As medidas adotadas pela Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Amalou), na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para evitar a presença de moradores de rua na Praça Marília de Dirceu podem provocar uma mobilização com efeito contrário. Convocado por redes sociais, um piquenique em repúdio às iniciativas deve ocorrer no espaço, tendo como principais convidados os próprios sem-teto. A orientação da Amalou para que moradores e comerciantes não deem agasalhos e alimentos aos mendigos e de ligar os esguichos na praça quando eles estiverem no local provocou reações em diversas entidades e também do poder público.
O presidente da Amalou, o empresário Jeferson Rios, afirma que pretende comparecer ao evento e diz estar sendo mal interpretado. “Aumentamos os esguichos de dois para quatro devido ao período de seca”, disse. Ele admite que considera os mendigos um problema para o bairro e diz que a população de rua aumentou depois da liminar que proibiu a Prefeitura de Belo Horizonte e a PM de recolher pertences dos moradores de rua. “Eles vão para a praça, levam seus colchões, deitam na grama e fazem a maior sujeira. Quando o jardineiro chega, às 7h da manhã, é rotina dele aguar o jardim. Nessa hora, o jardineiro pede licença aos mendigos e eles saem sem discussão e vão dormir nos bancos”, disse Jeferson.
Porém, em entrevista ao Estado de Minas na terça-feira o presidente da associação afirmou que haviam sido instalados esguichos na praça para que fossem ligados no início e no fim do dia, com o objetivo de inibir a presença de mendigos.
Limpeza
Quando acaba de molhar as plantas, por volta das 8h30, segundo o presidente da Amalou, o jardineiro limpa a sujeira deixada pelos moradores de rua. “Eles fazem suas necessidades fisiológicas na praça e deixam seus pertences espalhados. O jardineiro precisa lavar a praça, inclusive os bancos, porque as crianças, com babás e idosos, começam a chegar nesse horário”, argumentou ontem Jeferson, lembrando que o funcionário contratado pela Amalou recolhe os pertences dos mendigos e os deixa guardados num canto por até dois dias. “Eles falam que não precisam mais dos cobertores, pois vão ganhar outros novos”, disse.
Segundo o presidente da Amalou, a associação mantém um trabalho social em uma creche do Bairro Santa Maria, na Região Oeste de BH, para onde são levadas doações de moradores e comerciantes do Lourdes, semanalmente. “Depois que tomamos essa medida de pedir aos moradores e comerciantes que não doem agasalhos e alimentos aos moradores de rua, mas à creche, diminuiu a quantidade de mendigos na região”, disse o empresário.
A medida, segundo ele, visa a forçar a população de rua a procurar os serviços oferecidos pelo município, como albergues. “Eles não vão para os abrigos, porque não gostam de cumprir regras, querem continuar tomando bebida alcoólica e não gostam de acordar cedo”, disse o presidente da Amalou. Segundo os organizadores do piquenique, o problema vai além. “O caso não se baseia somente na presença de moradores de rua em determinada região, mas sim dos direitos que estão sendo violados.”