O senhor estava ocupando a Presidência do CRM-MG pela terceira vez. Foi o primeiro a abandonar o cargo desde a criação da entidade. Foi difícil tomar essa decisão?
Foi muito difícil renunciar. Minha pressão subiu, tive diarreia, não dormi direito, perdi o apetite. Mas vi que não teria alternativa. Decidi renunciar na sexta-feira, quando soube que o oficial de Justiça havia ido ao conselho entregar a intimação. Eu não estava lá e, quando me disseram que ele havia ido, pensei: “Bom, correr dele não vou. Assinar a intimação também não. Mas, se eu não assinar, o conselho vai levar multa diária de R$ 10 mil” (penalidade está prevista na decisão que concedeu antecipação de tutela à Advocacia Geral da União).
O senhor recebeu críticas por ter renunciado?
Por que o senhor é contrário ao programa?
Conheço o interior de Minas como a palma da minha mão. Na cidade onde não há médico as condições de trabalho são muito precárias. O médico não tem como pedir exames, tem dificuldade para conseguir medicamento, para encaminhar paciente para consulta especializada ou internação. Se não resolver o problema dessa estrutura, não adianta ter médico. Ele vai atender dor de cabeça, diarreia, verminose, só vai atender bobagem. Há pouco dinheiro federal destinado à saúde. Municípios que vivem de pires na mão não dão conta de bancar. O programa deveria estudar a condição de cada cidade e buscar construir uma estrutura de saúde.
Na decisão de agosto, o juiz Ribeiro afirmou que “ser atendido pelo médico intercambista, cuja revalidação do diploma foi dispensada” é melhor do que “continuar sem assistência alguma”. O senhor concorda?
É claro que é melhor. Se não tem ninguém, ter um é bom. Mas o médico poderia fazer muito mais com uma estrutura adequada. Ele vai gerar despesa e não vai render tudo o que pode. Como um carpinteiro vai trabalhar sem uma oficina? É um programa que não muda quase nada. Isso o tempo vai mostrar, os indicadores não vão melhorar. O governo está fazendo uma coisa irresponsável. Esse programa é puramente eleitoreiro, para conseguir votos da população. Não dura três anos. Vocês vão ver o tanto de denúncias que vão ocorrer em relação a esses médicos.