Mariana – Primeira vila, diocese, cidade e capital de Minas. Batizada com nome de uma rainha –homenagem a Maria Ana d’Áustria, mulher de dom João V, que reinou em Portugal de 1706 a 1750 –, Mariana, na Região Central de Minas, guarda outro pioneirismo na sua história: tem a primeira catedral do interior do Brasil. Com início da construção em 1713, a Basílica de Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida como Catedral da Sé, no Centro, vai comemorar o seu tricentenário do início de sua construção a partir do dia 20, com missas, apresentações culturais, vigílias, visitas guiadas de estudantes, exposições e outras atividades. “Ela marca o início da evangelização em nossa arquidiocese, que engloba 79 municípios”, diz o titular da paróquia, padre Nedson Pereira de Assis.
Um ponto alto da celebração oficial dos 300 anos será dia 24, quando o arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha, ao lado de autoridades e fiéis, receberá o núncio apostólico (embaixador do Vaticano) dom Giovanni D’Aniello. Às 18h30, haverá celebração eucarística em ação de graças presidida pelo núncio e concelebrada por arcebispos, bispos e sacerdotes. No dia 27, às 17h30, terá início a procissão com a primitiva imagem de Nossa Senhora da Conceição, saindo da Capela de Santo Antônio em direção à Praça da Sé. Na chegada, haverá coroação de Nossa Senhora. A catedral basílica é tombada desde 1939 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Segundo estudiosos, o início da construção se deu em 1709, mas a comissão organizadora dos festejos se baseou nas pesquisas do historiador mineiro Diogo de Vasconcelos (1843-1927), para quem o ano correto é 1713. Olhando o interior do templo, que será restaurado, a partir de 2014 – com verba de R$ 18 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas para serviços na estrutura, cobertura, elementos artísticos, parte elétrica e outros – padre Nedson diz que as paredes são de taipa e os pilares de madeira. São 11 altares, sendo o de Nossa Senhora da Conceição executado pelo português José Coelho de Noronha (1704–1765), mestre de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730–1814). Já os dois retábulos do cruzeiro, consagrados a Nossa Senhora do Rosário e São Miguel, sofreram influência dos que foram executados, em 1746, para a Basílica de Nossa Senhora do Pilar, na vizinha Ouro Preto, pelo português Xavier de Brito, falecido em 1751.
MARCO
Na sua casa, na Rua Direita, o historiador e integrante do Coral Madrigal Mariana Rafael Arcanjo Santos guarda uma série de documentos sobre a igreja que fica a poucos metros. Com orgulho, ele cita momentos importantes dessa história, como o ano de 1906, quando Mariana se tornou arquidiocese, também a primeira do estado; e 16 de julho de 1961, ao ser elevada a catedral, por determinação do papa João XXIII, à categoria de basílica menor. “Era criança, mas me lembro bem, pois a imagem original de Nossa Senhora Aparecida veio de Aparecida (SP) para a solenidade presidida pelo arcebispo dom Oscar de Oliveira. Foi uma festa bonita”, recorda-se.
Rafael ressalta que, da Arquidiocese de Mariana, saíram dois ex-presidentes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): dom Luciano Mendes de Almeida (1930–2006) e o atual arcebispo, dom Geraldo Lyrio Rocha. “O presidente da CNBB e bispo de Aparecida, dom Raimundo Damasceno, estudou no seminário de Mariana”, afirma.
Outro marco é o órgão musical da catedral, construído no século 18, em Hamburgo (Alemanha), por Arp Schnitger (1648-1719). Enviado a uma igreja franciscana em Portugal, o instrumento chegou ao Brasil em 1753, como presente da Coroa portuguesa ao primeiro bispo da cidade, dom Frei Manoel da Cruz. Entre os exemplares sobreviventes da manufatura Schnitger, trata-se de um dos mais bem conservados e o único que se encontra fora da Europa. Os concertos ocorrem às sextas (11h30) e domingos (12h15) a cargo das organistas Josinéia Godinho e Elisa Freixo, que se revezam nas apresentações.
Patrimônio erguido em taipa e madeira
A história da catedral começa em 1704, quando bispo do Rio de Janeiro, dom Frei Francisco de São Gerônimo, com jurisdição sobre Minas, cria a paróquia – nessa época, havia no arraial apenas as capelas de Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora da Conceição. Três anos depois, ocorreu a instalação da matriz, transferida da Igreja do Rosário Velho (atual Capela de Santo Antônio) para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, por oferecer mais espaço e estar no centro urbano que não parava de crescer.
