, por exemplo, não podem usar drogas e têm de seguir horários. Eles dizem que precisam de casa, de emprego. Reconhecemos a legitimidade do que eles apontam como necessidade para sair da rua”, diz Soraya.
Mantido pela Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social, o Serviço Especializado em Abordagem Social determina que técnicos busquem dialogar. “O primeiro desafio é construir um vínculo com a pessoa e conhecer sua história. O serviço vai fazer um projeto com ele para sair da rua. Depende do desejo dele, não podemos fazer a retirada compulsória das ruas”, explica Romina.
A partir da abordagem, o morador de rua pode ser encaminhado para um dos cursos de qualificação profissional oferecidos pela Secretaria Municipal Adjunta de Trabalho e Emprego e para vagas de emprego. “Quando a pessoa já está trabalhando, o técnico que a acompanha vai avaliar se ela tem condição de receber o bolsa-moradia, uma ajuda de custo de R$ 500 para o aluguel”.
Em relação aos furtos em abrigos denunciados por moradores de rua, Soraya diz que eles devem reclamar: “Não sabemos da existência desse problema. Se isso ocorrer, eles devem se queixar aos funcionários do albergue ou abrigo, que tentarão resolver o problema”.
Sobre o atendimento a dependentes de álcool e outras drogas, a Secretaria Municipal de Saúde disse, por meio de nota, que casos de desintoxicação em regime de urgência são feitos em serviço de pronto-socorro nos 6.187 leitos do SUS. São três centros de referência em saúde mental álcool e drogas (Cersam-AD), onde os pacientes ficam pelo tempo necessário até a estabilização. Nos quatro consultórios de rua, foram feitas 5,5 mil abordagens este ano, mas apenas 370 pacientes concordaram em receber acompanhamento individual. A capital conta também com 25 residências terapêuticas, que acolhem de seis a 11 pacientes rejeitados pelas próprias famílias. Não há informações sobre reinserção no trabalho, nem na família ou na escola.
EMPREGO Pesquisa feita pelo Ministério da Justiça em 2011 constatou que 80% dos usuários querem tratamento e 92% pedem apoio para conseguir emprego ou algum tipo de ensino para a inserção social. É o caso de Paulo Henrique, de 49 anos, que chegou à região da Lagoinha há cinco anos em busca de crack. “Em vez de investir em BRT (novo sistema de transporte coletivo), a prefeitura deveria investir em emprego.
Ele chegou à região há cinco anos em busca de crack e já se acostumou com as equipes da prefeitura: “Desta vez não levaram minhas coisas. Levaram as dos meus amigos. Mas é como se tivessem levado as minhas também”. Paulo diz que já tentou ficar em abrigos, mas não se sentiu confortável: “Nos abrigos recebemos comida e cama, mas sofremos muita humilhação, mandam a gente calar a boca. Não existe respeito lá”, completa.
Ao contrário da maioria das drogas, em que o usuário continua produtivo, o crack impede que o dependente químico trabalhe ou estude em curto espaço de tempo. “Por uma questão social ou da própria doença (a dependência química), o usuário de crack passa a viver em função do uso da pedra e o mais próximo possível do local onde ela é fornecida”, explica o promotor de Justiça de Defesa da Saúde de BH, Bruno Alexander Vieira Soares.