Jornal Estado de Minas

Lobo-guará preto aparece em reserva ambiental no Norte de Minas Gerais

A lenda do lobo-guará preto se revelou realidade. Um animal que vivia apenas no imaginário das comunidades rurais de Chapada Gaúcha e Urucuia, no Norte de Minas, finalmente apareceu. Nunca visto ou registrado em nenhum local do mundo, o lobo não é conhecido por pesquisadores nem citado em bibliografias de biologia. "Ele tem a morfologia da espécie, pernas longas e finas, orelhas grandes. Só não tem a coloração. Não há outro canídeo parecido com ele. Não há dúvidas de que se trata de um lobo-guará diferente", conta Guilherme Ferreira, biológo do Instituto Biotrópicos, que capacitou três funcionários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari a usar armadilhas fotográficas, acionadas automaticamente quando passa um animal.



A unidade de conservação é gerida pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG) e engloba área de 60 mil hectares, onde vivem animais raros e desconhecidos. Segundo Guilherme, o Norte de Minas tem muitas áreas isoladas e de difícil acesso que ainda precisam ser estudadas. Desde que as câmeras foram instaladas em pontos estratégicos da reserva, várias espécies ameaçadas mostraram que ainda vivem em segurança ali.

Até mesmo o lobo-guará, que é o maior representante da família de cães na América do Sul e já foi bem pesquisado no país, conseguiu surpreender os especialistas. Ele pesa de 20 a 30 quilos e é típico do cerrado, onde se alimenta de frutos e pequenos animais. Seu nome tem origem justamente na coloração laranja-avermelhada. O termo guará é indígena e significa vermelho. Mas a partir de agora, é possível dizer que há pelo menos uma variação do lobo. "Isso mostra o tanto que temos para conhecer ainda. O Sudeste é uma região bem estudada, mas o desconhecido ainda existe. A descoberta mostra a importância dessas áreas, esquecidas e distantes de Belo Horizonte, que têm uma função importantíssima na conservação da biodiversidade", explica Guilherme.

GENÉTICA O trabalho de registro fotográfico continuará nos pontos estratégicos por mais algum tempo, para que os institutos analisem com qual frequência esse lobo aparece. Um estudo mais elaborado deve ser iniciado no ano que vem. A expectativa é extrair das fezes do animal informações genéticas para compreender o que provoca a coloração diferenciada.

O gerente da reserva e funcionário do IEF-MG, Cícero de Sá Barros, conta que desde a instalação das câmeras, animais de grande porte foram registrados na área, como antas, onças-pardas, jaguatiricas, gatos- do-mato, tamanduás-bandeiras e veados-campeiros. "Foi uma surpresa muito grande. Vários animais que acreditávamos não mais existir foram identificados", diz. A reserva, que durante a década de 1970 e 1980 foi usada para agricultura, existe desde 1999. Em 2003, foi decretada região de desenvolvimento sustentável, a única no cerrado em Minas Gerais.



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