Jornal Estado de Minas

Bairro de Lourdes fica dividido sobre mendigos

Medidas adotadas por associação para evitar morador de rua na região recebem críticas de outras entidades

Muitos moradores reclamam do incômodo gerado por mendigos que costumam ocupar a Praça Marília de Dirceu - Foto: ANGELO PETTINETI/ESP. EM/D.APRESS

 

A decisão da Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Amalou), Centro-Sul de BH, de adotar uma série de medidas para evitar mendigos, principalmente na Praça Marília de Dirceu, provocou reações diversas de outras entidades, inclusive da própria região, para as é necessário cobrar providência do poder público para o problemaA orientação da Amalou é para que moradores e comerciantes não deem agasalhos e alimentos e ponham o lixo na rua só na hora da coletaAlém disso, o presidente da entidade, Jeferson Rios, disse, na terça-feira, que foram colocados mais esguichos de água na praça, que são ligados quando há mendigos.

A presidente da Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Pró-Lourdes), Lúcia Pinheiro Rocha, disse ser contra a medida adotada da Amalou, que representa o comércio e condomínios e cuida da praça“É, no mínimo, anticonstitucional, para não falar em injusto e imoralRepudiamos essa atitude de enfrentamento dos moradores de rua”, disse.

Dono de três restaurantes na região, o diretor da Regional Lourdes da Associação de Bares e Restaurantes de Minas (Abrasel-MG), Leonardo Marques, também desaprova as medidas: “Não dou dinheiro a morador de rua, mas não nego um prato de comida a ninguém”.

A situação dos moradores de rua deve ser resolvida pela prefeitura, segundo a presidente da Associação dos Comerciantes da Savassi, Maria Auxiliadora Teixeira de Souza“Não vai ter o resultado que eles queremA solução deveria vir da prefeitura para criar abrigos e levar os moradores de ruaO que me preocupa é que no meio desses moradores de rua tem bandido infiltrado, respondendo a processo”, disse

“É uma praça de Belo Horizonte, motivo pelo qual todas as pessoas que residem nesta cidade, sejam em vulnerabilidade social ou não têm o direito de ir e vir naquele espaço, que é público”, afirmou a coordenadora do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Municipal para a População em Situação de Rua, Soraya RominaA praça é pública e quem faz a manutenção é a prefeituraNós, o poder público municipal, não demos nenhuma autorização ou entendimento no sentido de instalação de esguichos”, disse.

ABRIGO

Soraya alega que a PBH não pode  recolher moradores de rua à força e levá-los para abrigo, o que caracterizaria crime de sequestro

O albergue mais próximo da Praça Marília de Dirceu fica na Rua Conselheiro Rocha, no Bairro Floresta, Leste, que oferece pernoiteO albergue abre às 17h e a pessoa pode ficar até a manhã seguinteHá também os abrigos São Paulo e Pompéia que acolhem durante todo dia e à noite, mas com encaminhamento via serviço de abordagem social.

“A pessoa pode ir, tomar banho, jantar, dormir, tomar café no outro dia e volta para a rua, vai para o trabalho ou onde achar que deveNo entanto, as pessoas em situação de rua têm dificuldade em aceitar uma oferta de acolhimento institucional e de obedecer regras”, disse Soraya

O presidente da Amalou, Jeferson Rios, negou ontem que tenha orientado jogar água nos mendigos“A gente usa a mangueira para lavar a sujeira que eles deixam, pede por favor para eles saiam dos bancos para a gente lavarEles deixam alimentos espalhados e não respeitam o meio ambiente”, disse JefersonNa terça-feira, entretanto, o dirigente afirmou ao EM que havia foram colocados esguichos na praça para que fossem ligados no início e no fim do dia para que mendigos saíssem da praça,

Rios informou que a população de rua aumentou na praça depois que uma liminar da Justiça proibiu prefeitura e a polícia de recolher pertences deles“Eles deixam cobertores e outros pertences na praça a gente recolher”, afirmou.