Juliana Ferreira
Três meses depois de a BHTrans ter concluído o processo de liberação de 528 táxis em Belo Horizonte, aumentando a frota em circulação para 6.576 veículos, as reclamações da população a respeito do número insuficiente de táxis continuamPara os usuários, a quantidade de veículos não tem condições de atender a demanda de quem necessita do serviço e o resultado é a demora em conseguir um táxi na hora em que é preciso.
É o caso da aposentada Lea Leda Schmidt Correa, que mora em uma rua afastada do Bairro São Lucas e depende dos taxistas para se locomover“Já perdi a conta de quantos concertos e apresentações teatrais perdi nas sextas e sábados por não conseguir um táxi para me levar”, contaDe acordo com Lea, nem mesmo as cooperativas conseguem atender os pedidos"Fico apreensiva quando saio à noite, sem saber como vou voltar para casaNão renovei a carteira para fugir do estresse do trânsito, mas entrei no estresse do táxiEsse é um grande problema atualmente”, diz.
A BHTrans não reconhece a falta de táxis, afirmando que não há dados que permitam fazer essa avaliaçãoPara o superintendente de regulação do transporte da empresa que gerencia o trânsito na capital, Sérgio Luís Ribeiro de Carvalho, “a demanda é dinâmica e influenciada pela mudança de hábitos da população”Ele acrescenta que por enquanto não há previsão para o aumento da frota de táxis e que isso só será avaliado depois da implantação do serviço de biometria nos veículos que prestam o serviço.
O equipamento biométrico foi implantado somente nos 528 táxis que entraram em circulação em 2013Nos demais veículos a instalação ainda não começouA biometria permite à BHTrans controlar o tempo de trabalho do taxista, o total de quilômetros percorridos por ele durante um dia de trabalho e outras informações a respeito do atendimento à população
De acordo com Sérgio Luís Carvalho, quando todos os táxis estiverem usando o sistema de biometria, será possível ter dados sobre a oferta e a demanda, para que o serviço seja melhoradoEle ainda destaca que a BHTrans tem a preocupação de manter a viabilidade financeira de quem explora o serviço"Temos que adequar a demanda sem perder de vista a viabilidade econômica", conclui.
NEM A TECNOLOGIA AJUDA
Enquanto a solução não vem, os passageiros reclamam e dizem que nem mesmo o uso da tecnologia consegue diminuir o tempo de espera por um táxi em BHO advogado Rômulo Martins baixou um aplicativo no celular que encontra táxis próximos ao passageiro, mas nem sempre há carro por perto“É muito difícilNa semana passada, não encontrei nenhum nas proximidades da casa de um amigoEle teve que me levar até um pontoÉ ruim porque pego muito táxi devido ao trabalho e para sair à noite, quando bebo”, relata.
Mesmo quem não é cliente assíduo encontra dificuldadesNem as vias movimentadas de BH escapam da escassez“Uma vez fui pegar um táxi na Avenida Getúlio Vargas para o trabalho e fiquei muito tempo esperando”, conta a auxiliar de dentista Fernanda Mendes Carvalho
O doutor em engenharia de transportes e diretor de consultoria da ImTraff, Frederico Rodrigues, percebeu o aumento de reclamações dos usuários, especialmente à noiteSegundo ele, com o maior rigor na fiscalização da Lei Seca, houve intensificação da demanda aos fins de semana“É preciso que a BHTrans faça um estudo para contrapor a oferta com o novo cenário de demanda e ver a necessidade de incremento do número de carros”, explica
Já o engenheiro e professor da UFMG especialista em transportes urbanos Ronaldo Guimarães Gouvêa sugere o licenciamento de veículos particulares para operarem nos fins de semana“Seria uma licença especialNota-se claramete que a frota está insuficienteE temos rigidez no modo operacional, pois só temos o táxi convencional.”Gouvêa diz que a BHtrans controla a frota para viabilizar uma renda média aos taxistas“A demanda oscilaSe encontrarmos alternativas, poderia atender melhor a população”, diz.
REFORÇO NA FROTA
Na semana passada, a BHTrans cedeu à pressão dos donos de táxis acessíveis e autorizou corridas com passageiros que não têm deficiência física ou mobilidade reduzidaA mudança na portaria foi publicada no Diário Oficial do Município (DOM) e diz que os veículos licenciados para o serviço não são mais exclusivos entre as 7h e as 19hOs passageiros deficientes têm prioridade nesse período do dia, mas, caso não haja procura, os taxistas podem atender outros usuáriosCom isso, os 58 táxis especiais agora podem transportar todo tipo de passageiro.
A alteração fica em vigor por seis meses, tempo para que a BHTrans possa monitorar as corridas e entender onde está o público-alvoSegundo Sérgio Luiz Ribeiro de Carvalho, a decisão foi tomada depois que várias empresas entraram na Justiça pedindo para operar também como táxi convencional“O serviço foi criado agora e não atingiu a maturidade esperadaOs taxistas têm alegado que não há corrida suficiente”, conta.
MÉDIA IDEAL
Especialistas em transporte público urbano costumam usar um parâmetro internacional que aponta a média de um táxi para cada grupo de 300 habitantes de uma cidade como a ideal para o atendimento da demanda da população por este tipo de serviçoEm Belo Horizonte, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualizados em agosto, a população soma 2.479.175 pessoasDividindo-se este número pelos 6.576 táxis em circulação na cidade, a proporção é de um táxi por grupo de 377 moradores, bem abaixo da média considerada a ideal pelos especialistasEm comparação com outras capitais, a média de BH está abaixo do Rio de Janeiro (um táxi para 198 habitantes), São Paulo (um táxi para 332 moradores), Recife (um táxi para 251 habitantes) e Porto Alegre (um táxi para 359 moradores)A maior frota de táxis do país é a de São Paulo, com 33,8 mil veículosEm seguida, vem o Rio de Janeiro, com 31,8 mil carros.