“Minha vida é esta: subir Bahia, descer Floresta”. A célebre frase do cronista e compositor mineiro Rômulo Paes deixou de ser apropriada para motoristas que circulam no Centro de Belo Horizonte. A via, percorrida de ponta a ponta sem restrições, está agora segmentada em três partes. Considerada uma das mais radicais já implantadas na região, a nova circulação começou no sábado e causou transtornos e confusão no primeiro dia útil ontem. O objetivo da BHTrans é buscar um rumo para o trânsito que se enquadre no funcionamento do transporte rápido por ônibus (BRT), uma das apostas para melhorar a mobilidade urbana numa das áreas mais conturbadas da cidade.
Cerca de 60 mil pessoas passam de carro e de ônibus diariamente entre as 8h e as 18h, no trecho da Rua da Bahia com Guaicurus. Os primeiros dias com a nova circulação exigem atenção e mudança de hábito de motoristas e pedestres. Até que todos se acostumem, quem passa pelo Centro fica perdido à procura da melhor direção.
No teste de ontem em meio ao trânsito pesado, as mudanças foram sinalizadas com cones e faixas. Nos próximos dias, os trechos receberão obras para implantação de baias com os limites de acesso. Agora, quem vem da Avenida do Contorno só pode seguir na Bahia até a Rua dos Guaicurus, onde houve interdição. Os motoristas que quiserem continuar pela Bahia são obrigados a entrar na Avenida dos Andradas, virar à direita na Caetés (que tem novo sentido de circulação) e assim retornar à Bahia. No intervalo entre Guaicurus e Caetés, só passam quem que vem da Contorno, Andradas e do Bairro Floresta e quer acessar a Avenida Amazonas, sentido Praça Sete.
Com trânsito intenso e motoristas desorientados, houve confusão. Pedestres se arriscaram no meio dos carros à procura dos novos pontos de ônibus, e motociclistas furaram bloqueios no entorno da Praça da Estação. O tráfego mais lento do que o habitual formou filas que se estenderam pelas avenidas Antônio Carlos, Cristiano Machado, Andradas e Contorno. Pedestres, carros, placas temporárias e obstáculos físicos implantados pela BHTrans se misturaram no trecho, causando a impressão de confusão.
“São alterações profundas e de alto impacto porque apresentam mudanças conceituais na circulação do Centro. As pessoas terão de reaprender a andar nessa região”, afirmou o gerente de Simulação de Tráfego e Programação Semafórica da BHTrans, Marcos Antônio de Oliveira.
Até sábado, o motorista que quisesse percorrer a Rua da Bahia poderia sair da Contorno, ao lado da Praça Rui Barbosa, no Centro, e seguir até o limite dos bairros Funcionários e Santo Antônio, também na Contorno. As mudanças no Centro, não se resumem à Bahia. No último sábado também começou a funcionar um novo esquema de circulação na Avenida dos Andradas. Dois tempos de semáforos foram eliminados na via, com o objetivo de acelerar o fluxo no local.
ALTERNATIVAS
Quem quiser se livrar da confusão do trânsito na Bahia pode usar rotas alternativas. Quem sai da Floresta e segue para a Savassi tem a opção de passar pela área hospitalar, no Bairro Santa Efigênia. Mas quem vem da Contorno com o mesmo destino não tem muitas opções. O mais recomendável é passar pela Andradas, seguir até a Carijós e retornar à Bahia. Já quem segue pela Andradas, no sentido Sabará/Centro de BH, pode sair da Andradas na altura do viaduto da Avenida Francisco Sales, pegar a Avenida Alfredo Balena e seguir pela Afonso Pena até chegar à Praça Sete.
As mudanças dividem especialistas. Para o doutor em engenharia de transportes e diretor de consultoria da ImTraff, Frederico Rodrigues, elas foram positivas por reduzir estágios de semáforos, criar novas faixas de pedestre e priorizar o transporte coletivo.
Por outro lado, o consultor em transporte e trânsito Osias Baptista entende que as intervenções deixam a população apreensiva porque são feitas em meio a um canteiro de obras e sem a certeza de um plano definitivo para o Centro.