Após a criação da Vila do Ribeirão do Carmo (nome primitivo de Mariana), em 8 de abril de 1711, a coroa portuguesa determinou que a câmara se empenhasse na construção da matriz. Em 14 de maio de 1714, os “notáveis” da Vila do Carmo se reuniram para garantir os recursos. A obra é confiada ao mestre Jacinto Barbosa Lopes, então vereador da câmara. Padre Nedson conta que, em arquivo do Legislativo, está um documento datado de 1716, convidando o mestre “a vir concluir as obras da matriz” comandadas pela Irmandade do Santíssimo Sacramento.
Entre 1716 e 1718, foram concluídas as obras da matriz, n o sistema construtivo de madeira e taipa. Em 1734, a igreja foi alvo de uma intervenção radical: a reedificação arrematada pelo pedreiro Antônio Coelho da Fonseca, sendo, nesse período, incluída no projeto a divisão em três naves e concluídas a fachada e as torres. Doze anos depois (1745) o rei de Portugal, dom João V elevou a vila do Ribeirão do Carmo à categoria de cidade, dando-lhe o nome de Mariana. Em 6 de dezembro daquele ano, pela bula Candor Lucis Aeternae (Resplendor da luz eterna) do papa Bento XIV, é criada a diocese de Mariana, a primeira do interior do país e primaz de Minas. Os retratos antigos ajudam a contar a história, com o registro, do início do século passado, quando ainda havia a Capela do Senhor dos Passos.
Saiba mais
Sede oficial da arquidiocese
Catedral
A palavra vem do latim ecclesia cathedralis e designa a igreja que tem a cátedra oficial do bispo de onde, simbolicamente, ele exerce a tríplice missão de pastorear, santificar e ensinar. É, portanto, a sede de uma arquidiocese. Na Europa, as universidades nasceram nas catedrais.
Basílica
De origem grega, a palavra deriva de basileus que significa reis. Na pérsia, os soberanos recebiam os súditos em salas enormes que se chamavam basílicas ou salas do Rei. A partir do século V, cresce o número dos cristãos e para receber os fiéis em orações ou celebrações, começaram a construir grandes templos aos quais deram o nome de basílica. No mundo, as basílicas maiores são quatro: as de São Pedro, São Paulo, Santa Maria Maior e São João de Latrão. Todas as demais basílicas no mundo são chamadas basílicas menores.
Dia 20
19h– Abertura das festividades e consagração das famílias a Nossa Senhora
20h – Recital A Catedral em prosa e verso
Dia 21
6h30 –Celebração eucarística e confissões
9h e 14h – Visita monitorada à catedral dos alunos das escolas públicas e particulares
18h30- Celebração eucarística na catedral
20h- Vigília eucarística em favor da arquidiocese e das dioceses desmembradas de Mariana
Dia 22
6h30 –Celebração eucarística e confissões
9h e 14h – Visita monitorada à Catedral
18h30min- Celebração Eucarística em intenção dos bispos e arcebispos da arquidiocese, presidida pelo arcebispo dom Geraldo Lyrio Rocha
19h30 – Lançamento de selo comemorativo
20h – Abertura da exposição Tesouros da Catedral e inauguração dos quadros de dom Silvério e dom Helvécio, compondo a galeria dos arcebispos
Dia 23
6h30 –Celebração eucarística e confissões
9h e 14h – Visita monitorada à Catedral
18h30 – Celebração eucarística na intenção de todos os padres que trabalharam na paróquia da catedral
19h30 – Abertura da exposição fotográfica A Catedral: 300 anos comunicando a imagem do sagrado (Rua Direita, nº50 –Casa do Barão de Pontal)
Dia 24 – Celebração oficial do Tricentenário da Catedral Basílica
6h30 –Celebração eucarística e confissões
15h – Recitação dos mistérios gloriosos
18h –Recepção do núncio apostólico dom Giovanni D’Aniello por autoridades civis, religiosas e fiéis. Descerramento de placa comemorativa
18h30 – Celebração Eucarística em ação de graças presidida por dom Giovanni D’Aniello e concelebrada por arcebispos, bispos e sacerdotes
Dia 25
7h –Celebração eucarística e confissões
15h – Hora Santa na catedral e confissões
18h30 – Celebração eucarística em intenção de todas as paróquias da Arquidiocese de Mariana
20h: Conferência Esclarecimentos históricos sobre a arte e os elementos construtivos da tricentenária catedral, pela professora Adalgisa Arantes Campos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Dia 26
6h30 –Celebração eucarística e confissões
15h e 19h – Celebração eucarística
20h – Apresentação do coral Família Alcântara de João Monlevade
Dia 27
7h –Celebração eucarística na catedral e na Igreja de Nossa Senhora Aparecida
10h –Celebração eucarística e apresentação do restauro do relógio da catedral
17h30 –Início da procissão com a primitiva imagem de Nossa Senhora da Conceição, saindo da Capela de Santo Antônio em direção à Praça da Sé. Na chegada, haverá coroação da imagem de Nossa Senhora e celebração eucarística presidida pelo arcebispo dom Geraldo Lyrio Rocha