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Estado de Minas

Cenário de filme vira terror para moradores da Zona Sul de BH

Casas que serviram de cenário para o filme O Menino Maluquinho viram abrigo de criminosos e usuários de drogas, que ameaçam e atacam moradores e lojistas no Bairro Santo Antônio


postado em 27/09/2013 06:00 / atualizado em 27/09/2013 06:43

Casas na Rua Congonhas foram vendidas, mas ficaram sem proteção e acabaram invadidas e depredadas nos últimos meses(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
Casas na Rua Congonhas foram vendidas, mas ficaram sem proteção e acabaram invadidas e depredadas nos últimos meses (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)

 

A realidade na Rua Congonhas, entre as ruas Leopoldina e Santo Antônio do Monte, no Bairro Santo Antônio, Centro-Sul de Belo Horizonte, é bem diferente da que aparece nas cenas do filme O Menino Maluquinho, de 1995, baseado no livro do cartunista Ziraldo e dirigido por Helvécio Ratton. Quatro das 12 casas que serviram de cenário para o longa estão abandonadas e viraram ponto para usuários e traficantes de drogas e moradores de rua.

A invasão começou há quatro meses e desde então pelo menos 10 imóveis ao lado já foram arrombados e pessoas são assaltadas em plena luz do dia. As casas nos números 487 ao 579 são tombadas pelo patrimônio municipal e foram compradas pela construtora Canopus, que adquiriu outros imóveis no quarteirão para erguer um condomínio residencial de grande porte, preservando apenas as fachadas. Moradores e comerciantes estão com medo porque os imóveis não foram isolados e estão sendo depredados.

Helvécio Ratton lamenta o abandono das casas. “Procurei muito no Santo Antônio, Floresta, Santa Tereza e em outros bairros tradicionais um conjunto de casas para rodar um filme de época. Pintamos cada casa e os passeios de uma cor. Criamos um ambiente de histórias em quadrinhos e depois voltamos com as cores originais. Naquela época, a gente já percebia que se não houvesse o tombamento todas as casas iriam para o chão. Lamento porque Belo Horizonte está cada vez mais perdendo sua memória”, disse o cineasta.

Ziraldo espera a revitalização das casas: “Fico honrado em saber que a rua ficou famosa pelo filme. Vou ficar muito feliz se a construtora restaurar as fachadas e colocar o Menino Maluquinho nas janelas”.

Ontem à tarde, um casal aparentemente drogado ocupava a casa do número 487, onde funcionava a Boate Andaluz. O morador de rua Davidson Lopes Martins arrancava a fiação de cobre e disse ter autorização da antiga dona. “Eu dormia na varanda. Depois, a polícia estourou a porta para prender um cara que arrombou um carro na rua e correu para dentro da casa. Virou refúgio de bandido. Gosto de fumar crack, maconha, mas não mexo com ninguém”, afirmou.

Dentro do imóvel há lixo, as janelas foram quebradas e paredes e balcões revestidos com espelhos estão reduzidos a cacos. O lugar também serve de banheiro e o mau cheiro incomoda a vizinhança. A casa tem passagem para o imóvel ao lado, número 495, também invadido. No número 503, onde funcionava uma loja de roupas, as vidraças estão quebradas e é possível observar o luxo do seu interior com piso em madeira e janelões antigos.

 “As casas ao lado viraram moradia de mendigos, usuários de drogas, banheiro público. O cheiro é insuportável”, denuncia a secretária Soraia Lopes, da empresa Florescer Locações. A empresa foi arrombada e os ladrões levaram o televisor. “Ficamos abertos até as 19h e é um risco sair à noite. As ruas são escuras e os drogados se espalham”, disse. O gerente da empresa, Alexandre Pereira, critica a falta de policiamento, principalmente de madrugada: “A gente atende clientes à noite e tem medo de sair”. A Boate Revista Viva, o Bar Oficina de Ideias, o Restaurante Caçarola e uma academia de ginástica também foram arrombados.

EXPULSOS DO CENTRO

O dono do Caçarola, Jair Alves da Cunha, pôs grades por baixo do telhado para impedir a entrada dos ladrões. “É tudo crime encomendado. Eles só roubam TVs”, disse. O proprietário do Revista Viva, Eduardo Pereira, diz que os problemas começaram depois que prefeitura e PM expulsaram moradores de rua e dependentes de drogas do Centro, há quatro meses. “Eles se deslocaram para os bairros. Só que os bairros não têm policiamento e fiscalização como no Centro”, disse. Parte desses “invasores”, segundo ele, vive em barracas montadas nas ruas Viçosa, Leopoldina e Cristina.

 Dora Damasceno é dona de academia e afirma que alunos e funcionários são constantemente assaltados. “Levam tênis, levam tudo. Roubaram dois professores recentemente. Também arrombaram minha academia e levaram a TV”, disse.

Síndico de prédio recém-inaugurado, Cléber Moreira aponta insegurança também: “Os viciados ficam fumando crack na porta do prédio. Há 15 dias, precisei juntar o lixo na porta da casa em frente e botar fogo. O cheiro é insuportável. Entram homens e mulheres o tempo todo na casa. Eles atacam as pessoas em plena luz do dia para roubar, principalmente mulheres”. Com medo, ele vai reforçar a iluminação na entrada do prédio.

Cinco carros do 22º Batalhão da PM cercaram a casa número 487 na tarde de ontem, onde prenderam Davidson Lopes Martins por furto de cobre.

Segundo o sargento Gilsander, o policiamento na região é rotineiro e todas as denúncias dos moradores são atendidas. A diretoria do Patrimônio Cultural de BH e a Construtora Canopus foram procurados pela reportagem e não se manifestaram.


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