(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Prefeituras mineiras "cochilam" enquanto a chuva chega ao Estado

Com temporais batendo à porta, só 10 das 853 cidades de Minas enviaram à Defesa Civil estadual planos contra tragédias. Faltam também órgãos municipais de prevenção e até interesse para receber alertas do radar meteorológico


postado em 11/10/2013 06:00 / atualizado em 11/10/2013 07:28

O tempo fechou e basta olhar para o calendário para saber por quê: a temporada chuvosa chegou a Minas, mas, mesmo com os mapas climatológicos prevendo temporais com volumes 40% acima da média histórica, não são poucas as cidades mineiras que parecem desinteressadas de ações de prevenção a desastres. Basta dizer que, dos 853 municípios notificados para que enviassem seus planos de contingência à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), apenas 10 – o que representa 1,17% do total de prefeituras – remeteram os documentos que preveem medidas preventivas e emergenciais frente a tragédias causadas pela chuva. Uma falta de sintonia relacionada também à desorganização ou completa ausência de órgãos municipais de Defesa Civil. Em 140 cidades, ou 16% do estado, essas estruturas nem sequer existem. Em parte daquelas que têm suas coordenadorias implantadas, são recorrentes as deficiências de infraestrutura e de pessoal qualificado. Como se não bastasse, outro indicativo da falta de interesse com a prevenção está retratado no cadastro para recebimento de informações do radar meteorológico do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). O sistema que envia alertas por e-mail e mensagens de celular advertindo sobre a chegada de tempestades ainda não tem a inscrição de 27% das cidades que poderiam ser beneficiadas.

A orientação para que os governos municipais se adiantem em prevenir e dar respostas aos transtornos provocados pela chuva serve para que as cidades mapeiem quais são as áreas de risco para alagamentos, deslizamentos e inundações. Além disso, funciona para que se organizem, listando locais que possam servir de abrigos, apontando a capacidade de atendimento local e estabelecendo com qual efetivo de funcionários o município poderá contar. A emissão do documento à Cedec não é obrigatória, mas submeter o plano ao órgão estadual pode ajudar na correção de possíveis erros ou em ajustes necessários, além de auxiliar o próprio estado a se preparar para o socorro. Até Belo Horizonte está fora da lista dos municípios que encaminharam seus planos à Cedec, mas o coordenador municipal da Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, garante que o documento está pronto e que será enviado ainda hoje ao governo do estado.


“Apesar de orientarmos os governantes e de tentar sensibilizá-los para a criação do plano, a grande maioria não o faz”, constata o chefe do Gabinete Militar do governo do estado e coordenador da Cedec, coronel Luis Carlos Dias Martins. Segundo ele, as prefeituras têm a cultura de se preocupar com o período chuvoso somente quando já está chovendo, mas isso precisa ser feito durante todo o ano. “Nos preocupa muito o fato de a maioria não ter se planejado e é certo de que teremos problemas, porque a previsão é de muita chuva em um cenário de muita ocupação desordenada e obras irregulares”, afirma. O coronel ainda destaca que nem todas as cidades se antecipam em ações como obras de infraestrutura e limpeza de córregos. “Comunidades situadas em locais de risco continuam sujeitas a alagamentos ou deslizamentos de encostas”, adverte.

PREVISÃO

Mapas climatológicos preveem intensidade maior de chuva nas regiões Sul, Oeste, do Triângulo Mineiro, do Campo das Vertentes e em parte da Zona da Mata. Essas áreas estão na rota da Zona de Convergência do Atlântico Sul, que transporta a umidade que vem da Amazônia rumo ao oceano. “As frentes frias que passam por Minas serão mais intensas nessas áreas, que vão estar sujeitas a um risco maior de alagamentos e inundações”, explica o meteorologista do Climatempo  Ruibran do Reis.

O alerta foi dado em cerimônia oficial de lançamento do plano estadual de prevenção à chuva, no dia 1º, mas a maioria dos prefeitos mineiros nem sequer estavam presentes. Representantes de apenas 90 dos 853 municípios compareceram, o que para o coronel Martins soa como uma atitude de comodismo. “Não vieram e não mandaram seus representantes. Isso porque sabem que, diante de um desastre, terão toda a estrutura do estado como suporte”, critica. Na Cidade Administrativa, o governo montou uma sala de crise, mantida com plantão 24 horas para atendimento em casos de desastres. Emergências podem ser relatadas pelo telefone (31) 3915-9000.

Entre as cidades que ainda não estruturaram por completo sua Defesa Civil está Itaguara, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, na região metropolitana. O coordenador da pasta está há uma semana no cargo, em um município que está com seu plano de contingência das chuvas desatualizado. Segundo funcionários da prefeitura, o documento mais recente é da estação 2009/2010 e falta pessoal para a elaboração de novo projeto. A equipe municipal é composta por quatro pessoas: além do coordenador há uma secretária, um funcionário operacional e uma arquiteta para cuidar de uma área de 410 quilômetros quadrados, superior à da capital (330 km2).

O coordenador Fernando Pinheiro Moreira reconhece que não é fácil fazer o trabalho com poucas pessoas e pouca verba, mas garante que consegue visitar os locais onde houver demanda em curto espaço de tempo. “Sempre faço as vistorias assim que sou chamado para um determinado local com problema”, diz. Ele afirma que ao longo de 2013 foram desenvolvidos alguns trabalhos em áreas de risco para minimizar a possibilidade de deslizamentos. Na cidade, o principal ponto de inundação é o entorno da ponte sobre o Ribeirão Conquista, perto de várias casas no Centro da cidade.

Em Nova Lima, que historicamente sofre com deslizamentos e inundações, a situação é diferente, mas também há problemas. Apesar de contar com o apoio de outros setores da prefeitura, a equipe de Defesa Civil treinada tem apenas cinco funcionários – um coordenador e quatro técnicos – para os 428 km2 do município. A população é de 81 mil pessoas e os problemas são muitos na cidade, que também não enviou seu plano preventivo ao estado. “Temos muitas obras irregulares e casas construídas em áreas de risco. Nos últimos três anos, emitimos cerca de 700 laudos para que moradores fizessem adequações. A grande maioria não faz”, garante o coordenador municipal de Proteção e Defesa Civil, tenente Luzmar Guimarães Rocha. Segundo ele, sete funcionários serão contratados nos próximos dias para reforçar o efetivo do órgão.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)